04/Sep/2025
Segundo o Itaú BBA, os produtores de grãos terão menor rentabilidade na safra 2025/2026. Após uma colheita recorde em 2024/2025, com elevada produtividade das lavouras, e preços menores em reais, a temporada atual deve ter leve crescimento na área plantada, que começa a ser semeada neste mês, mas queda nas margens. É um cenário mais desafiador ao produtor, em virtude da combinação de uma relação de troca mais apertada, preços estáveis de commodities, juros elevados e maior alavancagem. É um ano para ser atravessado. Não é um ano de recomposição de capital ou de grandes resultados. Nesta conjuntura de margens baixas, a cautela tende a predominar nas decisões de plantio e investimento do produtor nas lavouras. Pode haver redução no pacote tecnológico aportado no campo, como uma redução na aplicação de fertilizantes, dado o menor poder de compra dos produtores. Não se prevê uma grande disruptura, mas no geral será uma safra de queda de rentabilidade.
O momento é de ‘vale’ da remuneração do produtor de grãos, mas o consumo de grãos para ração e combustível no médio prazo deve ter boa demanda na ponta e ajuste de preços. Há exceções, contudo, como no caso do café, que vive momento de preços remuneradores e alta rentabilidade, com incentivo para a expansão. A tendência é que o produtor opte pela priorização do custeio da safra, com investimentos em bens de capital em segundo plano no ciclo atual. Será um ano-safra de investimento pontual em máquinas agrícolas dado o endividamento acumulado dos produtores e a elevação da taxa de juros. Para quem está com alavancagem adequada, será uma ano-safra de pagamento de parcelas e não novos investimentos. Houve investimento representativo em maquinário nos últimos anos e nesta safra produtor tende a digerir os investimentos. Está descartada também uma queda significativa nas vendas de máquinas e equipamentos, como a de quase 30% registrada em 2024.
Por outro lado, há perspectiva de reciclagem de ativos com renegociações de terras entre produtores, movimento puxado por aqueles que não expandiram a área nos ciclos anteriores e veem oportunidades de aquisição de áreas. A maior parte das decisões quanto ao pacote tecnológico e a área a ser cultivada na safra já foi tomada pelos agricultores. Em cenário de relação de troca apertada, temos que estimular produtores a travar a margem de lucro para que ainda seja uma safra de lucratividade e fazer gestão de fluxo de caixa. Neste ano, há variação do dólar superior a 10% e preços de milho com variação de 30%, não medir riscos e travar margem pode levar o que seriam margens menores a prejuízo. Apesar do cenário pouco mais adverso de apetite cauteloso dos produtores por recursos para investimento, o Itaú BBA projeta crescimento de cerca de 10% na carteira de crédito ao setor agropecuário no ano-safra. O desempenho deve ser puxado pelos setores de etanol de milho, café e pecuária, que vivem bons momentos de rentabilidade e expansão. Até dezembro, sua carteira deve alcançar R$ 132 bilhões.
Os produtores que faturam acima de R$ 5 milhões ao ano atendem 40% da carteira de agro do banco, enquanto os outros elos da cadeia representam 60%. Em momentos de maior cautela, é preciso tomar cuidados adicionais na concessão do crédito, mas o banco segue perseguindo o objetivo de ocupar maior espaço no setor, sendo o principal agente privado no financiamento do agronegócio. O momento é de acompanhar de perto as atividades produtivas e a gestão financeira dos clientes atuais, enquanto o banco mantém a seletividade na atração de novos clientes, base que deve ficar estável ante ano passado. A tônica é gastar mais tempo com os clientes e construir pontes para aqueles que precisam de estrutura de recomposição de caixa. Ao analisar a saúde financeira dos produtores, ainda se trata de uma parcela pequena com inadimplência ou atrasos nos pagamentos de financiamentos. Porém, esse porcentual tem aumentado. Usualmente, o banco sempre teve uma parcela muito pequena com endividamento. Frente ao todo é uma parcela pequena, mas é pior que nos anos anteriores.
Apesar do crescente endividamento observado no setor agropecuário, a taxa de inadimplência da carteira de agro do Itaú BBA ainda é menor que a do banco como um todo. Ao fim do segundo trimestre deste ano, dados mais recentes, a taxa de inadimplência acima de 90 dias do Itaú ficou estável em 1,9%. Entretanto, há uma preocupação com a situação específica de endividamento dos produtores do Rio Grande do Sul, que acumulam dívidas e prejuízos de cinco safras seguidas. Foram diversos desastres climáticos sequenciais e uma solução que continua no gerúndio, porque não há uma solução efetiva e se aproxima o início do plantio da safra de verão (1ª safra 2024/2025) no Estado. É uma situação na qual o custo da não decisão é muito alto. Os produtores do Rio Grande do Sul estão deixando empréstimos vencerem na expectativa de uma securitização, ao mesmo tempo que devem iniciar a próxima temporada sem crédito no canal de revendas e de agentes bancários. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.