02/Sep/2025
Sobram exemplos recentes de como o aquecimento global têm impactado o agronegócio: secas recordes quebraram safras de café em diversos países, elevando o preço da commodity no mundo inteiro, enquanto temperaturas elevadas ao redor do planeta tiveram um efeito disruptivo na cadeia de ovos e levaram com que o alimento registrasse alta de cerca de 40% no começo do ano. E a próxima “vítima” pode ser a safra de soja de 2026: modelos indicam que o fenômeno La Niña deve atingir o Centro-Norte do Brasil em fevereiro do próximo ano, aumentando a intensidade das chuvas, justamente quando deve acontecer a colheita dos grãos.
Fenômenos naturais extremos provocam alterações relevantes nos padrões de pluviosidade e afetam a carteira de seguros de forma distinta, afirma a Allianz Seguros. Do lado das seguradoras, o maior desafio é entender como fazer uma precificação correta para manter os resultados saudáveis, o que faz com que as empresas do setor recorram a soluções de tecnologia. A Allianz usa modelos geoespaciais que se baseiam em dados históricos para analisar a performance do solo, a cobertura vegetal e os índices de pluviosidade. Além disso, emprega análises preditivas e séries temporais, incorporando variáveis climáticas externas.
Também mantém um sistema contínuo de monitoramento climático com base em dados fornecidos por consultorias externas. As inovações não se restringem à tecnologia. Segundo a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), tem muita coisa interessante sendo feita. A Swiss Re desenvolveu um seguro para a febre aftosa, desenvolvido especialmente para o estado do Rio Grande do Sul. No caso de bacia leiteira, que é um segmento superconcentrado, a seguradora tem desenvolvido programas para garantir receita ao pecuarista. Se ele perder uma vaca, ele também tem uma receita de seis meses equivalente aos litros de leite que ele entregaria no laticínio ou na cooperativa.
As soluções desenvolvidas pelas empresas do setor, no entanto, não são eficazes se os produtores rurais não conseguirem acesso ao seguro. Nos últimos cinco anos, a cobertura do seguro rural caiu quase pela metade por causa dos cortes no orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). Neste ano, o programa contava com R$ 1,06 bilhão, valor bem abaixo dos R$ 4 bilhões esperados pelos produtores. Como o governo precisa ‘apertar o cinto’ para cumprir a meta fiscal, houve o bloqueio e contingenciamento de R$ 445,1 milhões desses recursos. A expectativa é de uma redução expressiva na área segurada, intensificando a queda observada no programa nos últimos anos.
Tudo isso acontece em meio ao aumento dos desafios climáticos, que têm exposto os produtores a maiores dificuldades ao longo das safras e ampliado a demanda por ferramentas de gestão de riscos, nem sempre disponíveis, afirma a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). No pico da operação do PSR, que foi em 2022, a área segurada chegou ao redor de 14 milhões de hectares. Em 2024, a cobertura foi de 7 milhões de hectares, e a expectativa para esse ano é uma redução bastante forte, entre 4 e 5 milhões de hectares. Mesmo quando atingiu níveis recordes de cobertura, o seguro agrícola atendeu apenas 10% da produção brasileira. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.