02/Sep/2025
A dois meses da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30, que ocorre de 10 a 21 de novembro em Belém, produtores e cooperativas agropecuárias do Pará querem ver as práticas locais inseridas nas discussões climáticas. Para além das metas e compromissos de redução de emissões de gases ligados ao efeito estufa que devem ser assumidos pelos países, os produtores almejam ver as práticas de remoção de gases também reconhecidas no âmbito das discussões climáticas. Na prática, os produtores almejam que as discussões vão para além dos debates sobre mudança da matriz energética, redução do uso de combustíveis fósseis e erradicação do desmatamento, e incluam também as boas práticas desenvolvidas no coração da Floresta Amazônica, como os sistemas de produção de alimentos que mantém a floresta em pé.
A Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta) diz esperar que as pessoas que estão conhecendo o Estado e que vão redigir as propostas da COP possam, de alguma forma, pensar para que esse produto do sistema agroflorestal seja pago de forma diferenciada, com pagamento por serviço ambiental, com preço diferente de monocultura e que remunere a preservação da floresta em pé. Às vésperas da COP, várias delegações internacionais têm procurado conhecer o sistema agroflorestal desenvolvido na região, o Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (Safta). Todos os dias a Camta recebe diplomatas, do Japão, França, Índia, Vietnã, Alemanha, Itália, dos Países Baixos, e comitivas da Europa. Na área em que o Código Florestal é mais restritivo, onde 80% da área deve ser mantida em reserva legal sem desmatamento, os produtores cultivam pelo menos 15 itens agrícolas diferentes em uma mesma área.
Cerca de 7 mil hectares são cultivados por produtores cooperados à Camta em sistemas agroflorestais que permitem mais de 200 combinações de modelo na associação de cacau, açaí, banana, pimenta, dendê, baunilha, guaraná, cupuaçu, e garantem a produção sustentável de alimentos no bioma amazônico. Para a Organização das Cooperativas do Pará (OCB/PA), o pagamento por serviços ambientais deveria estar inserido no debate climático pela ótica da contribuição destas práticas à preservação das florestas, e consequente, contribuição na remoção de carbono. Trata-se de algo que faz parte do dia a dia das comunidades tradicionais e ribeirinhas. Essa população entende que mantendo a floresta em pé, fazendo o extrativismo de forma sustentável e com o manejo florestal, eles conseguem ter perenidade no negócio. Agora essas comunidades organizadas querem ver o reconhecimento pelas práticas.
Além da Camta, há outras duas cooperativas no Estado pelas quais os produtores desenvolvem atividades extrativistas e de manejo florestal sem recair no desmatamento das áreas. Uma delas é a Turiarte, de Santarém, às margens do Rio Arapiuns, que produz artesanato a partir da extração de sementes e palhas de árvores nativas. A outra é a Cooperativa Coopiaçá de Marajó. A COP ainda é excludente aos modelos de negócios da bioeconomia e do extrativismo florestal. As pessoas precisam vir e consumir o produto local da Amazônia para entender. Não adianta a COP ser na Amazônia e a comunidade internacional não conhecer a realidade local. No Brasil, se discute muito internamente a problemática da logística e da hospedagem da COP e não se olha para a pauta muito mais ampla que é discutir a inclusão da bioeconomia e da sociobiodiversidade no discurso da alta cúpula. Se os países querem apoiar a floresta em pé, precisam conhecê-la.
É uma oportunidade para o Brasil aproveitar a visibilidade da COP e apresentar o que realmente é feito na Amazônia. Além da contribuição das práticas socioambientais na remoção de gases ligados ao efeito estufa, as comunidades locais da Amazônia são também significativamente afetadas pelas mudanças climáticas. Portanto, querem fazer parte das discussões. Os produtos da sociobioeconomia, do agroextrativismo e da agrofloresta também estão sob o risco dos efeitos da mudança do clima. A castanha-do-pará, por exemplo, pode deixar de existir, porque a produção vem diminuindo devido à seca e às altas temperaturas. As cooperativas também querem protagonismo na COP30 como modelo de negócio que permite escala a comunidades e projetos sustentáveis. No evento, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) vai apresentar experiências de cooperativas do uso eficiente de recursos naturais e vai defender a tropicalização da agenda climática global. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.