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01/Sep/2025

Exportadores pedem negociação e diálogo com EUA

Enquanto o governo inicia o processo para aplicação da Lei da Reciprocidade Econômica, exportadores de cadeias do agronegócio seguem insistindo que o governo brasileiro deve esgotar as negociações diplomáticas com os Estados Unidos. A mensagem vem sendo passada por representantes do setor a autoridades do Executivo. Estes interlocutores afirmam que não dá para cessar uma negociação que ainda nem começou. A prioridade deveria ser a abertura de diálogo com os Estados Unidos e não retaliar. Nos bastidores, representantes do agronegócio acreditam que não há "real intenção" do governo brasileiro em retaliar os Estados Unidos, mesmo que o processo abra espaço para ação caso as conversas não prosperem. A percepção é de que o governo não pode incorrer no erro de medir forças com os Estados Unidos e que isso fique apenas no campo das ideias.

Uma liderança ligada aos produtores avalia que antes mesmo da retaliação, o governo vem "esticando a corda" e "dobrando a aposta" com os Estados Unidos, dadas as declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo compra o risco de os Estados Unidos dobrarem as tarifas. Não é momento para ameaças. Apesar do apelo para que o governo priorize as negociações, o próprio setor exportador reconhece que a abertura do diálogo depende dos Estados Unidos e que não há tratativas bilaterais em andamento. Neste caso, tem-se somente uma briga de narrativas políticas. O setor privado fará uma missão aos Estados Unidos nesta semana mostrando que não existe conversa entre os governos. Além da pressão para o foco das tratativas governamentais ser a redução tarifária, o setor produtivo pede ao Executivo prioridade para retirada de mais itens agropecuários do tarifaço, como carne bovina e café.

São três ações necessárias: ir aos Estados Unidos abrir conversas, pedir redução de tarifa e colocar mais itens na lista de exceções, resume um dos representantes do setor exportador. Para a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de autorizar o Itamaraty a acionar a Câmara de Comércio Exterior (Camex) para iniciar consultas, investigações e medidas com vistas à aplicação da Lei da Reciprocidade Econômica contra os Estados Unidos o contra-ataque brasileiro só vai agravar ainda mais a situação. A entidade insiste que é preciso tentar o diálogo, porque do contrário o Brasil só vai criar mais dificuldades. É preciso entender que o Brasil tem uma dependência das suas exportações aos Estados Unidos muito maior do que o país depende das importações brasileiras. É obrigação do Itamaraty, é obrigação do diplomata, buscar o diálogo sempre. O diálogo é muito mais importante do que ficar simplesmente agora retalhando.

Donald Trump, assim que for comunicado que o Brasil vai usar a Lei da Reciprocidade contra os Estados Unidos, pode endurecer ainda mais. Até porque o presidente Trump não é uma pessoa de muito bom senso. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considera que "não é o momento" de o Brasil aplicar a Lei da Reciprocidade Econômica contra os Estados Unidos, e avalia que é preciso insistir no uso de instrumentos de negociação para reverter os efeitos negativos das tarifas norte-americanas sobre as exportações brasileiras. Agora, é necessário cautela e discussões técnicas. A CNI confirmou que uma comitiva liderada pela confederação, com mais de 100 líderes de associações e empresários industriais, desembarcará nesta semana nos Estados Unidos para falar com empresários e representantes do poder público dos Estados Unidos. O propósito é abrir caminhos para contribuir com uma negociação que possa levar à reversão da taxa de 50% e/ou buscar obter mais rapidamente o aumento de exceções ao tarifaço sobre produtos brasileiros.

A agenda em Washington prevê encontros entre instituições empresariais brasileiras e suas contrapartes e parceiros nos Estados Unidos, e reunião plenária para discutir os impactos comerciais e estratégias para aprofundar a parceria econômica entre os dois países. A CNI também vai promover encontros preparatórios para a defesa do setor industrial na audiência pública de 3 de setembro sobre a investigação aberta em julho pelo governo norte-americano nos termos da Seção 301 da Lei de Comércio dos Estados Unidos. A decisão do governo federal de utilizar a Lei da Reciprocidade Econômica é vista com receio por parte de segmentos da indústria nacional afetados pelo tarifaço. Embora a ação brasileira ainda esteja na fase de consultas, sem qualquer medida mais concreta em vista, a avaliação é que o movimento pode atrapalhar futuras tratativas com o presidente norte-americano.

Sob o ponto de vista macroeconômico, uma eventual retaliação brasileira teria impacto limitado em termos do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas pode render dividendos políticos ao presidente Lula. Isso coloca mais combustível no argumento do prejuízo causado pelo Eduardo Bolsonaro e na polêmica da soberania. A avaliação é a de que o movimento brasileiro agora pode atrapalhar negociações em andamento com os Estados Unidos, embora ainda não seja possível quantificar o quanto a relação entre os dois países piorará ou não após possíveis retaliações. O governo deveria insistir na via diplomática, sem partir para uma política de "olho por olho e dente por dente". O melhor caminho é a negociação, sem retaliação. O próprio governo vê a abertura do processo da reciprocidade como uma ferramenta para pressionar os Estados Unidos para reabertura das negociações. A intenção do governo é manter o recado aos Estados Unidos de que existe possibilidade de retaliação, mas tentar provocar a abertura de diálogo, o que ainda não ocorreu.

Na sexta-feira (29/08), o presidente Lula reconheceu que ainda não há interlocução direta com o governo norte-americano e disse que ele não tem pressa para impor a reciprocidade, mas que os Estados Unidos não querem negociar. O "sinal verde" para o uso da Lei da Reciprocidade Econômica (LRE) foi dado pelo presidente Lula na semana passada e o Itamaraty acionou a Câmara de Comércio Exterior (Camex). A ideia é começar consultas, investigações e estudar medidas de reação ao tarifaço que podem ser enquadradas na lei. O presidente Lula disse que autorizou o uso do dispositivo para "fazer andar" a formulação da resposta brasileira aos norte-americanos. "Esse é um processo que é um pouco demorado. Eu não tenho pressa de fazer qualquer reciprocidade com os Estados Unidos. Tomei a medida porque nós temos que fazer andar o processo. (...) Nós temos que dizer aos Estados Unidos que nós temos coisas para fazer contra os Estados Unidos", afirmou Lula. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.