29/Aug/2025
A precariedade da infraestrutura logística brasileira é um dos principais entraves que precisam ser enfrentados diante da busca do País por diversificar os destinos de suas exportações. Gargalos em portos, estradas e ferrovias elevam custos e limitam a capacidade de aproveitar a reconfiguração dos fluxos globais de comércio, pressionados pela guerra tarifária imposta pelos Estados Unidos. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), 77,6% das estradas têm qualidade ruim e 22,4% possuem boas condições. Os outros modais, como o ferroviário, ainda são subutilizados, representando apenas 20% da matriz brasileira de transporte de cargas. Os portos se dividem em poucos bem estruturados e dezenas de outros com infraestrutura precária. Apesar de iniciativas como o Plano Nacional de Logística 2025, a execução dos investimentos enfrenta descontinuidades. Há alguns dias, o governo anunciou que, em dois anos e meio, o País ultrapassou a marca de 400 novos mercados para os produtos brasileiros no exterior.
O escritório L.O. Baptista avalia que existe um apelo atrativo para as exportações brasileiras em novos mercados. O avanço da classe média e a urbanização ampliam a demanda por alimentos e bens com valor agregado. O Brasil deveria priorizar acordos com Singapura, Indonésia e Vietnã, além de acelerar a ratificação do Mercosul-União Europeia, que pode abrir tarifa zero para mais de cinco mil produtos brasileiros. Dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostram que o comércio intrarregional entre mercados emergentes cresceu 15% na última década, sinalizando uma tendência de diversificação e fortalecimento de blocos regionais. Para a MTM Logix, o cenário é promissor para produtos agrícolas, minerais e alimentos processados, segmentos em que o Brasil tem vantagem competitiva. A China segue sendo o principal parceiro comercial, mas outras regiões estão se abrindo.
O Oriente Médio, por exemplo, tem ampliado a demanda por alimentos prontos para preparo e insumos agrícolas. Isso abre espaço para que o Brasil avance na agregação de valor de suas exportações. A descentralização logística tende a ganhar força com a chamada Infraestrutura Logística de Zonas Secundárias (SZLI), em que portos alternativos e serviços aduaneiros no interior aliviam gargalos nos grandes centros. O Brasil poderia mirar, com mais intensidade, acordos com o México, países do Oriente Médio e do Sudeste Asiático. Isso não só amplia o acesso a novos mercados, como também reduz a dependência de potências que hoje geram uma situação de vulnerabilidade. Para o escritório Arman Advocacia, o arcabouço legal brasileiro é estável, mas há gargalos operacionais. O Brasil tem legislação adequada em portos, ferrovias e cabotagem. O problema é a desigualdade de desempenho entre terminais. Os portos de Salvador (BA) e Itapoá (SC) vão bem, mas hubs como Paranaguá (PR) e Rio Grande (RS) enfrentam gargalos de dragagem e acessos terrestres.
A matriz rodoviária encarece custos. Seria interessante contratos que vinculem metas de performance em portos e ferrovias. Além disso, barreiras sanitárias e técnicas exigem maior governança de conformidade das empresas brasileiras. O Fonseca Brasil Advogados reforça a importância do Sudeste Asiático. A Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que representa dez países asiáticos, já é o terceiro maior destino das exportações brasileiras, superando o Mercosul. A região tem 682 milhões de habitantes e PIB de US$ 3,8 trilhões. Há mais de 2.700 oportunidades identificadas pela ApexBrasil, não apenas para commodities, mas também para alimentos processados e máquinas agrícolas. O bloco árabe já é o segundo maior destino do agronegócio brasileiro, e a África atingiu recorde de US$ 13,2 bilhões em exportações em 2023. O México é outra potência aliada. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o México "é a bola da vez" para o setor e deve se consolidar como segundo maior mercado da carne bovina brasileira, posto antes ocupado pelos Estados Unidos.
A pauta exportadora segue concentrada em matérias-primas, mas há sinais de diversificação. O Brasil superou os Estados Unidos como maior exportador de produtos agropecuários e agroindustriais em volume, mas também alcançou US$ 45,2 bilhões em exportações de serviços em 2023, com destaque para engenharia, arquitetura e P&D. O comércio de serviços já responde por quase 30% do valor agregado das exportações industriais brasileiras. Apesar dos avanços, há os riscos de concentração. Qualquer tarefa de diversificação é muito difícil, sobretudo quando o Brasil ainda enfatiza commodities agroalimentares e minerais. A China é o maior comprador de soja, minério e carnes, enquanto os Estados Unidos seguem como destino relevante de manufaturados e tecnologia. O cenário com tarifaço de 50% aplicado pelo presidente norte-americano Donald Trump é delicado e não pode ser subestimado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.