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29/Aug/2025

EUA: Trump governa seu país e o mundo sem freios

Desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump faz o que bem entende internamente, mandando e desmandando, e também fora, ao taxar o mundo todo. Seus atos não se restringem à esfera pública, como a pressão pelo novo mapa eleitoral em estados como Texas ou a federalização das polícias; eles também alcançam a iniciativa privada, a exemplo do acordo bilionário para deter uma fatia da Intel, com a sinalização de que outros virão. A tacada mais recente de Trump foi anunciar, por meio de rede social, a demissão da diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) Lisa Cook, que se tornou alvo do governo após ser acusada de fraude hipotecária.

Se conseguir o que quer, o republicano indicará mais um membro à autoridade monetária e teria maioria no Fed, somando-se aos nomes já escolhidos e à expiração do mandato do presidente Jerome Powell em maio do ano que vem. Especialistas alertam que a interferência mina a credibilidade do banco central mais importante do mundo. Para o economista norte-americano Paul Krugman, as implicações da demissão de Cook, caso concretizada, serão "profundas e desastrosas" e podem ir além do Fed. Os Estados Unidos estarão a caminho de se tornar como a Turquia, onde um governante autoritário impôs suas políticas econômicas absurdas ao banco central, fazendo a inflação disparar para 80%. Por sua vez, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, defendeu as ações de Trump no Fed. Para ele, a independência do Banco Central dos Estados Unidos vem de um "arranjo político" e Trump está "restaurando a confiança no governo".

Em paralelo, relatos na imprensa norte-americana dizem que o republicano pretende influenciar também as distritais do Fed. Para o ING, o Fed está sendo tratado de forma semelhante à Suprema Corte, com o governo Trump buscando enchê-lo de “companheiros ideológicos". Para além do Fed, Trump também capitaneia um desmonte em órgãos públicos. A primeira jogada foi escalar o até então aliado Elon Musk para o Doge, encarregado de reduzir os gastos do governo dos Estados Unidos, missão da qual acabou saindo após estremecer a relação com Trump. Na primeira gestão, aliados continham os impulsos de Donald Trump. Agora, o republicano está cercado por menos pessoas que tentam barrar suas ambições. Parece que ele aprendeu que não há muito que realmente possa impedi-lo de fazer o que quer. Os atos de Trump 2.0 vão da esfera pública à privada:

- Federal Reserve: ataques a dirigentes do Fed. Primeiro, o presidente Jerome Powell; agora, a demissão da diretora Lisa Cook, acusada de fraude hipotecária. O objetivo é indicar novos membros favoráveis à queda de juros no país.

- Estados: redistribuição de votos em estados como Texas, Indiana, Ohio e Missouri. O objetivo é blindar sua agenda nas eleições de meio de mandato de 2026.

- Estados: federalização da segurança como fez em Washington, com envio de tropas a Los Angeles e promessa de fazer o mesmo em Oakland, Baltimore e Nova York, com objetivo de intervenção militar

- Estados: retomada da gestão da Union Station, em Washington. O objetivo é gestão federal e ampliação das receitas comerciais.

- Sistema eleitoral: tentativa de revisão do sistema eleitoral para eliminar o voto por correspondência, com objetivo de obter vantagem eleitoral e justificar suas alegações de fraude eleitoral

- Iniciativa privada: compra de fatia na Intel por US$ 8,9 bilhões e sinalização de novos acordos nesta linha, com objetivo de incentivar empregos e investimentos nos Estados Unidos.

- Países: taxação global em troca de redução do déficit comercial, redução de tarifas e investimentos. O objetivo é atrair recursos para os Estados Unidos e reduzir a dependência de outros países.

- Setor público: troca de comando e desmonte em órgãos públicos como fez no Bureau of Labor Statistics (BLS) e na Federal Emergency Management Agency (Fema), com o objetivo de indicar aliados.

- Imprensa: caçar licenças de emissoras críticas ao governo e restringir a concessão de vistos a jornalistas, com o objetivo de controlar a mídia.

Sem freios, o republicano mantém o plano de construir um salão de festas na Casa Branca, apesar dos impactos locais, e adota medidas para fragilizar os Estados norte-americanos enquanto amplia seu poder. Recentemente, renovou o apelo para acabar com a votação por correspondência e pressionou pelo redesenho dos distritos eleitorais no Texas, o que pode beneficiá-lo nas eleições de meio de mandato em 2026, além de proteger sua agenda. Fez o mesmo em Indiana, Ohio e Missouri. Na área de segurança, apresentou plano para federalizar as polícias municipais de algumas cidades, a exemplo de Washington. Em outra ofensiva, Trump demitiu a líder de estatísticas do Bureau of Labor Statistics (BLS), Erika McEntarfer, após dados fracos sobre criação de vagas em julho à revisão, para baixo, a aposta em cortes de juros. No lugar, nomeou o economista-chefe da conservadora Heritage Foundation, E. J. Antoni, sob uma enxurrada de críticas. "Os números de emprego vão disparar", afirmou Trump.

Nesta semana, mais de 180 funcionários atuais e antigos da Federal Emergency Management Agency (Fema) assinaram carta ao Conselho da agência e a congressistas alertando para o risco de um desastre do nível do furacão Katrina após o desmonte institucional. Em resposta, a Fema colocou 30 deles em licença. Para o Barclays, as ações da gestão Trump transformarão a agência em um órgão "menor". Isso pode levar a desafios no enfrentamento e na coordenação em caso de grandes desastres, que são mais propensos a exigir respostas em nível estadual e territorial. A Fema levará alguns anos para reencontrar o equilíbrio. Após ter sua demissão anunciada ontem pelo governo de Donald Trump, Susan Monarez, chefe dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, comunicou por meio de seus advogados que não deixará o cargo. Monarez teria se tornado alvo da ira do governo Trump por manter uma postura pró-ciência.

Na esteira do slogan MAGA, as ações de Trump também alcançam a iniciativa privada. Nesta semana, seu governo anunciou uma investida de US$ 8,9 bilhões por uma fatia da Intel, sob a justificativa de fortalecer a indústria doméstica de semicondutores. Segundo Trump, outros acordos virão. Críticos republicanos chamaram o movimento de "socialista". "Tudo vai para os Estados Unidos. Por que pessoas 'estúpidas' ficam insatisfeitas com isso?", questionou o presidente. Segundo a AJ Bell, o problema é que a empresa pode ser gerida em benefício de uma agenda política, na forma de gerar empregos locais, investimentos ou ambos. Essa também tem sido uma exigência de Trump a parceiros comerciais para aliviar o tarifaço global.

Da União Europeia, arrancou o compromisso de US$ 600 bilhões em investimentos na economia norte-americana e a compra de US$ 750 bilhões em energia. Do Japão, obteve outros US$ 550 bilhões. Em relação à imprensa, Trump defendeu que emissoras críticas, citando como exemplo a ABC e NBC News, percam suas licenças. Ele também quer apertar o cerco à concessão de vistos a jornalistas estrangeiros, como tem feito com o público geral. Apesar das críticas de todo o espectro político, Trump segue sem barreiras dentro ou fora de casa. Wall Street praticamente ignora seus feitos, e o comportamento indiferente prevalece, com uma ou outra reação adversa. No Congresso, a enxurrada de pedidos de impeachment vista em seu primeiro mandato, por ora, limita-se a promessas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.