28/Aug/2025
Segundo o Ministério da Fazenda, apesar da surpresa e da tristeza diante das medidas unilaterais dos Estados Unidos na área de comércio exterior, a Pasta atua em várias frentes para abrir um canal racional de diálogo e estabelecer uma agenda de negociação com os norte-americanos. Porém, forças internas contrárias ao interesse nacional dificultam as tentativas de negociar com os Estados Unidos. Fundamentos econômicos para as medidas não existem. Nos últimos 15 anos, o Brasil acumulou déficit de cerca de US$ 90 bilhões na balança de bens com os Estados Unidos, o equivalente a aproximadamente R$ 500 bilhões, considerando a taxa de câmbio de R$ 5,50. Na balança de serviços, menos discutida, o País registrou déficit de perto de US$ 40 bilhões no mesmo período, ou algo em torno de R$ 220 bilhões. Nos últimos 15 anos, o Brasil enviou aos Estados Unidos R$ 720 bilhões, o que equivale a algo como 6% do PIB brasileiro atualizado.
Os Estados Unidos usaram com premissa para aumento de tarifa para a China, por exemplo, um elevado déficit comercial, situação que não se aplica ao Brasil. O Brasil é deficitário em relação aos Estados Unidos. À luz de 200 anos de parceria e de histórica de relações com os Estados Unidos, o Brasil vê o tarifaço "como uma quebra de respeito" e do trato diplomático tão apreciado de parte a parte. Não faz sentido que haja uma penalização aos empresários que apostam no Brasil, sejam os empresários brasileiros, sejam os empresários de outros países, como os Estados Unidos. O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, avalia que o tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil é uma medida adotada expressamente por razões políticas, relacionadas com o processo envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus principais assessores por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Essa questão configura tema interno e soberano do Brasil, conduzida no âmbito do Poder Judiciário e em reação a qual não há qualquer possibilidade de interferência da parte do Poder Executivo.
Não há possibilidade de qualquer negociação entre os dois países que envolva interferência em termos judiciais. O governo vai resistir às pressões norte-americanas e insistir no respeito às instituições brasileiras, mas sem jamais abrir mão da disposição para o diálogo em pontos que não confrontem à soberania do País. Com esse espírito, foi apresentado no dia 18 de agosto comentários escritos no âmbito da investigação do USTR sobre a Seção 301 da Lei de Comércio Exterior norte-americana, na qual o governo defende as diversas práticas brasileiras objeto dos questionamentos, como o PIX e o combate ao desmatamento ilegal. No dia 5 de agosto, foi apresentado pedido de consultas aos Estados Unidos no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), de modo a demonstrar que a aplicação das tarifas recíprocas e a abertura da investigação com base na Seção 301 não estão em consonância com as regras multilaterais de comércio.
Em medida de última instância, segundo o ministro, foi finalizada a regulamentação da Lei da Reciprocidade, a Lei nº 15.122 deste ano, para permitir procedimentos e consultas para possíveis respostas comerciais aos Estados Unidos. No plano doméstico, salientou Viera, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou um pacote de apoios aos setores mais afetados pelas tarifas dos Estados Unidos, incluindo medidas de ampliação e facilitação de crédito para exportadores, restituições de tributos e ampliação de compras públicas de alimentos. Foi dado início a conversas com os demais países afetados pelas medidas tarifárias dos Estados Unidos. Com esse intuito, o presidente Lula manteve, apenas nas últimas duas semanas, contatos com líderes da Índia, da China, do México e da França, dentre outros países.
O ministro acrescentou que nessas conversas apareceram crescentes preocupações entre países desenvolvidos e em desenvolvimento com o processo de deterioração do sistema multilateral de comércio, baseado em regras e com o cenário de negociações bilaterais assimétricas vulneráveis a pressões dos mais fortes. O Brasil pretende, desse modo, dar início a discussões sobre uma reforma estrutural em abrangente da OMC. O ministro de Relações Exteriores afirmou que seguirá insistindo na necessidade de separar questões comerciais das políticas. A atuação do setor privado brasileiro é essencial. É de fundamental importância que as empresas brasileiras façam chegar às suas parceiras norte-americanas a gravidade da situação e a necessidade de buscar sensibilizar as autoridades do governo daquele país quanto aos prejuízos causados para ambos os lados. A relação entre o Brasil e os Estados Unidos é muito maior do que isso. Vieira disse ainda que o Brasil e os brasileiros não podem ficar reféns dos interesses pessoais, nem ceder ao que chamou de pressões indevidas e adotadas ao largo do direito e da boa diplomacia.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as tarifas impostas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras vão afetar um pouco o Brasil. Ele ponderou, contudo, que o País tem condições de enfrentar o tarifaço. Tem setores que exportam mais de 50% os Estados Unidos, tem empresas que vão sofrer, mas, macroeconomicamente falando, o País tem condições de enfrentar. Há produtos cujos preços estão em queda, como o café. O preço do café está caindo porque está aumentando oferta interna. Haddad, voltou a fazer críticas ao presidente norte-americano Donald Trump. Sobre a lei Magnitsky, Haddad disse que o Estado brasileiro tem que dar amparo para todos os agentes públicos, aos brasileiros, de que vai proteger a soberania nacional. Tudo que está sendo mobilizado é para contestar argumentos comerciais, e referência à contratação pelo governo de escritório de advocacia nos Estados Unidos para tentar revogar sanções impostas por Trump. Hoje, há muito insegurança em relação aos Estados Unidos. Haddad afirmou ainda que o dólar continuará a ser, por muitos anos, uma reserva de valor, a não ser que o governo norte-americano “continue errando”. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.