28/Aug/2025
Entre os executivos de primeiro escalão das grandes multinacionais do agronegócio, o norueguês Svein Tore Holsether, de 53 anos, é um dos mais ativos defensores de iniciativas do setor para a redução das emissões de carbono. E, para além disso, ele tem sido particularmente enfático em questões igualmente sensíveis, mas pelas quais muitos chefes de Estado têm passado batido em suas manifestações públicas, como a guerra na Ucrânia. A postura chama a atenção porque Holsether não é político, mas presidente de uma indústria de fertilizantes, a Yara, uma das líderes globais desse mercado. Foi dele, por exemplo, a afirmação de que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, estaria transformando a cadeia de produção de alimentos em arma de guerra. Holsether tratou do tema no início de 2023, às vésperas da abertura da conferência do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Há pouco mais de um mês, o executivo esteve na Ucrânia, e voltou à carga, dizendo que a guerra não estaria ocorrendo apenas nos campos de batalha, mas também nas lavouras, onde o alimento está sendo usado como arma.
Esse executivo de palavras incisivas diz esperar que a COP30, a conferência do clima que ocorrerá em Belém em novembro, seja um instrumento para engajar mais empresas e produtores rurais no combate à crise climática. “A COP no Brasil será uma grande oportunidade para destacar a importância da cadeia de produção de alimentos para a descarbonização global e para mostrar como podemos incentivar os produtores a descarbonizar”, disse ele na sede da Yara, em Oslo, na Noruega. “Isso, por sua vez, aumentará a demanda por nossos produtos de baixo carbono”. Entre as iniciativas da Yara nessa frente estão a parceria com a Cooxupé, a maior cooperativa de produtores de café do mundo, que no ano passado começou a utilizar um fertilizante “baixo carbono” da empresa. Segundo a multinacional, a pegada de carbono da fabricação do produto é até 90% menor do que a de itens equivalentes. Já no cultivo de café propriamente dito, a pegada é 40% menor. Também em 2024, a Yara começou a produzir amônia, o principal insumo para a fabricação dos fertilizantes nitrogenados, o carro-chefe da companhia, a partir não do gás natural, como é mais comum, mas de biometano.
A Raízen produz o gás renovável em Piracicaba (SP) a partir do processamento de resíduos da fabricação de açúcar e etanol. Para o executivo, já se avançou muito para reduzir as emissões de poluentes no campo. Por outro lado, avalia Holsether, não se pode relevar um raciocínio básico: o de que os produtores só vão aderir em massa a ações de descarbonização se ficar realmente claro que eles ganharão dinheiro com isso, mas, principalmente, se essas iniciativas não forem apenas uma despesa a mais na planilha de custos. “No fim do dia, se esses esforços representarem um fardo a mais para o produtor, que teria que reduzir suas margens, a solução não é sustentável”, disse. Também a indústria vê limites todos os dias. Na terça-feira (26/08), a Yara e a alemã Basf anunciaram a decisão de encerrar a parceria que lançaram em 2023 para a produção de amônia com baixa pegada de carbono na Costa do Golfo, nos Estados Unidos. Um projeto de captura e estocagem de carbono no solo asseguraria a redução das emissões. Em comunicado, Yara e Basf disseram que tomaram a decisão para poderem priorizar iniciativas que tenham “mais potencial de as empresas atingirem suas metas de geração de valor”.
No mercado financeiro, isso é sinônimo de contenção de custo. Não por acaso, as ações da Yara fecharam o dia em alta de 6,2% na Bolsa de Oslo. Críticos não deixam de apontar ainda o que chamam de “contradição” da múlti norueguesa, que tem defendido a redução das emissões, mas ainda é altamente dependente de gás natural, um combustível fóssil, para abastecer suas linhas de produção. O executivo diz que os investimentos da empresa em descarbonização têm sido rentáveis, mas que ainda há um passo a ser dado, mais difícil, que é expandir ações como o uso de biometano. Seja qual for a estratégia de cada empresa, não se pode esmorecer, avalia Holsether. “O meu temor é que, quando a descarbonização de fato entrar na agenda global, já seja tarde demais”, afirmou. “Nós temos que fazer tudo o que pudermos para reforçar a mensagem sobre a importância da descarbonização e sobre o papel da agricultura para ajudar a mudar isso”. Fonte: Globo Rural.