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22/Aug/2025

EUA: política imigratória esfria mercado de trabalho

Foram os setores de agricultura e lazer os primeiros a acenderem o alerta nos Estados Unidos sobre o impacto econômico do cerco à imigração. Depois de uma pesada campanha de deportação e medidas para conter o que chama de "invasão" na fronteira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ensaiou dar um passo atrás ao sinalizar ajustes na política de concessão de vistos. Economistas já identificam as digitais das restrições migratórias no recente esfriamento do mercado de trabalho norte-americano. No mês passado, a força de trabalho dos Estados Unidos era composta por 32,06 milhões de trabalhadores nascidos no exterior, uma queda de quase 5% ante o pico registrado em março, conforme dados do Departamento de Estatísticas de Trabalho (BLS). Para a Moody's Analytics, o movimento ajuda a explicar a tímida criação de 73 mil empregos no relatório payroll de julho, que veio acompanhada de uma revisão negativa de 258 mil postos em maio e junho.

Muitos empregos em setores em que os imigrantes trabalham (construção, agricultura, lazer e hospitalidade, varejo, cuidados com idosos, cuidados infantis) simplesmente não podem ser preenchidos porque não há ninguém para preenchê-los. O aperto nas restrições se intensificou sob Donald Trump. Ele prometeu a "maior operação de deportação da história norte-americana". Enviou, inclusive, tropas a regiões fronteiriças para conter o fluxo migratório. O resultado é um enfraquecimento muito acentuado na força de trabalho nascida no exterior. Com menos trabalhadores imigrantes, a força de trabalho não está crescendo, isso torna impossível, em uma economia de pleno emprego, gerar novos empregos. A chave para entender o fenômeno é a demografia. Com as taxas de fertilidade em baixa há décadas, os imigrantes ocupam o vácuo deixado pela menor expansão da população economicamente ativa.

O CIBC calcula que o segmento populacional em idade de trabalho pode crescer apenas 0,2% até 2028, se Trump conseguir cumprir o objetivo de deportar 1 milhão de residentes sem documento legal. Com o aperto demográfico, um crescimento de 45 mil empregos por mês seria consistente com uma taxa de desemprego estável até o final de 2025, bem abaixo da média de 170 mil vista em 2024. Se metade das políticas propostas por Trump entrar em vigor, esse número cairia para 20 mil. O dano à economia seria claro: o crescimento médio anual do PIB real poderá desacelerar entre 0,7% e 0,9% em relação à tendência demográfica anterior. Depois das fortes revisões no payroll de julho, o Goldman Sachs estima que a tendência subjacente de alta de emprego atualmente é de 30 mil por mês, em parte por conta das amarras à imigração. Observa-se uma contração na criação de postos de trabalho em indústrias com mais de 10% de sua força composta por imigrantes sem autorização.

Somado às incertezas tarifárias, o ambiente coloca os Estados Unidos à beira de uma recessão, na visão da Moody's Analytics. Ainda que, no geral, ocupem as faixas de renda mais baixas, os imigrantes sem documento representam um motor de consumo nada desprezível. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais o consumo tem sido tão fraco nos Estados Unidos desde o início do ano. O quadro fará com que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) redirecione o foco principal da preocupação do mandato de inflação estável para o de pleno emprego, prevê a Pantheon Macroecomics. Na visão da Capital Economics, as restrições à imigração se juntarão às tarifas para manter o núcleo do CPI acima de 3% até pelo menos 2026. Afinal, a repressão à imigração continuará a pesar sobre a força de trabalho, o que, por sua vez, provavelmente manterá a taxa de desemprego baixa e o mercado de trabalho mais apertado do que antes. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.