21/Aug/2025
Depois de colherem uma safra histórica de grãos, com um recorde de 345,2 milhões de toneladas, produtores de todo o Brasil já se preparam para iniciar um novo plantio. Apesar do clima de incerteza em razão das tarifas do presidente norte-americano, Donald Trump, os agricultores já compraram os insumos e vão pelo menos manter a mesma área de cultivo, investindo mais em produtividade. O plantio da soja, principal produto agrícola brasileiro, começa em setembro e os produtores têm menos de um mês para uma definição sobre o tamanho da área cultivada. O período será marcado por duas expectativas: a chegada das chuvas e o tarifaço de Trump. A Embrapa Soja acredita que, mesmo com o cenário incerto, o País vai continuar batendo recordes de produção. O milho, que teve um desempenho histórico nesta safra, continuará avançando, e a soja pode ir além das 170 milhões de toneladas. Se não houver uma questão climática, será possível até aumentar esses patamares. Do ponto de vista agronômico, a perspectiva no caso da soja é de continuar aumentando a produção na faixa de 1% a 2% ao ano.
O principal cliente brasileiro para o grão é a China, e isso não será afetado de forma direta pelo tarifaço. Se sair um acordo na linha do que o Donald Trump cobra, de que a China compre mais soja norte-americana, isso pode afetar o poder de decisão do produtor, se ele vai plantar mais ou menos. A alternativa é plantar. O Brasil teve uma safra muito boa, com produtividade excelente para soja e milho, mas o cenário agora é outro. É provável que o País não vá ampliar, mas manterá as áreas que já temos, pois os adubos e as sementes estão comprados. Segundo o Sindicato Rural de Santo Ângelo (RS), no Rio Grande Sul há uma situação diferenciada do restante do quadro do País. Quatro estiagens e uma enchente severa descapitalizaram os produtores. Houve redução de 30% na área de trigo de inverno e os investimentos foram mais baixos. Como o produtor está inadimplente no sistema financeiro, os recursos foram poucos. A previsão é de que as áreas com milho e soja continuarão iguais. Mas não haverá grande produtividade por falta de investimento maior nas lavouras.
A expectativa é de que haja uma repactuação das dívidas por um prazo de 10 a 12 anos com juros acessíveis para que o produtor possa cumprir com suas obrigações. Mesmo que o clima colabore, não será uma colheita exemplar. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as primeiras estimativas para a safra 2025/2026 serão disponibilizadas no início de setembro. Nas próximas semanas, os técnicos vão a campo colher informações. Com a colheita recorde obtida na safra 2024/2025, de 345,2 milhões de toneladas, a maior oferta de grãos já causou impacto nos preços de mercado, que estão em patamares inferiores às cotações observadas no mesmo período da safra anterior. A maior queda de preços atingiu o arroz, o que levou o governo federal a lançar ações de apoio aos produtores. Na semana passada, a Conab autorizou a compra de arroz por meio de contratos de opção (COV) de produtores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Além dos leilões da COV, a Conab foi autorizada a adquirir até 20 mil toneladas do grão por meio de aquisição do governo federal (AGF).
O governo afirma que a boa produção, além de suprir o consumo interno, possibilitou um aumento nas exportações. A maior disponibilidade de soja, milho e arroz tem possibilitado a recuperação dos estoques de passagem, o que é bom para o mercado. A colheita de algodão também atinge um novo recorde, o que permite que as vendas internacionais apresentem crescimento, sem impacto nos estoques de passagem da fibra. As tarifas norte-americanas não terão impacto sobre os preços dos fertilizantes e defensivos porque os Estados Unidos não se configuram como um importante fornecedor do insumo. Além disso, o produtor brasileiro já comprou a maior parte do que precisa para a futura safra. O volume de fertilizantes importados pelo Brasil no primeiro semestre de 2025 alcançou 19,41 milhões de toneladas, crescimento de 9,29% frente ao mesmo período do ano anterior. A maior entrada foi pelo Porto de Paranaguá (PR), com 5,14 milhões de toneladas, seguido pelos portos do Arco Norte e de Santos (SP). Esse é um indicativo de que os produtores continuarão investindo em aumento de produtividade.
Um componente novo no cenário agrícola nacional é o reaparecimento da lagarta-do-cartucho, praga que havia sido controlada com a biotecnologia VIP, usada em sementes de milho. A volta da lagarta indica que a ferramenta de resistência e controle da praga perdeu a eficácia, segundo a Fundação Mato Grosso. Normalmente, os produtores planejam fazer duas ou três aplicações de inseticidas no milho, mas este ano houve casos de produtores que tiveram de fazer seis ou até sete devido à baixa eficiência das biotecnologias. A Conab diz que tem acompanhado as ocorrências da lagarta-do-cartucho durante as viagens de campo para levantamento da safra, nas principais regiões produtoras. Para a Embrapa, esse problema aparece quando se repetem os plantios dos mesmos cultivares, como é a prática no Brasil. Uma das formas de controle seria o manejo mantendo áreas de refúgio com sementes de milho sem a tecnologia para o controle biológico da praga. A incidência ainda é pontual e não deve comprometer a produção. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.