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14/Aug/2025

EUA pode impor tarifa extra sobre países do Brics

A escalada da retórica e das medidas comerciais do governo de Donald Trump nos Estados Unidos contra os países do Brics reacende temores de um avanço protecionista capaz de afetar a economia global. Embora até o momento a ameaça de tarifas secundárias de 10% contra o bloco não tenha se concretizado, economistas e especialistas alertam para o risco real de sua aplicação e para as possíveis consequências ao comércio internacional. Existe consenso entre analistas de que há risco de aplicação das tarifas norte-americanas contra o Brics, mas eles não veem esse risco da mesma forma. Para o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), o risco é "incerto e variável por país". A ameaça de Trump de tarifa adicional de 10% a países alinhados ao bloco abre espaço para aplicação seletiva e recuos táticos.

Ressalta-se ainda a heterogeneidade dos interesses internos do grupo, o que dificulta uma resposta conjunta. Há capacidade de coordenação retórica e ações pontuais, mas a prática permanece fragmentada. Índia e China têm atritos geopolíticos; Brasil quer preservar acesso a mercados; Rússia e Irã têm prioridade em aliviar sanções. Na mesma linha, a Universidade Federal Fluminense (UFF) também vê o Brics como um grupo heterogêneo e pouco coeso, sem perspectiva de uma resposta unificada formal. Pode ser que alguns países se unam, mas não o Brics como organização. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) pontua que, apesar da ausência de um acordo formal entre os países, é possível acelerar a integração por meio de relações bilaterais para fortalecer o comércio interno do grupo e mitigar os efeitos da pressão tarifária e política dos Estados Unidos.

O ING avalia que a pressão de Trump sobre o Brics deve aumentar. Um ponto crítico para o bloco é a relação comercial entre Estados Unidos e China: o mercado aposta na continuidade da distensão, mas um rompimento pode abrir nova fase de conflito contra o Brics. A ameaça de sanções secundárias tornou-se mais real. Para a Capital Economics, as tarifas de Trump aumentam a coesão diplomática entre os Brics, mas o impacto prático é limitado. Apesar de o comércio interno do bloco crescer, ele é dominado pela China, o que restringe os benefícios de uma integração mais estreita e pode gerar atritos. Fora do eixo chinês, os laços comerciais entre Brasil, Índia e África do Sul são reduzidos, e a ideia de uma moeda comum permanece improvável.

O entendimento sobre a natureza das medidas de Trump também é um ponto de divergência entre os especialistas, que ora as veem como tarifas, ora como sanções. A FGV é enfática ao classificar as tarifas como sanções, já que pelas regras mínimas do comércio internacional, não se pode elevar as tarifas unilateralmente. Donald Trump vê o Brics como uma questão ideológica por causa da China. Não é uma questão de comércio nem econômica, o que reforça a denominação das sobretaxas como sanções. Embora conceitualmente diferentes de sanções, as tarifas dos Estados Unidos têm caráter extraterritorial e visam alterar comportamentos comerciais, como no caso da tarifa de 25% contra a Índia pela compra de petróleo russo. Independentemente do termo utilizado, a política comercial de Trump tem provocado reações inclusive na Organização Mundial do Comércio (OMC).

O Brasil foi um dos países que recorreu à OMC contra as tarifas, mas a resolução será lenta e, provavelmente, ignorada pelos Estados Unidos. Por carregar um componente político específico (as tensões entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal), o caso brasileiro se diferencia dos demais e isso, dentro da discussão sobre classificar como tarifas ou sanções, pode pender mais para sanção. Entre as potenciais áreas de atrito, o comércio de fertilizantes aparece como ponto sensível para o País. A FGV chancela a preocupação do agronegócio brasileiro de que Trump poderia impor mais tarifas devido à importação de fertilizantes russos, no mesmo molde da sanção aplicada à Índia por importação de petróleo russo.

A pressão dos Estados Unidos pode estimular a autossuficiência em setores estratégicos e a busca por novos mercados. O ativista político William Browder, que fez campanha global para a aprovação da Lei Magnitsky nos Estados Unidos, avalia de outra forma. Ele afirmou que as sanções atingem o petróleo russo, não os fertilizantes. Sobre os efeitos indiretos da instabilidade tarifária norte-americana sobre investimentos e comércio, a volatilidade nas políticas de Trump pressiona empresas a investirem nos Estados Unidos e dificulta a atração de capital. "Trump pode aumentar as alíquotas tarifárias a qualquer hora. Nada o impede". Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.