12/Aug/2025
O atual patamar da taxa básica de juros, de 15% ao ano, representa o principal obstáculo estrutural para a expansão do mercado de capitais no financiamento do agronegócio brasileiro, mantendo o setor dependente de crédito rural subsidiado mesmo diante da insuficiência crescente de recursos públicos. Executivos do mercado financeiro apontaram que a Selic elevada cria um paradoxo: instrumentos privados maduros e um agro de excelência mundial limitados pelo ambiente macroeconômico desfavorável. O Sicoob exemplificou o impacto direto dos juros altos com caso da Cooperativa Aurora, de Santa Catarina. A diferença de custos força até grandes cooperativas a subsidiarem operações internamente. A taxa de 12% do Plano Safra para financiar aviários já é cara. Quando o mercado privado precisa cobrar mais que isso, foi preciso fazer uma equalização interna, tirar resultado da cooperativa, para viabilizar o financiamento.
Para a Kijani Investimentos, o cenário atual torna mais estratégico buscar capital estrangeiro do que competir domesticamente com a renda fixa. Num cenário de taxas de juros tão altas, talvez seja mais efetivo investir para abrir o mercado brasileiro para o estrangeiro no agro do que tentar trazer a previdência para comprar papel pré-fixado quando pode colocar dinheiro no CDI. O agro brasileiro tem vantagem natural para atrair recursos externos por ser naturalmente dolarizado, dada a característica dos exportadores, eliminando o risco cambial. Contudo, a B3 alertou que mesmo investidores estrangeiros enfrentam barreiras de precificação. O emissor nunca vai optar por um estrangeiro que vai querer CDI mais alguma coisa quando tem alternativa de operação isenta no agro para pessoa física. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contextualizou que o problema se agrava porque os recursos públicos estão ficando mais escassos pelo tamanho do agronegócio, criando uma pressão por alternativas privadas justamente quando estas se tornaram menos competitivas.
A solução passará pela atração de fundos de previdência, que têm horizonte de longo prazo, mas isso demandará taxas mais atrativas. O Sicoob foi enfático sobre a necessidade de um novo ciclo monetário: quando tiver novamente um ciclo de baixa na taxa de juros, será possível fazer algo massificado, se tiver preço competitivo para essa grande massa de médios produtores. O médio produtor está "numa zona cinza": não é grande o suficiente para acessar eficientemente o mercado de capitais, mas enfrenta restrições no crédito subsidiado. A questão tributária amplifica o problema. Os instrumentos atuais (CRA e Fiagro) dependem de isenções para pessoa física, criando um "teto" para a expansão. Em algum momento esse ciclo de investimentos de pessoas físicas vai ter um limite e precisaremos atrair, de forma competitiva, o mercado de previdência.
A Kijani defendeu que uma melhor alocação dos subsídios públicos poderia otimizar o sistema. Se tivesse alocação mais racional dos recursos, seria possível fazer o mercado de capitais avançar mais, liberando o crédito subsidiado para quem mais precisa. Há desequilíbrios onde sobra dinheiro em lugares onde não precisava de tanto incentivo e falta em outros. Os especialistas concordaram que o Brasil construiu um arcabouço regulatório sólido, com CRA, Fiagro e securitizadoras especializadas, mas a taxa de juros estruturalmente alta impede que esse sistema atinja seu potencial. O resultado é um agronegócio que, mesmo sendo referência mundial em produtividade, permanece atrelado ao financiamento público num momento em que demanda recursos muito superiores à capacidade fiscal do governo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.