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11/Aug/2025

Impacto negativo de tarifas na economia dos EUA

O economista Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel em 2008, afirmou que há sinais cada vez mais claros de que os Estados Unidos caminham para uma estagflação (termo usado para designar períodos em que há uma combinação de estagnação econômica com inflação alta). Em artigo publicado no Substack, o economista diz que o ponto de partida para qualquer discussão sobre esse cenário é o fato de que o presidente Donald Trump está adotando políticas extremas tanto no comércio quanto na imigração. “Ele reverteu completamente 90 anos de liberalização comercial gradual, nos trazendo de volta às taxas de tarifas Smoot-Hawley (e as importações como percentagem do PIB são hoje três vezes o que eram em 1930, então essas tarifas importam muito mais)”, escreveu. As Tarifas Smoot-Hawley foram adotadas em 1930 nos Estados Unidos, em meio à Grande Depressão, e aumentavam drasticamente as taxas sobre as importações feitas pelos norte-americanos.

Krugman mostra também que, em relação à imigração, o U.S. Immigration and Customs Enforcement (ICE, a agência de imigração e controle de alfândega dos Estados Unidos) iniciou há não muito tempo as detenções e deportações em massa, mas o número de trabalhadores nascidos no estrangeiro nos Estados Unidos já está diminuindo, após anos de rápido crescimento. “Essas reversões repentinas de políticas claramente levarão a uma inflação maior no próximo ano ou depois”, escreve. “Há quase um consenso completo entre os economistas de que as tarifas são inflacionárias. Até onde eu posso dizer, os únicos dissidentes são economistas que trabalham, diretamente ou de fato, para a administração Trump. Afinal, uma tarifa é basicamente um imposto seletivo sobre vendas imposto a bens produzidos no exterior. Existe algum cenário sob o qual as tarifas não aumentariam os preços ao consumidor?”, questiona. Para Krugman, a única maneira de as tarifas falharem em ser inflacionárias seria se os exportadores estrangeiros cortassem seus preços, em uma tentativa de manter sua participação no mercado. “Pode haver algumas empresas estrangeiras fazendo isso, mas na maior parte isso simplesmente não está acontecendo”, diz.

“Para manter os preços ao consumidor, diante de um aumento de 15 pontos nas taxas de tarifas médias, que é mais ou menos o que Trump fez, as empresas estrangeiras teriam de cortar seus preços em dólares em mais de 13%.” A guerra contra os imigrantes também é inflacionária, diz o economista, porque está cortando a produção em indústrias que dependem fortemente de trabalhadores nascidos no estrangeiro. “Começam a proliferar histórias de safras deixadas para apodrecer nos campos porque os agricultores não conseguem encontrar ninguém para colhê-las, projetos de construção prejudicados por batidas do ICE e um clima de medo, e mais.” “Então, a inflação está acontecendo? Até agora, houve apenas indícios de inflação impulsionada por tarifas nos dados oficiais. O que parece ter acontecido até agora é que empresas dos Estados Unidos se apressaram em importar e estocar produtos estrangeiros antes que as tarifas de Trump entrassem totalmente em vigor, e ainda estão, em grande parte, vendendo esses estoques”, escreve Krugman. “Além disso, muitas empresas relutaram em aumentar os preços, afastando clientes, enquanto havia uma chance de Trump fazer acordos que reduzissem significativamente as tarifas novamente.” Isso, no entanto, não está acontecendo, diz.

“É verdade que muitas das tarifas de Trump são claramente ilegais, e os tribunais poderiam forçá-lo a revertê-las. Mas eu não criaria muitas expectativas. E se as tarifas vierem para ficar, podemos esperar que sejam repassadas aos compradores.” “Veremos evidências claras do impacto inflacionário da ‘Trumponomics’ no relatório de preços ao consumidor da próxima semana? Trump entrará em outra rodada de diatribes sobre estatísticas manipuladas daqui a alguns dias? Honestamente, eu não sei. Mas podemos ter muita confiança de que, graças às políticas de Trump, a inflação de inverno está chegando”, escreve. “E quanto à estagnação? Contrariamente ao que muitas pessoas acreditam, tarifas não necessariamente levam a um alto desemprego. A América tinha uma alta tarifa média mesmo antes de Smoot-Hawley (15,8% em 1929), mas a taxa de desemprego em 1929 estava abaixo de 3%”, diz. Segundo ele, a razão pela qual muitos economistas acreditam que as tarifas de Trump aumentarão o desemprego não é tanto o nível delas, mas muito mais a incerteza que criam.

“Como você pode esperar que as empresas façam investimentos de longo prazo quando não sabem se enfrentarão tarifas de 10% ou 35% daqui a um ou dois anos?” Para Krugman, até se pode argumentar que a incerteza tarifária diminuirá depois de Trump ter feito “acordos” com alguns dos principais parceiros comerciais. Mas ele lembra que não são acordos comerciais formais e assinados. “E as afirmações de Trump sobre o que outros países concordaram, como sua insistência de que a Europa prometeu a ele um fundo reserva de US$ 600 bilhões e ‘eu posso fazer o que eu quiser com ele’, são contraditas pelos próprios países. Então a incerteza tarifária permanece alta. E a incerteza criada por detenções e deportações em massa, igualmente provável de prejudicar os negócios, está apenas começando”, diz. Segundo ele, a única coisa que está impedindo uma desaceleração econômica realmente grande é o boom em centros de dados e outros investimentos relacionados à inteligência artificial.

Mas, mesmo com o boom da IA, diz, a economia dos Estados Unidos claramente está desacelerando. “As taxas de crescimento trimestral foram erráticas, principalmente por causa de oscilações selvagens nas importações, que dispararam no início deste ano à medida que as empresas tentavam antecipar as tarifas, e depois despencaram, à medida que as tarifas entraram em vigor.” Porém, diz, se as pessoas “suavizarem a loucura” olhando para semestres, em vez de trimestres, já se vê uma desaceleração clara. “Na semana passada, Trump demitiu a chefe do Escritório de Estatísticas Trabalhistas (BLS) por causa de um relatório fraco de empregos, que ele insistiu ser ‘manipulado’ e politicamente motivado”, escreve Krugman. “Mas esses novos números apenas trouxeram o BLS para a linha com múltiplos outros indicadores sugerindo uma economia enfraquecida.” Segundo ele, vale a pena lembrar que os últimos dois anos da administração Biden foram marcados pela “desinflação imaculada”, com a inflação caindo enquanto a economia mantinha um crescimento sólido. “Mas agora a inflação está chegando, enquanto a estagnação parece ter chegado. Então, estagflação é o caso.”

Para o UBS, as tarifas aplicadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provavelmente pesarão sobre a atividade econômica e aumentarão a inflação. As tarifas acabarão reduzindo o crescimento do PIB norte-americano em cerca de 1%. O índice de preços ao consumidor (CPI) terminará cerca de 1% acima do que seria sem as tarifas. Com as finanças públicas dos Estados Unidos em um caminho insustentável, a receita gerada pelas tarifas deve ajudar a manter a relação déficit orçamentário/PIB na faixa atual de 6% a 7%, em vez de aumentar ainda mais, o que, por sua vez, poderia manter as taxas de juros mais baixas do que seriam sem as tarifas. Os países que enfrentam tarifas mais altas não estão retaliando, por enquanto e ao contrário da maioria das expectativas no início da guerra comercial, o que limita os danos à economia global e diminui o potencial de escalada.

A expectativa é de que mais países concordem com acordos estruturados, em vez de enfrentar tarifas recíprocas elevadas por um período prolongado, por exemplo, Índia e Suíça. No entanto, há riscos de que os acordos se desfaçam se houver interpretações divergentes sobre o que está incluído nos acordos tarifários e o que constitui adesão de boa-fé. Sem memorandos de entendimento assinados ou acordos escritos, existe o risco de mal-entendidos e erros de cálculo. No total, a alíquota tarifária efetiva dos Estados Unidos deve se estabilize em torno de 15%, o que corresponde a uma faixa tarifária de 30% a 40% para a China e de 10% a 15% para outros países. Com vários acordos já em vigor, também é considerado improvável que a tarifa efetiva geral dos Estados Unidos exceda 20%, o que constituiria o cenário negativo, com alto risco de uma recessão subsequente nos Estados Unidos. Fonte: Broadcast Agro.