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01/Aug/2025

Setores de café e carnes tentam entrar em exceções

Para a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a lista com quase 700 exceções surpreendeu positivamente para o Brasil. A lista de exceções atenuou claramente o tarifaço. Alguns grupos já se mobilizam para ampliar exceções até o dia 6 de agosto. Os setores que ficaram de fora, claro, comemoraram. A CitrusBR, que abriga as grandes empresas do setor de laranja, recebeu a notícia “com alívio e responsabilidade”. Mesmo desidratado em relação ao que se esperava, ainda assim a taxação é extremamente alta para muitos setores, o que deve provocar problemas graves em muitas empresas, provavelmente até com fechamentos de unidades e demissões.

A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) afirmou que ainda há espaço para negociação antes da entrada em vigor das novas tarifas. O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) disse que “seguirá em tratativas” com seus pares nos Estados Unidos para que o produto integre a lista de exceções. Entre os parceiros, o Cecafé cita a National Coffee Association. Alguns produtos do agronegócio, principalmente o suco de laranja, além de polpa de laranja e castanha-do-pará, já entraram na lista e terão taxação de 10%, não recaindo a sobretaxa de 40%.

O Cecafé cita, entretanto, que os cafés brasileiros representam uma fatia superior a 30% do mercado cafeeiro norte-americano e o Brasil é o principal fornecedor do produto aos Estados Unidos. A Associação Brasileira de Máquinas (Abimaq) observou que o setor não foi contemplado na lista de exceções. Trump beneficiou apenas produtos que terão impacto sobre a economia norte-americana e, no caso das máquinas, o Brasil é visto como um concorrente. Contudo, houve pelo menos a boa notícia de que os produtos já em trânsito para os Estados Unidos não serão tarifados.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) avaliou como positiva a extensão de prazos. A tarifa entra em vigor daqui a 6 dias para produtos que estão nos Estados Unidos e em 5 de outubro para os que forem embarcados em até 7 dias. Isso faz com que as carnes que estavam no mar ou desembaraçadas nas aduaneiras brasileiras possam chegar aos Estados Unidos em tempo hábil. Estima-se que 30 mil toneladas da proteína estavam em alto-mar ou embarcadas nos portos nacionais prontas para serem encaminhadas aos Estados Unidos após o anúncio da imposição da tarifa em 9 de julho. Sobre a carne bovina ter ficado fora da lista, a Abiec ressaltou que “o governo está tentando negociar”.

A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) avalia que a imposição de uma tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos deve "inviabilizar" a venda para o mercado norte-americano. Os Estados Unidos são o principal destino internacional do setor calçadista brasileiro. Há empresas cuja produção é integralmente enviada ao mercado externo, a maior parte para os Estados Unidos. Essas empresas terão produtos muito mais caros do que os importados da China, por exemplo, que pagam uma sobretaxa de 30%. A Abicalçados fala em uma perda de 8 mil empregos diretos.

A associação lamentou que os esforços de empresários e do corpo diplomático brasileiro não tenham sido suficientes para que o governo norte-americano mantivesse a "histórica relação comercial entre Brasil e Estados Unidos". Para mitigar os efeitos dessa medida na indústria, a Abicalçados defende que o poder público implemente linhas para cobrir o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) em dólar com juros do mercado externo; a ampliação do Reintegra para exportadores; a liberação imediata de créditos acumulados do ICMS; e a reedição do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm). Os Estados Unidos respondem por mais de 20% do valor total gerado pelas exportações do setor. No primeiro semestre de 2025, o Brasil exportou ao país US$ 111,8 milhões, equivalentes a 5,8 milhões de pares de calçados.

O levantamento "Impacto das tarifas dos EUA", feito pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil, a Amcham Brasil, mostra que 88% das empresas defendem que o melhor caminho para o Brasil é negociar com os Estados Unidos a taxação de 50% sobre determinados produtos, sem recorrer a medidas de reciprocidade. A pesquisa foi realizada entre 24 e 30 de julho, antes da publicação da ordem executiva do governo norte-americano, com 162 empresas. Para 86% dos entrevistados, uma possível retaliação agravaria as tensões entre Brasil e Estados Unidos, o que reduziria o espaço para o diálogo. Por outro lado, apenas 10% expressaram apoio a medidas imediatas de reciprocidade.

A Amcham calcula que a lista de exceções, que contempla 694 produtos, equivale a US$ 18,4 bilhões em exportações brasileiras em 2024. O valor também corresponde a 43,4% do total de US$ 42,3 bilhões exportados pelo Brasil para os Estados Unidos. Entre as empresas entrevistadas, 59% são brasileiras, 23% norte-americanas e 18% de outros países. A maioria dessas companhias é exportadora de bens para os Estados Unidos (41%), seguida por importadoras dos Estados Unidos (35%) e aquelas que não têm relação direta, mas podem ser impactadas indiretamente (33%).

De acordo com o estudo, 59% das empresas exportadoras preveem interrupção total ou queda acentuada nas vendas ao mercado norte-americano com a entrada em vigor da nova taxa, ameaçando setores estratégicos do comércio bilateral. A pesquisa aponta também que as principais preocupações dos participantes incluem agravamento das tensões com os Estados Unidos e redução do espaço para negociação (86%), impactos em setores brasileiros dependentes de insumos, tecnologias ou equipamentos dos Estados Unidos (71%), prejuízo à imagem do Brasil como destino de investimentos (50%) e aumento à insegurança jurídica no ambiente de negócios (45%). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.