30/Jul/2025
O ano de 2025 pode ser o pior da história para o mercado de seguro rural no Brasil. O congelamento de R$ 445 milhões do orçamento do programa de subvenção federal, cerca de 42% da verba total de R$ 1,06 bilhão, vai reduzir a área segurada para menos de 5 milhões de hectares, algo inédito em sete anos, e deixar milhares de produtores sem acesso a apólices, principalmente para a cobertura da safra de soja, que pode enfrentar o fenômeno La Niña em fevereiro de 2026, na época da colheita. Sem a garantia de recursos para a subvenção, a comercialização de apólices para a safra de verão está quase paralisada. O cenário de juros altos e margens espremidas no campo também afeta a venda de seguros, cuja contratação fica inviável para muitos produtores. Seguradoras já estimam perdas de receita de 30% a 40% do previsto para 2025 com a arrecadação de prêmios com seguro rural. Para piorar o cenário, o governo ainda não pagou R$ 129 milhões relativos a apólices do ano passado, o que atrapalha o fluxo de caixa das companhias em um momento em que já precisam desembolsar sinistros de geadas na safra de inverno.
A Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) diz que o setor se programou para cobrir até 20 milhões de hectares em 2025, com aporte de capital de risco das resseguradoras, mas os planos foram frustrados. A área segurada deve ficar entre 4 milhões e 5 milhões de hectares, desempenho semelhante ao de 2018 (4,6 milhões de hectares). Se não tiver o descontingenciamento, com certeza esse será o pior ano para o mercado de seguro rural depois que as coisas começaram a se encaixar. Em 2021, a área segurada chegou a 13,6 milhões de hectares. Nos últimos anos, porém, ficou em torno de 7 milhões. O orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) em 2025 era de R$ 1,06 bilhão. Desses, R$ 67 milhões foram usados para pagar apólices contratadas em 2024. Dos R$ 992 milhões restantes, houve congelamento de R$ 445 milhões em junho, diante da necessidade do governo de controlar gastos. O Ministério da Agricultura ainda não sabe se o recurso do seguro será liberado após melhora nas contas do governo.
As informações sobre o desbloqueio deverão ser divulgadas pelo Ministério do Planejamento e Orçamento após o dia 30 de julho. A verba disponível para aplicação até agosto é de R$ 547,7 milhões, sem previsão de recursos para os grãos de verão, como a soja, principal produto atendido pelo programa. Em 2024, dos 7,1 milhões de hectares segurados, 4,7 milhões foram da oleaginosa. Tarifaço dos Estados Unidos, custos de produção em alta, margens apertadas e juros nas alturas foram a “espiral negativa” para o mercado segurador. O custo do seguro é a última linha do produtor. Se tiver que abrir mão de algo e tomar risco, ele não compra o seguro. Na avaliação da Newe Seguros, as seguradoras vão sentir um “baque” neste ano. A contratação de seguro para a safra de verão (1ª safra 2025/2026) está pífia. Todo mundo está muito assustado com a baixa aderência. O mercado já considera como definitivo o corte na subvenção. Os R$ 445 milhões congelados no orçamento poderiam alcançar até R$ 37 bilhões em importância segurada se fossem destinados apenas para seguro de soja no segundo semestre, cuja taxa de prêmio é de 6%.
O corte na subvenção vai limitar a receita das seguradoras a 60% ou 70% do projetado no início do ano. De janeiro a maio, a arrecadação de prêmios de seguro agrícola e pecuária já caiu quase 18%, para R$ 1,6 bilhão, segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg). Outro problema é a dívida de R$ 129 milhões que o governo tem com apólices contratadas em 2024 com subvenção. Nunca houve um prazo tão dilatado de pendência de pagamentos. Isso afeta e desestimula toda a cadeia. A subvenção de R$ 179 milhões para apólices contratadas para a safra de inverno também não foi paga até agora. Também há preocupação com a janela de contratação do seguro. Para o verão, as vendas começam em maio e vão até meados de setembro. Há um atraso na comercialização. Deveria estar no auge e está só no começo, justamente pela falta de subvenção, que afeta a decisão do produtor, afirma a Sombrero Seguros. A empresa esperava alcançar até 400 mil hectares por ano. Esse patamar vai diminuir.
A competição está mais acirrada. Todo mundo vai perder um pouco. A subvenção federal banca entre 20% e 40% do valor do prêmio. Outro problema para este ano é a “anti-seleção” que a escassez de recursos para a subvenção causa. A percepção de agentes financeiros é que produtores menos tecnificados e com menor nota de crédito precisam da proteção. O cenário aumenta o risco das seguradoras. Ao mesmo tempo, agricultores do Centro-Sul “machucados” com as perdas das últimas safras tentarão garantir suas apólices, com produtos mais baratos e menos cobertura. O Ministério da Agricultura afirmou que as contratações continuam, pois há expectativa de desbloqueio do orçamento até o fim do ano. A Pasta prevê quitar os pagamentos pendentes de 2024 até agosto. Sobre os R$ 179 milhões de subvenção de apólices da safra de inverno, não há previsão de desembolso para as seguradoras. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.