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30/Jul/2025

Plano de Contingência contra o tarifaço dos EUA

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (29/07) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai decidir entre um cardápio de diferentes medidas para o plano de contingência em relação às tarifas impostas pelos Estados Unidos em produtos brasileiros. Ele não antecipou quais ações serão adotadas. Tem desde coisas estruturais até coisas de curto prazo, que é, por exemplo, o socorro a empresas que sejam duramente afetadas e não tenham condições de enfrentar esse desafio que está sendo imposto ao Brasil. Um socorro às empresas poderia ocorrer via concessão de crédito a juros baixos e com prazo de carência, como ocorreu após a tragédia do Rio Grande do Sul em 2024. As empresas brasileiras provavelmente terão de se adaptar e abrir novos mercados, mas não poderão fazê-lo no curtíssimo prazo. As medidas serão utilizadas de acordo com a necessidade de cada setor. Haddad acrescentou que a pauta de exportações do Brasil é mais diversificada do que a de outros países ameaçados com tarifas, como Canadá e México.

O País vende mais para outras regiões do que para os Estados Unidos. Além disso, o acordo de comércio entre Mercosul e União Europeia já está avançado e pode ser concluído ainda este ano. O ministro lembrou que o Brasil tem déficit comercial com os norte-americanos, o que elimina a necessidade de sanções econômicas. Ele acrescentou que as tarifas devem aumentar os preços de produtos para consumidores norte-americanos, e podem derrubar os preços no Brasil, pelo redirecionamento de oferta. "Tudo para dizer que a gente tem que ter muita cautela, muita sobriedade, nós não podemos nem ser arrogantes, nem ser submissos", afirmou. Várias medidas estudadas pelo governo para compor o "plano de contingência" em relação às tarifas norte-americanas vão depender de aval do Congresso. Ele avaliou que o Legislativo deve dar anuência a essas ações. O Congresso não vai se furtar a atender esses setores que estão sendo afligidos por essas medidas.

O chefe da Fazenda afirmou esperar apoio de todas as forças políticas às medidas, diante do tamanho da emergência, ponderando que o Legislativo tem a liberdade de propor mudanças nas ações. A maioria das ações depende de aprovação de leis, disse o ministro. Ele aproveitou para criticar a oposição, acusando-os de estar "sabotando" a iniciativa em Washington da comissão de senadores que tenta negociar a não aplicação das tarifas. "Já deve ter uma compreensão, e isso eu disse no primeiro dia do anúncio, que isso foi um grande tiro no pé. Você lutar contra o seu país, você concorrer para interesses de uma potência econômica que tem uma renda per capita cinco vezes superior à do Brasil, não faz o menor sentido isso", disse Haddad. Mais uma vez, ele criticou uma força política dentro do País que estaria agindo contra o Brasil, referindo-se à família do ex-presidente Jair Bolsonaro. Haddad afirmou que há mais tópicos em relação à investigação norte-americana sobre práticas comerciais do Brasil do que os que constam da carta publicada em redes sociais pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Ele lembrou que as provocações feitas pelo governo aos Estados Unidos ainda não foram respondidas. É muito difícil hoje, antes de saber a decisão do governo dos Estados Unidos, qual decisão vai ser tomada, antecipar qualquer medida. Por causa dessa incerteza, é necessário ir adotando medidas eventualmente necessárias progressivamente, com o objetivo de mitigar os efeitos deletérios das tarifas sobre a economia brasileira. Haddad ainda relatou que está trabalhando para dialogar com as autoridades norte-americanas desde o anúncio das tarifas de 10%. Ele disse ter se encontrado com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, por intermédio do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, em maio. E negou que o governo tenha subestimado o risco da política comercial de Trump, chamando atenção para uma "mudança de postura" dos Estados Unidos. De maio a julho, Donald Trump mudou completamente de postura em relação ao mundo. O que o México está sofrendo é muito mais grave do que o Brasil está sofrendo. O que o Canadá está sofrendo é muito mais grave do que o Brasil está sofrendo.

Ele reconheceu que o País tem desvantagem para negociar com os Estados Unidos, mas destacou que mesmo outros blocos ou países ricos, como União Europeia e Japão, também passam por isso. E afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está disposto a conversar com Trump, mas não a passar por uma humilhação. "Você não vai querer que o presidente Lula se comporte como o Bolsonaro se comportava, abanando o rabo e falando 'I love you', batendo continência", disse Haddad. Se houver uma reunião entre os presidentes, um telefonema entre os presidentes, é preciso ter a segurança que não vai acontecer com o presidente Lula o que aconteceu com Volodymyr Zelenski, presidente da Ucrânia, que passou um papelão na Casa Branca. A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, declarou que o pacote de medidas para fazer frente à tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos representa uma “reação”, e não uma “retaliação”.

A avaliação interna, no Palácio do Planalto, é de cautela sobre qualquer ação contra a medida dos Estados Unidos e os efeitos econômicos de uma guerra comercial entre as duas potências. Para a ministra, o governo Trump está sendo “induzido a erro” por mentiras da família Bolsonaro, em referência à carga política do anúncio do presidente norte-americano. “O governo Lula não saiu da mesa de conciliação com Estados Unidos porque não conseguiu sentar na mesa”, afirmou. Tebet também mencionou que é preciso esperar 1º de agosto para qualquer reação, olhando para dois caminhos: se haverá prorrogação da vigência da tarifa ou se os Estados Unidos vão diminuir alíquotas de setores específicos. Fernando Haddad também descartou a possibilidade de o governo federal retaliar os Estados Unidos com tarifas próprias. Assim como o governo Trump pode estar dando um tiro no pé, encarecendo produtos brasileiros que estão na mesa do norte-americano, o Brasil não vai cometer o erro simétrico, que seria encarecer aquilo que concorre para melhorar a produtividade da economia brasileira, baixar custos.

O ministro negou que as medidas em estudo pelo governo brasileiro sejam algum tipo de retaliação. Trata-se, na verdade, de "reações de proteção", ele argumentou. Segundo o ministro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou satisfeito com as medidas, porque dão a ele graus de liberdade para decidir. Segundo Haddad, todas as medidas respeitam regras internacionais e a Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo. Ele disse que Lula vai saber conduzir esse processo com sobriedade, sem bravata ou submissão, e vai dar a resposta com altivez e soberania. Ele destacou que o estilo do presidente norte-americano Donald Trump é difícil para o mundo todo, mas reconheceu que o Brasil é um ponto fora da curva em relação ao percentual das tarifas.

O ministro da Fazenda afirmou nesta terça-feira que há todas as condições de não tornar a próxima sexta-feira, 1º de agosto, um "dia fatídico". O Brasil vai continuar negociando, os canais estão sendo desobstruídos, vagarosamente, mas estão. O ministro relatou que, desde a data do anúncio, está trabalhando em medidas econômicas para o "plano de contingência". Segundo Haddad, não há clareza das ações que o governo norte-americano vai tomar a partir do dia 1º de agosto, nem mesmo do secretário de Estado dos Estados Unidos. Ele explicou que os quatro ministérios que trabalham mais de perto em relação às medidas que vão constar do "plano de contingência" são Fazenda, Casa Civil, Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e Relações Exteriores. No entanto, outras Pastas, como a Agricultura, também participam. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.