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30/Jul/2025

Um telefonema entre Lula e Trump ainda é incerto

A poucos dias da entrada em vigor de tarifas de 50% contra exportações brasileiras, interlocutores do governo Luiz Inácio Lula da Silva afirmam que não há previsão de ocorrer agora um telefonema entre o petista e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Embora a chamada esteja fora do radar no momento, a possibilidade de contato direto à distância existe e vem sendo cogitada por aliados políticos de Lula, membros da diplomacia e conselheiros presidenciais. Algumas alas governistas e executivos de empresas mais afetadas pelo tarifaço defendem que o presidente tome a iniciativa de tentar o telefonema, passo que não foi decidido ainda. O governo brasileiro gostaria de ter a certeza de que Trump não somente atenderia Lula como estaria disposto a centrar a discussão na relação econômico-comercial e negociar as tarifas, para evitar constrangimentos políticos. Por outro lado, impera no governo Lula a visão de que Trump busca uma concessão de viés político-institucional, para reabilitar eleitoralmente o aliado Jair Bolsonaro. Nas palavras de integrantes do governo, Trump quer o “inegociável”.

Desde a posse do republicano, as interações dele com chefes de Estado e de governo estrangeiro chocaram o Planalto, que considerou ter havido “humilhações” em série a governantes estrangeiros, entre eles os presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e da Ucrânia, Volodmir Zelenski, durante visitas no Salão Oval da Casa Branca. A repetição de diálogos ríspidos, acusações e hostilidades é algo a ser evitado em possível interação com Lula. Por isso, eventual contato é cercado de cuidados e deve ser preparado pelas burocracias estatais, “sem improviso”, como destaca um embaixador. Não é a primeira vez que um telefonema entre eles é cogitado, mas não se materializa. Quando Trump foi eleito, em novembro de 2024, o governo brasileiro passou a considerar a possibilidade de uma chamada. Lula fez uma rápida publicação nas redes sociais reconhecendo a vitória de Trump como sinal de abertura nesse sentido, mas as divergências políticas prevaleceram. Trump e Lula são de campos ideológicos opostos e fizeram campanha para seus principais adversários eleitorais um do outro.

Além disso, têm um histórico de provocações e críticas mútuas. Eles se desencontraram na Cúpula do G7, no Canadá, em junho, e jamais interagiram. O contato virtual voltou a ser debatido após o anúncio do tarifaço de Trump contra o Brasil, por meio de uma carta assinada e divulgada por ele nas redes sociais, documento que o Itamaraty mandou devolver. Questionado em entrevistas, Lula chegou a dizer somente telefonaria para Trump quando tivesse o que falar com ele, mas depois mudou o tom e disse que o Brasil estava disposto ao diálogo quando o republicano quisesse conversar. Trump já admitiu que pode conversar com Lula, em algum momento, sem nunca marcar nem tomar a iniciativa de reunião. Ao contrário, os sinais recebidos são silêncio e canais bloqueados. Por isso, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fez chegar ao governo Trump sua disposição de ir a Washington nesta semana, caso pudesse ser recebido em alto nível para debater a questão tarifária. O chanceler participou de reuniões nas Nações Unidas, na segunda-feira (28/07), e permanecia em Nova York, nesta terça-feira (29/07), em articulações de bastidor, mas sem ter recebido qualquer sinal verde.

Um contato frutífero de Vieira com representante de Trump seria parte do protocolo prévio para o diálogo direto entre os presidentes. O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da comitiva de senadores enviada aos Estados Unidos, afirmou que "chegará o momento" em que as conversas sobre as tarifas aplicadas ao Brasil terão que ser no "alto nível", referindo-se à necessidade de uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Donald Trump. A relação de alto nível vai precisar ser feita. Isso não é nenhum demérito. Precisa ser organizado, porque são os interesses do Brasil. O senador disse que "o grupo não tem nenhuma condição de avançar na questão" e que se reuniu com dois senadores do Partido Republicano, o mesmo de Trump. Segundo ele, a ideia é convencer os parlamentares de que os Estados Unidos também perderão com as tarifas. O objetivo é chamar a atenção para que levem uma mensagem para o governo norte-americano que essa é uma situação muito ruim tanto para os Estados Unidos como para o Brasil. ele afirmou que a relação parece estar distensionada.

O senador Carlos Viana (Podemos-MG) afirmou que a fala do secretário do Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, reconheceu que o país pode reconsiderar e isentar de tarifas de bens como café, cacau e recursos naturais, é uma sinalização de abertura de diálogo com o Brasil. O setor cafeeiro do País, maior exportador mundial, é um dos mais impactados pela taxação de 50% do presidente Donald Trump. Essa é uma demonstração clara de que há condição de dialogar. É uma notícia muito positiva, disse Viana. O senador voltou a defender a necessidade de uma conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. Os parlamentares norte-americanos foram convidados a assinarem um manifesto da Câmara de Comércio dos Estados Unidos em favor do adiamento do início da cobrança das tarifas de 50% ao Brasil e concordaram em apoiar a medida. O senador afirmou que o partido Republicano "está dividido" em relação às sanções ao Brasil, que tem uma relação superavitária com os Estados Unidos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que uma conversa entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Donald Trump, vai acontecer se houver "boa vontade manifesta" para o diálogo. Os governos passam, mas a amizade do Brasil com os Estados Unidos tem 200 anos e ela vai sobreviver ao que está acontecendo. A expectativa é de que os Estados Unidos revejam a decisão que tomaram. O ministro acrescentou que, neste momento, o melhor que poderia acontecer seria manter as relações como sempre foram. Ele defendeu que países da América do Sul não deveriam pagar tarifas de exportação para os Estados Unidos, porque estão no mesmo continente e têm oportunidades de investimento e desenvolvimento.

O ministro acredita que vai acabar havendo uma compreensão, uma percepção de que isso vai contra os interesses do povo norte-americano. Ele acrescentou que só é possível se debruçar sobre o caso concreto das tarifas norte-americanas quando ele "estiver claro", repetindo que a aplicação das tarifas ainda está no plano da incerteza. Haddad reforçou, no entanto, a disposição de negociar. O canal da parte do Brasil vai estar sempre desobstruído, com dados concretos, com racionalidade, com o propósito de estabelecer uma relação equilibrada, para chegar a um entendimento. "Esta semana, em particular, eu vejo que esses canais estão começando a ser desobstruídos", afirmou Haddad. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.