30/Jul/2025
Os Estados mais impactos pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil começaram a anunciar medidas de socorro às empresas afetadas por conta própria, às vésperas de a taxação de 50% sobre os produtos importados pelos norte-americanos entrar em vigor, no dia 1º de agosto. As medidas incluem a concessão de crédito para empresas de diferentes setores que vendem para os Estados Unidos e temem inviabilizar negócios no Brasil e até suspender atividades e demitir funcionários. Os setores impactados vão desde o suco de laranja até aeronaves. O governo federal também prometeu socorrer empresas, mas decidiu esperar pelo “Dia D” para bater o martelo sobre as ações. Os governadores também querem chamar o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB), para uma reunião no Fórum dos Governadores. O objetivo é discutir o impacto das tarifas nos Estados brasileiros.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, lançou uma linha de crédito com juros subsidiados para exportadores. A linha de crédito “Giro Exportador” disponibilizará R$ 200 milhões com taxas de juros a partir de 0,27% ao mês mais a inflação. O prazo para pagamento é de até 60 meses, com carência de até 12 meses inclusa nesse período. Cada cliente pode financiar até R$ 20 milhões. Estão em São Paulo algumas das maiores empresas afetadas, como a Embraer, que estima um custo adicional de R$ 50 milhões por avião por conta da tarifa, e o setor do suco de laranja, com a produção liderada pelo Estado. O financiamento será dado pela Desenvolve SP, agência de fomento do Estado. Outra medida anunciada é a liberação de créditos do ICMS acumulados por empresas exportadoras, que ficam retidos no sistema tributário do Estado e que serão devolvidos às companhias. O impacto dessa parte pode atingir R$ 1 bilhão. O governo ainda prometeu ampliar o Fundo Garantidor no Estado, que possibilita acesso ao crédito com menos exigência de garantias.
São Paulo é o Estado que mais vende aos Estados Unidos, mas, em termos proporcionais, o mais impactado é o Ceará. No primeiro semestre deste ano, mais da metade do que o Ceará exportou teve como destino o país norte-americano. Em todo o ano passado, os Estados Unidos representaram 44,9% das exportações do Ceará, sobretudo por conta do aço e dos pescados. O governador do Ceará, Elmano de Freitas, está preocupado com os empregos que isso representa, com o pescado que está em contêiner, com a castanha de caju e com a cera de carnaúba. Ele citou o caso da ArcelorMittal, que representa metade das cargas movimentadas no Porto do Pecém e 78% do que exporta vai para os Estados Unidos. O Ceará não anunciou nenhuma medida específica, mas estuda alinhar um plano de ação com o governo federal. Uma das possibilidades é liberar créditos do ICMS para exportadores, mas há cobranças para que o governo federal repasse recursos ao Estado para compensar esses créditos retidos, como prevê a Lei Kandir, o que é tema de uma disputa histórica entre os governos estaduais e a União.
Esse é um dos assuntos que serão tratados com o vice-presidente Geraldo Alckmin. Em reação ao tarifaço dos Estados Unidos, o governador do Paraná, Ratinho Júnior, anunciou um pacote que inclui a liberação de créditos do ICMS para que as empresas vendam esses valores no mercado ou usem como aval para novos empréstimos. O governo estadual também estuda beneficiar exportadores com uma renegociação de empréstimos na Fomento Paraná e no Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e fazer um aporte no Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE) para novos empréstimos com juros mais baixos. Outra medida é exigir todas as contrapartidas de empresas que receberam benefícios tributários ao se instalarem no Estado. As tarifas impactam principalmente o setor de madeira no Paraná, que vende desde madeira cerrada até painéis prontos para os norte-americanos, mas também afeta fabricantes de cerâmica, café solúvel, peças para máquinas, peixes e mel.
Há cidades em que metade da economia depende de uma fábrica que é exportadora para os Estados Unidos. Todas as medidas em estudo se restringem a empresas que vendem para os Estados Unidos e forem afetadas. Só em financiamentos, o Estado pretende usar R$ 80 milhões do seu orçamento para alimentar linhas de crédito, que podem chegar a R$ 400 milhões. O tarifaço vai na contramão de tudo que foi construído até hoje e impõe uma barreira competitiva grandiosa para um país como o Brasil, que tem os Estados Unidos como o segundo maior país com quem faz comércio. O governo do Rio de Janeiro criou um grupo de trabalho para elaborar estudos que avaliem os impactos da taxação na economia. Com a medida, o governo do Estado terá um diagnóstico real de como os setores econômicos serão atingidos e quais medidas poderão ser tomadas para atenuar os efeitos do chamado ‘tarifaço’.
O Rio de Janeiro é o segundo Estado que mais exporta para os Estados Unidos, especialmente petróleo refinado e semimanufaturados de ferro e aço. O Grupo de Trabalho reunirá representantes de diversos setores produtivos, sem viés ideológico e com alto grau de tecnicidade, para avaliar de forma pragmática os impactos da nova tarifa. No Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite anunciou um programa de crédito de R$ 100 milhões por meio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), para socorrer exportadores gaúchos que vendem para os Estados Unidos. Os juros serão equalizados com recursos do Fundo Impulsiona Sul, que é instituído pelo banco, e ficarão entre 8% e 9% ao ano para capital de juro. Além do juro subsidiado, o prazo de pagamento será de 60 meses, com 12 meses de carência. Isso garantirá um fôlego para empresas enfrentarem eventual queda de demanda enquanto vigorarem as tarifas.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) estima perda R$ 1,92 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, com impacto em setores como produtos de metal, máquinas e materiais elétricos, madeira, couro e calçados. Dentro do segmento de produtos de metal, por exemplo, armas e munições têm 85,9% da produção exportada para os Estados Unidos. No Espírito Santo, as conversas com os principais setores atingidos estão a cargo do vice-governador, Ricardo Ferraço, que se reuniu na segunda-feira (28/07), com segmentos que podem sofrer impacto do tarifaço. Ainda não há decisão tomada sobre as medidas, mas o foco será mitigar o impacto no curto prazo, para depois ajudar esses setores a redirecionarem as exportações para outros mercados, em outro momento. O governador do Estado, Renato Casagrande, mantém contato com o governo federal por meio de Alckmin.
O Espírito Santo exporta cerca de US$ 10 bilhões em produtos por ano, com 30% desse total direcionado para o mercado norte-americano. Uma grande preocupação é com o impacto sobre o pequeno negócio e com nível de emprego. A prioridade é a manutenção dos micro e pequeno empresários, que não têm os mesmos arranjos das grandes empresas. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, se reuniu na segunda-feira (28/07) com o vice-presidente da República e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB), para convidá-lo para um encontro do Fórum de Governadores. O objetivo da reunião é tratar das novas tarifas anunciadas pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros. Cada Estado vai mostrar os seus impactos, e queremos formar uma comissão para acompanhar as negociações. É hora de agir com diálogo e união para proteger empregos, renda e a população, que é quem mais sofre.
Geraldo Alckmin recebeu muito bem o convite. O Fórum de Governadores é uma instância que reúne os chefes executivos dos 26 estados e do Distrito Federal para debater temas de interesse comum. Geraldo Alckmin afirmou na segunda-feira (28/07) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi contatado sobre uma possível ligação do para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo o vice-presidente, o governo brasileiro encaminhou aos Estados Unidos, por meio de uma carta de caráter confidencial, explicações sobre pontos comerciais entre os dois países. Sem detalhar os termos da negociação, Alckmin disse que o Brasil negocia “com reserva” com os Estados Unidos e ressaltou que o governo brasileiro está empenhado no assunto nesta semana.
A reunião marcada para esta quarta-feira (30/07), com o vice-presidente Geraldo Alckmin gerou um racha entre governadores de direita, que disputam o espólio do ex-presidente Jair Bolsonaro, e ampliou a guerra política em torno do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil. Nos bastidores, há uma avaliação de que o encontro com Alckmin terá peso simbólico a favor do governo, que já vem colhendo bons frutos políticos da ofensiva de Trump, com recuperação da popularidade, enquanto o bolsonarismo sofreu abalo no discurso nacionalista. Uma foto do vice de Lula cercado de governadores da oposição passará a imagem de que o Palácio do Planalto conseguiu reunir uma frente ampla para resolver o problema.
O convite para Alckmin participar da reunião do Fórum de Governadores partiu de Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal, mas o encontro ocorrerá no Planalto, território hostil para a direita. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que articula uma indicação de Bolsonaro ao Senado em 2026, decidiu não comparecer. Por outro lado, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), pré-candidato à Presidência, estará presente. O caso mais delicado é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), preferido do Centrão para substituir Bolsonaro na corrida pelo Planalto. Procurado por meio de sua assessoria, ainda não se manifestou.
Ao se movimentar para negociar o fim do tarifaço, Tarcísio foi alvo de críticas do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos e defende as tarifas de Trump como forma de pressionar para que seu pai não seja condenado no Supremo Tribunal Federal (STF) pela trama golpista de 2022. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a criticar a oposição nesta terça-feira (29/07). Sem citar nomes, ele disse que foi criada uma "fissura" no País. Alguns governadores defendem uma nação estrangeira, os Estados Unidos, em detrimento do interesse nacional, afirmou. Alguns governadores estão tendo m comportamento que é incompatível com o seu cargo. Um governador não pode estar concorrendo contra o interesse nacional, enfraquecendo a diplomacia brasileira, como alguns estão fazendo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.