30/Jul/2025
As guerras comerciais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm pouco de estratégia coerente e muito de improviso. Com suas ameaças em série, adiamentos arbitrários, critérios erráticos e objetivos sobrepostos, ora segurança nacional, ora imigração, ora déficits bilaterais, o presidente dos Estados Unidos transforma a política comercial em espetáculo imprevisível. O resultado é um colapso de confiança que mina o sistema global de trocas. Trump não só eleva tarifas: ele destrói expectativas. Em vez de seguir regras claras, os Estados Unidos de Trump operam à base de cartas biliosas, improvisos táticos e chantagens desconexas. Um dia o inimigo é a China, no outro, o Brasil, o México, o Canadá, a Europa, ou todos ao mesmo tempo.
O objetivo nunca é só comercial: Trump exige concessões em áreas desconexas, como regulação de tecnologia ou política de drogas. Para quem negocia, tudo pode ser moeda de troca. Essa instabilidade dissolve a previsibilidade que sustenta o comércio internacional, com custos severos: crescimento mais lento, investimento travado, empresas acuadas. Mas há um paradoxo. Justamente por ser errático, Trump também é um adversário maleável. Reage mal à confrontação direta, mas frequentemente recua quando lhe oferecem um acordo que possa vender como troféu. Foi assim com a China em 2020, com o México neste ano e, há poucos dias, com a União Europeia. A chave é o pragmatismo: oferecer gestos que soem grandiosos, mas custem pouco. Em vez de bravatas ou confrontos ideológicos, o que funciona é paciência estratégica.
O presidente Lula escolheu o caminho oposto. Optou por transformar Trump em um espantalho eleitoral. Preferiu o palanque à diplomacia, a retórica patrioteira à busca de canais de diálogo, minando os esforços diplomáticos de técnicos e empresários. Para o eleitorado, o confronto parece render popularidade. Mas, para o Brasil, o custo é alto. Enquanto outros países buscam interlocutores com acesso direto a Trump, o Brasil se isola. E corre o risco de desperdiçar as oportunidades que essa crise oferece. Porque, se bem administrado, o conflito pode servir como catalisador para mudanças que o País há muito precisa implementar. O Brasil vive há décadas num modelo protecionista que prometia desenvolvimento, mas entregou estagnação. A tentativa de "substituição de importações" produziu um setor industrial inchado, pouco competitivo e dependente de subsídios.
A baixa abertura comercial ajuda a explicar a produtividade estagnada, pressões inflacionárias e o eterno atraso. Entre os países mais fechados do mundo, o Brasil continua apostando em tarifas e barreiras alfandegárias como instrumentos de fortalecimento nacional. Mas, o resultado é o oposto. O protecionismo encarece insumos, desestimula inovação, agrava desigualdades, afasta investimentos e promove o clientelismo. Enquanto isso, países que abriram suas economias com inteligência, como a Índia, hoje mais bem colocada que o Brasil nos rankings de competitividade, colheram ganhos concretos em produtividade e crescimento. A resposta brasileira à guerra tarifária não pode ser choro nem revanche, tampouco novos pacotões desenvolvimentistas fora dos limites orçamentários.
A única saída sensata e sustentável é a abertura gradual, porém decidida, da economia. Não para agradar Trump, mas para beneficiar o País. Abrir mercados, eliminar distorções tarifárias, revisar subsídios regressivos, promover acordos bilaterais e fortalecer cadeias globais de valor: essa deveria ser a agenda. O comércio sadio é um jogo de soma positiva: todos ganham quando há regras claras, concorrência justa e integração. O governo precisa abandonar o discurso ressentido e mirar o futuro com pragmatismo. Isso inclui preservar a soberania nacional, o que significa não ceder à chantagem trumpista em temas como a autonomia do Judiciário, mas também reconhecer os próprios erros e limitações. Não é porque Trump está errado que o Brasil está certo. É hora de agir como país adulto: firme nos princípios, flexível na tática e ambicioso na estratégia. Trump passará. O atraso, se cultivado, fica. Fonte: Broadcast Agro.