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29/Jul/2025

UE dá sinal de fraqueza ao não confrontar os EUA

A postura da União Europeia nas negociações tarifárias com os Estados Unidos enfraquecerá as tratativas do Brasil e do chamado Sul Global, na avaliação do professor de universidades em Paris, Londres e Tóquio e ex-membro do Banco Central e do Banco de Compensações Internacionais (BIS), Luiz Awazu Pereira da Silva. Se a União Europeia entrega desse jeito, vai enfraquecer qualquer negociação com o Brasil e o Sul Global. “Vai sobrar para nós, e os pobres deste mundo", disse. É sintomático que, depois do Japão, o bloco também tenha "capitulado à chantagem" tarifária dos Estados Unidos. As tarifas de 15%, a promessa de US$ 750 bilhões em compras de energia (principalmente combustíveis fósseis), equipamentos militares e investimentos europeus (US$ 600 bilhões) em solo norte-americano são celebrados como "vitórias" para evitar a escalada de uma guerra comercial cujo resultado é incerto.

Esse 'acordo' é o espírito de Munique, disfarçado com argumentos econômicos aparentemente racionais: a União Europeia sacrifica um pouco do seu crescimento (estimado em 0,1% a 0,2% do Produto Interno Bruto), uma parcela da sua margem comercial e seus lucros, em troca de uma paz tarifária. Awazu citou fatos históricos do passado que poderiam ter justificado uma ação bilateral como a de agora antes, mas que não fazem mais sentido. Que em 1853, antes da Revolução Meiji, os navios de guerra do Comodoro Perry tenham conseguido forçar o Japão pré-industrial do xogum Tokugawa a se abrir ao comércio com os Estados Unidos, que assim seja. Que a Europa, destruída pela guerra, tenha aceitado Yalta sem poder se manifestar, é compreensível.

Mas, em 2025, capitular diante de Donald Trump sem sequer pensar em resistir, avaliando os pontos fortes da União Europeia, o tamanho de seu mercado consumidor, suas ambições sociais, ecológicas e militares de longo prazo, que estão claras no relatório Draghi?, questionou, citando o presidente norte-americano Donald Trump e o ex-primeiro-ministro da Itália e ex-banqueiro central, Mario Draghi. A postura da União Europeia é "claramente um sinal do fracasso das elites europeias" e de sua governança. Ele sentiu falta de uma discussão sobre as possibilidades de retaliação e uso de instrumentos anticoerção antes da tomada de decisão. A Aliança Cooperativa Internacional (ICA) constitui uma resposta óbvia à intimidação dos Estados Unidos. Pode ser adotada sem unanimidade europeia e visa a proteger os interesses e as escolhas soberanas da União e de seus estados-membros.

A ICA também seria um meio de se acionar contra, por exemplo, o superávit no comércio de serviços entre Big Techs como Google, Meta, Apple, Nvidia norte-americanos e a União Europeia. Isso afetaria os oligarcas do Vale do Silício, seus preços de ativos e os mercados financeiros globais. Uma União Europeia resistente finalmente se daria um motivo para mobilização local e global, uma razão que seria socialmente justa e ecologicamente útil. Esse tipo de atitude é muito mais sério do que um cálculo comercial de custo-benefício de curto prazo. Suas consequências serão duradouras e de longo alcance, previu, citando, por exemplo, o custo reputacional, que negam seus próprios valores e princípios. Ao assinar um acordo sem rebater essa chantagem com a menor tentativa de resistência, a União Europeia está renunciando ao seu direito de invocar as regras do direito internacional, da OMC e Bretton Woods, em nome do 'pragmatismo mercantilista'.

O custo social e político é ainda mais grave. A narrativa é que não existem os meios para financiar a transição ecológica na Europa. Seria preciso sacrificar empregos na indústria siderúrgica em nome da competitividade; por exemplo, não se poderia continuar a viver com o modelo social europeu, com os custos de segurança social e previdência; seriam demasiado caros. Mas, por outro lado, a União Europeia vai subsidiar os poluidores norte-americanos, o sistema social mais injusto do mundo e os caprichos do regime trumpista com quase 1 trilhão de euros. Já o custo simbólico é "mortal". “A União Europeia não pode permanecer nessa mediocridade, que não muda muito o mundo, mas que não resolve nada. Neste mundo onde nada mais nos revolta, nada mais nos surpreende, a mediocridade reina por omissão, casada com o cinismo e confortada pela indiferença. Aprendamos a resistir a isso e a lutar por valores humanistas, progressistas e racionais."

Segundo o Commerzbank, o acordo entre Estados Unidos e União Europeia resultará em tarifas norte-americanas significativamente mais altas sobre as importações da União Europeia em comparação com o ano anterior. A tarifa média norte-americana sobre entregas da União Europeia aumentará em mais de 10% em comparação com o ano passado, o que tornará significativamente mais difícil para muitas empresas acessarem seu mercado externo mais importante, que representa mais de € 500 bilhões ou 20% das exportações da União Europeia para fora do bloco. Como resultado, a expectativa é de que isso reduza as exportações da União Europeia para os Estados Unidos em cerca de um quarto nos próximos dois anos. Isso, por si só, provavelmente desacelerará significativamente o crescimento econômico na União Europeia. Embora esse efeito deva ser mais do que compensado pelo aumento do estímulo da política monetária e pela política fiscal expansionista na Alemanha, as exportações mais fracas para os União Europeia e inúmeros problemas estruturais significam que a recuperação econômica emergente provavelmente será modesta. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.