29/Jul/2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fecharam no domingo (28/07) um acordo comercial que fixa tarifas de 15% sobre produtos da União Europeia em solo norte-americano, incluindo carros. O anúncio foi feito após reunião na Escócia. A presidente da Comissão Europeia, Úrsula Von der Leyen, afirmou ter concordado com a tarifa de 15% (que representa uma redução pela metade em relação da tarifa de 30% anunciada inicialmente por Trump sobre os europeus) e acrescentou que o pacto busca “equilibrar a relação comercial” entre os dois países, que é “a maior do mundo”. Além da tarifa de 15%, o acordo prevê que a União Europeia vai comprar US$ 750 bilhões em produtos de energia dos Estados Unidos e investir US$ 600 bilhões a mais na economia norte-americana nos próximos anos. Trump afirmou ainda que os europeus vão comprar “bilhões de dólares” em equipamentos militares norte-americanos.
O comissário europeu para o Comércio e Segurança Econômica, Maros Sefcovic, afirmou que a lista de produtos que terão tarifa zero é "significativa" e está aberta a "novas adições", ao comemorar nesta segunda-feira (28/07) o acordo comercial com os Estados Unidos. Sefcovic enfatizou que o acordo "traz estabilidade renovada e abre a porta para a colaboração estratégica", ressaltando que a União Europeia se comprometerá com compras estratégicas de gás, petróleo, energia nuclear e chips de inteligência artificial (IA) dos Estados Unidos. Ambos os lados concordaram em enfrentar a capacidade de produção excessiva global. Sefcovic disse ter negociado também com a China, mas que a lista de questões a resolver "apenas cresceu". O primeiro-ministro da França, François Bayrou, criticou o acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos. "É um dia sombrio quando uma aliança de povos livres, reunidos para afirmar seus valores e defender seus interesses, resolve se submeter", disse Bayrou.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou ontem um acordo com a UE que estipula tarifas "recíprocas" de 15% à maioria dos produtos do bloco. A ministra da Economia da Alemanha, Katherine Reiche, disse que o acordo comercial da União Europeia com os Estados Unidos proporciona certeza em tempos difíceis, embora a tarifa de 15% seja um desafio para as empresas. A associação da indústria alemã VDMA, que representa mais de 3,6 mil empresas do setor, instou a União Europeia e os Estados Unidos a lidarem com o acordo firmado não como um 'novo normal'. A organização menciona que a negociação deve ser vista como uma reviravolta no impasse causado pela escalada de tarifas. "Este acordo assimétrico reflete o atual equilíbrio de poder e dependências", pontua. A União Europeia deve agora fortalecer consistentemente sua competitividade, expandir o mercado interno, aumentar sua independência em defesa e matérias-primas, se afirmar como um espaço econômico aberto e de direito entre iguais e concluir acordos comerciais com novos parceiros.
A VDMA ainda avalia que o acordo União Europeia-Estados Unidos "é um desdobramento lamentável" e que prejudicará os fabricantes norte-americanos. Segundo a associação, praticamente todos os setores manufatureiros dos Estados Unidos dependem das importações de máquinas europeias. Líderes empresariais de ambos os lados do Atlântico respiraram aliviados ao saber que os Estados Unidos e a União Europeia evitaram uma guerra comercial contundente com seu acordo sobre tarifas e investimentos. Agora, a atenção se volta para a avaliação dos vencedores e perdedores do acordo. Aviões e seus componentes, certos produtos químicos, equipamentos semicondutores e alguns produtos agrícolas pareciam estar isentos das novas tarifas. Os carros pareciam estar a caminho de enfrentar tarifas de 15%, abaixo do nível atual. Nenhuma das partes divulgou o texto do acordo, e alguns elementos permaneceram obscuros. As duas partes devem divulgar uma declaração conjunta sobre o acordo.
Autoridades da indústria e políticos europeus disseram que o acordo deixa a União Europeia em pior situação do que antes do retorno de Trump ao poder, mas é provavelmente o melhor cenário para as empresas europeias, pois evita uma disputa maior e lhes dará mais certeza nos próximos anos. O Instituto alemão IFO afirmou que o acordo comercial da União Europeia com os Estados Unidos "é uma humilhação" para o bloco e que a negociação "reflete o desequilíbrio de poder". Os europeus precisam se concentrar mais na força econômica e reduzir sua dependência militar e tecnológica dos Estados Unidos. Crucial para a competitividade internacional da União Europeia, o acordo também deixa os 27 Estados membros, que compartilham uma política comercial comum, em uma posição semelhante à do Japão, que chegou a um acordo comercial com os Estados Unidos na semana passada, que também fixou a maioria das tarifas em 15%. Os dois pactos indicam que 15% pode ser um novo nível tarifário mínimo para os principais parceiros comerciais aliados dos Estados Unidos.
Tarifas nesse nível devem reduzir o crescimento econômico da União Europeia, disseram analistas. Mas, o impacto provavelmente não seria muito severo para a economia em geral, especialmente se outros grandes parceiros comerciais dos Estados Unidos também estiverem com tarifas nesse nível. Uma análise recente da Capital Economics indicou que uma tarifa básica de 15% reduziria o Produto Interno Bruto da União Europeia em cerca de 0,5%. Para o ING Bank, o acordo evita uma escalada nas tensões comerciais que poderia representar um sério risco para a economia global. Com um acordo europeu firmado em princípio, a atenção dos Estados Unidos parece estar voltada para a Ásia. Autoridades comerciais dos Estados Unidos e da China estão reunidas na Suécia. O ministro das Relações Exteriores e autoridades comerciais da Coreia do Sul devem se reunir com seus homólogos norte-americanos na quinta-feira (31/07), um dia antes do prazo final de Trump (1º de agosto).
Diversos grupos empresariais europeus, considerando também o contexto internacional, disseram estar cautelosamente otimistas quanto à obtenção de um acordo, mas enfatizaram que desejam mais clareza sobre os detalhes. A Mesa Redonda Europeia para a Indústria, um grupo que representa diretores executivos e presidentes de grandes empresas industriais e tecnológicas europeias, afirmou que o acordo deve "restaurar a previsibilidade tão necessária após um período de grande incerteza". O grupo pediu que mais setores sejam incluídos em uma lista de produtos que poderiam ter tarifas mútuas reduzidas a zero. E afirmou que os Estados Unidos e a União Europeia devem trabalhar para remover todas as barreiras restantes ao comércio e investimento transatlânticos. Von der Leyen afirmou que Estados Unidos e União Europeia trabalhariam para adicionar mais produtos a essa lista.
A Eurochambres, uma associação de câmaras de comércio e indústria europeias, afirmou que o acordo representa "a solução menos dolorosa" disponível para a União Europeia. Tarifas de qualquer nível são sempre um obstáculo ao comércio e, portanto, ao crescimento. No entanto, o acordo proporciona estabilidade às empresas europeias e as ajudará a planejar o futuro. Algumas associações industriais disseram não ter certeza sobre que tipo de tarifas seus setores enfrentariam. Embora Trump tenha indicado que suas tarifas globais sobre aço e alumínio permaneceriam no nível atual de 50%, von der Leyen disse que os dois lados concordaram com um sistema de cotas que permitiria que uma certa quantidade de aço e alumínio entrasse nos Estados Unidos com tarifas mais baixas. Ela também afirmou que a União Europeia e os Estados Unidos trabalhariam para lidar com os altos volumes de aço de baixo custo em mercados globais.
O governo dos Estados Unidos anunciou que a União Europeia se comprometeu, no acordo comercial, a "não adotar ou manter tarifas sobre transmissões eletrônicas". O pacto também prevê investimentos com prazos definidos e compromissos bilionários em energia e indústria até 2028, o que marca uma mudança em relação a anúncios anteriores, que falavam apenas em aportes "nos próximos anos", sem datas específicas. De acordo com o texto, a União Europeia vai investir US$ 600 bilhões nos Estados Unidos ao longo do mandato do presidente Trump e comprar US$ 750 bilhões em energia norte-americana até 2028. O acerto é classificado como um "rebalanço fundamental da relação econômica entre as duas maiores economias do mundo" e afirma que o pacto posiciona os Estados Unidos como o principal destino global para investimentos, inovação e manufatura avançada. O acordo inclui ainda compromissos no setor digital.
A União Europeia confirma que não adotará nem manterá taxas de uso de rede e que serão mantidas tarifas zero sobre transmissões eletrônicas. O objetivo é enfrentar "barreiras digitais injustificadas" e garantir regras claras que favoreçam o comércio eletrônico entre os dois blocos. Outros pontos do pacto preveem a eliminação de tarifas da União Europeia sobre bens industriais norte-americanos e a criação de cotas e reduções tarifárias em outros setores. A nova abertura de mercado impulsionará o crescimento em toda a economia norte-americana. A União Europeia também aceitou pagar tarifa de 15% aos Estados Unidos sobre automóveis, autopeças, farmacêuticos e semicondutores. Para aço, alumínio e cobre, permanece a taxa de 50%. A União Europeia admitiu que não tem o poder de cumprir a promessa de investir US$ 600 bilhões na economia dos Estados Unidos, apenas algumas horas após fazer o compromisso em negociações comerciais. Isso porque o dinheiro viria inteiramente de investimentos do setor privado, sobre os quais o governo não tem autoridade, e sem contribuição de investimento público.
A Capital Economics avalia que o acordo alcançado entre a União Europeia e os Estados Unidos evita o pior cenário possível entre ambas as economias, mas que ainda é uma saída negativa para o bloco econômico europeu. Nunca haveria um acordo completamente bom, mas ainda não está claro o quanto esse será ruim ou se ele irá durar. As tarifas de 15% ainda são muito elevadas e não está claro como funcionarão os detalhes do acordo, por exemplo, em relação aos fármacos, que estão sob investigação nos Estados Unidos e devem receber alíquotas específicas em breve. Também há resistência de vários grupos europeus, possibilidade de retaliações da União Europeia ou do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, "mudar de ideia até o dia de assinatura do acordo". De uma perspectiva macroeconômica, o acordo evita o "desastre" de uma guerra comercial e aproxima a União Europeia estrategicamente do lado norte-americano, em detrimento da China, após o resultado "desapontador" da cúpula entre União Europeia e China na semana passada.
Isso complica o cenário global, considerando que os Estados Unidos ainda estão fazendo o que for possível para construir pontes de relacionamento com a China. A Capital Economics prevê que um eventual acordo sino-americano será semelhante ao primeiro mandato de Trump, com exigência de que a China amplie a compra de produtos norte-americanos em troca da redução de tarifas e mais acesso a tecnologias dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a recente pressão de Trump contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e a ameaça de sanções secundárias sobre compradores de petróleo russo poderá atingir a China, abalando um possível acordo. O acordo comercial entre Estados Unidos e União Europeia, pode ter evitado uma escalada tarifária mais severa, mas não sem custos. O pacto pode elevar a tarifa média sobre importações europeias para os Estados Unidos de 1,2% em 2024 para até 17%, o que reduzirá o PIB da União Europeia em cerca de 0,2%. Enquanto isso, o bloco europeu se comprometeu a zerar tarifas sobre produtos dos Estados Unidos. O impacto será desigual entre os países.
A Alemanha deve ter um efeito negativo de 0,3% e a França, de 0,1%. Itália deve ter impacto semelhante ao da União Europeia como um todo, enquanto na Espanha a consequência pode ser "quase imperceptível". Há ceticismo em relação à promessa europeia de investir US$ 600 bilhões nos Estados Unidos e comprar US$ 750 bilhões em bens estratégicos, como energia e semicondutores. Trata-se de 'investimento privado antecipado', o que significa que não está sob controle dos formuladores de políticas. Parte do anúncio pode não se concretizar. Na prática, apenas aço e alumínio, que enfrentarão tarifas de 50%, estão formalmente isentos da nova tarifa-base de 15%, enquanto uma lista adicional de exceções só será divulgada na sexta-feira (1º/08). Dependendo de quais bens forem isentos, a tarifa média pode subir até 17,5%, seu nível mais alto em décadas. Apesar de os mercados terem reagido positivamente, há riscos. Embora o acordo tenha evitado um resultado muito pior por ora, resta saber se ele vai durar.
Na avaliação do ING, o pior cenário foi evitado com o acordo, mas "ainda não há nada no papel" e é necessário esperar por mais clareza. Apenas um acordo assinado é um acordo. Qualquer avaliação deve ser feita com mais do que uma pitada de ceticismo. Uma escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e União Europeia teria sido um risco grave para a economia global e esse risco parece ter sido evitado. Para a União Europeia, o acordo é provavelmente o "melhor que poderia ser", mas a parte mais incerta do acordo é a parte do investimento. A julgar pelas experiências anteriores, mas também reconhecendo que a Comissão Europeia dependerá de governos e empresas nacionais para efetivamente aumentar os investimentos, torna esta parte instável. Fonte: Broadcast Agro e Reuters. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.