28/Jul/2025
Apesar da falta de sinalização direta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que reabrirá o diálogo com o Brasil, a diplomacia brasileira avalia que houve um freio na escalada do conflito com o país nos últimos dias. Quando o governo norte-americano anunciou a suspensão dos vistos de ministros do STF, o entendimento era de que a crise poderia levar a uma ruptura total. Mas, a ordem no Itamaraty foi não retrucar e intensificar as conversas de bastidores para tentar uma aproximação indireta com Trump. A certeza entre integrantes dos governos dos dois lados é de que o tarifaço ou a flexibilização dele é “medida solitária” do presidente norte-americano, portanto, várias frentes de atuação devem levar a mensagem a ele. A embaixadora do Brasil nos Estados Unidos, Maria Luiza Ribeiro Viotti, tem feito um relato diário ao ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, das conversas realizadas entre diplomatas.
Apesar dos discursos políticos inflamados, incluindo falas do presidente Lula e manifestação da embaixada dos Estados Unidos no Brasil contra o ministro Alexandre de Moraes, no âmbito diplomático a discussão é técnica “e continuará assim”, avisam. Mas, também há entendimento de que “a situação é fluida” e basta uma mensagem ou medida de Trump para complicar tudo. Uma das mostras do tom técnico e de alto nível, ressaltam, foi o avanço na conversa do vice-presidente Geraldo Alckmin com o secretário de Comércio, Howard Lutnick. Além disso, membros do Itamaraty veem com bons olhos a viagem de 8 senadores brasileiros aos Estados Unidos para tentar um acordo comercial. Uma das avaliações é de que o grupo suprapartidário de senadores levará ao governo Trump uma visão responsável de que estão em jogo interesses comerciais importantes, sem o “fla-flu” da política.
O grupo tem interlocutores acostumados e respeitados nas negociações internacionais, inclusive com Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura da gestão Bolsonaro. Além disso, também trarão uma perspectiva do que se encontrará por lá. O blogueiro bolsonarista Paulo Figueiredo, que acompanha o deputado Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, afirmou que a comitiva de senadores “vai quebrar a cara”. Indagado se vai encontrar os parlamentares ou compartilhar contatos com o grupo, ele negou. “A comitiva está perdendo tempo e vai quebrar a cara. Não há o que fazer sem um sinal claro e um compromisso de que o Brasil atenderá as demandas do presidente Trump.”
A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil publicou na quinta-feira (24/07), em seu perfil oficial do X (antigo Twitter), a tradução de uma publicação do subsecretário de Estado para a Diplomacia Pública e Assuntos Públicos dos Estados Unidos, Darren Beattie. A autoridade do governo norte-americano afirma na publicação que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), é “coração pulsante do complexo de perseguição e censura” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Graças à liderança do presidente Trump e do secretário Rubio, estamos atentos e tomando as devidas providências”, continua a nota, se referindo ao secretário de Estado do governo de Donald Trump, Marco Rubio. Rubio havia anunciado a revogação imediata do visto de Moraes e de outros ministros da Corte. A suspensão foi mais um capítulo na crescente tensão entre Brasil e Estados Unidos.
Desde então, há uma escalada de mensagens oficiais de representações norte-americanas no Brasil em favor de Bolsonaro e hostis a Moraes. No dia 9 de julho, a embaixada norte-americana emitiu nota endossando Trump. A representação afirmou que Bolsonaro e sua família têm sido “fortes parceiros” dos norte-americanos e disse que a “perseguição política contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil”. A embaixada criticou a atuação da Suprema Corte brasileira e a chamou de “Supremo Tribunal de Moraes”. O Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) iniciou uma investigação sobre o Brasil, para apurar se práticas comerciais brasileiras prejudicam de alguma forma o comércio norte-americano. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.