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28/Jul/2025

EUA: empresas norte-americanas arcam com tarifas

Os Estados Unidos arrecadaram mais US$ 55 bilhões em tarifas este ano. As empresas norte-americanas têm arcado em grande parte com a conta. Os novos impostos do presidente Trump, que elevaram as tarifas do país aos níveis mais altos em décadas, são normalmente pagos pelos importadores quando as mercadorias chegam aos portos norte-americanos. Portanto, há pouco mistério sobre quem faz esse primeiro pagamento. Muitas vezes, é um fabricante, um despachante logístico ou aduaneiro ou, em alguns casos, o próprio varejista que encomendou a remessa. Mas, economistas e outros têm observado sinais de quem, em última análise, arcará com o custo. Serão os fornecedores estrangeiros, reduzindo os preços no início, ou os consumidores, pagando preços mais altos no caixa? Ou serão as empresas americanas que ficam no meio do caminho que arcarão com o ônus? Está cada vez mais claro que as empresas norte-americanas, da General Motors e Nike à floricultura local, estão absorvendo grande parte dos custos por enquanto.

Em um mercado competitivo, uma empresa que aumenta os preços pode perder participação de mercado para uma rival que os mantém estáveis. Muitas relutam em aumentar os preços até que seja absolutamente necessário e até que saibam que as tarifas em constante mudança continuarão em vigor. Em alguns casos, as empresas disseram que planejam aumentar os preços nos próximos meses. Alguma estabilidade pode estar no horizonte. Esta semana, os Estados Unidos fecharam um acordo com o Japão para tarifas de 15% sobre produtos importados, e um possível acordo com a União Europeia para tarifas de 15% sobre seus produtos está em andamento. Isso proporcionaria uma clareza muito necessária, mas também poderia desencadear aumentos de preços mais amplos em milhares de importações. Há sinais de que alguns fornecedores estrangeiros, especialmente de produtos chineses que agora têm uma tarifa extra de 30%, reduziram alguns preços para ajudar.

Esse apoio não chega nem perto dos níveis prometidos por Trump quando disse que os países estrangeiros pagariam a conta. A inflação começou a subir para alguns produtos tarifados, incluindo móveis, brinquedos e roupas. Até agora, esses aumentos têm sido relativamente moderados. A inflação de junho subiu para 2,7% em relação ao ano anterior, contra um aumento de 2,4% em maio. O aumento foi mais lento do que o esperado, em parte porque muitas empresas deixaram de comprar ou estocaram antes da entrada em vigor das tarifas e, em parte, porque as empresas estão optando por absorver o impacto por enquanto. Segundo a Morningstar, as empresas norte-americanas ainda estão arcando com a maior parte da conta das tarifas, tendo ainda que repassar mais do que uma fração do custo das tarifas aos consumidores. Sinais do impacto nos lucros estão aparecendo nos relatórios de lucros. A General Motors informou na semana passada que pagou mais de US$ 1 bilhão em tarifas sobre importações de automóveis no segundo trimestre.

A empresa não implementou aumentos de preços em larga escala em resposta às tarifas, mas não descartou aumentos de preços. A Stellantis, empresa holandesa controladora das marcas norte-americanas Ram e Jeep, anunciou na semana passada que as tarifas sobre importações de automóveis reduziram US$ 350 milhões em seus lucros. As tarifas reduziram o lucro da RTX, informou a empresa aeroespacial e de defesa. A fabricante de brinquedos Hasbro afirmou que o impacto financeiro das tarifas foi menor do que o esperado no último trimestre, mas que alguns dos efeitos ainda podem estar por vir. As tarifas provavelmente criarão uma despesa de US$ 60 milhões para todo o ano fiscal, afirmou a empresa. Os preços dos brinquedos provavelmente aumentarão ainda este ano. Normalmente, leva de cinco a oito meses para um brinquedo ir da fábrica à prateleira. Por enquanto, alguns varejistas estão adiando suas compras, e a Hasbro está compensando os custos mais altos das tarifas por meio de cortes de custos, trabalhando com novos fornecedores, lançando novos produtos e aumentando os preços.

No mês passado, executivos da Nike afirmaram que as tarifas reduziriam o lucro da empresa em cerca de US$ 1 bilhão neste ano fiscal, com a maior parte do impacto no primeiro semestre, antes que seus esforços de mitigação pudessem entrar em vigor. O aumento "cirúrgico" nos preços dos produtos chegará às prateleiras ainda este ano. Economistas estimam que a alíquota média efetiva de tarifas sobre todos os produtos importados esteja agora próxima de 17%, acima dos 2,3% do ano passado. O índice de preços de importação, que acompanha o que os importadores pagam por muitos produtos produzidos no exterior antes da cobrança das tarifas, manteve-se estável nos últimos meses, o que alguns economistas chamam de um sinal de que os fornecedores estrangeiros não estão reduzindo seus preços de forma generalizada para compensar os custos para seus clientes nos Estados Unidos.

O Goldman Sachs conduziu o que chamou de uma análise mais granular dos preços de importação e concluiu que as empresas estrangeiras, particularmente as chinesas, parecem estar absorvendo cerca de 20% dos custos das tarifas por meio de cortes de preços. Impactos mais amplos sobre os consumidores podem estar a caminho. Em maio, o Walmart anunciou que havia começado a aumentar os preços de alguns produtos para compensar o custo das tarifas e que mais aumentos de preços ocorreriam neste verão. Executivos do Walmart disseram que tarifas sobre produtos da América do Sul e Central elevaram o preço da banana, um dos itens mais comprados no Walmart, de 50,00 centavos de dólar por libra para 54,00 centavos de dólar por libra. Ao contrário de empresas menores, o Walmart pode usar seu poder de compra e sua cadeia de suprimentos global para oferecer preços mais baixos do que muitos concorrentes. Os maiores fornecedores do Walmart são China, México, Canadá, Vietnã e Índia.

Para itens de preços mais altos, como churrasqueiras importadas, o Walmart comprou menos estoque para compensar a esperada desaceleração nas vendas devido aos aumentos de preços relacionados às tarifas. Muitas grandes empresas têm hesitado em vincular os aumentos de preços diretamente às tarifas, com medo de atrair a ira de Donald Trump. Dias depois de o Walmart anunciar que alguns preços aumentariam em maio, Trump publicou online que o Walmart e a China deveriam "comer as tarifas", e não aumentar os preços. Quando vários outros grandes varejistas divulgaram seus lucros na semana seguinte, incluindo Home Depot e Target, enfatizaram seus esforços para resistir aos aumentos de preços. O setor de flores já sente o impacto. As rosas de caule longo importadas da América do Sul que são compradas de atacadistas norte-americanos costumavam custar de US$ 1,15 a US$ 1,35 cada, mas agora custam de US$ 1,95 a US$ 2,15 a unidade.

Isso forçou o aumento do preço de um vaso com uma dúzia de rosas de US$ 60,00 para US$ 69,00. As coroas de flores e espuma importadas da China também subiram de preço desde que Trump adicionou tarifas de 30% sobre essas importações. Uma coroa de flores em formato de coração da China, que costumava custar US$ 24,00 recentemente saltou para US$ 38,00. Isso e os preços mais altos das flores reduzem o lucro. Preços mais altos possam levar à perda de negócios. Segundo a Footwear Distributors and Retailers of America, uma associação comercial, algumas empresas de calçados anunciaram planos de aumentar os preços nas próximas semanas. Grande parte do impacto já foi absorvido pela marca e pelo varejista, mas eles não conseguem se manter por muito tempo. Cerca de 99% dos calçados vendidos nos E Estados Unidos são importados da China, Vietnã, Itália e outros países.

Para a Kapitalo Investimentos, está claro que a nova política tarifária dos Estados Unidos será um vetor inflacionário para os norte-americanos, mas desinflacionário para o resto do mundo. Os dados iniciais já apontam para "um filme" nessa direção, ainda que o "período de confusão" em meio às negociações entre os países afetados pelo tarifaço, ainda esteja longe de acabar. Não faz sentido ter uma política de preço diferente para os Estados Unidos em comparação com outros concorrentes. Esse panorama deve levar a um redirecionamento da produção de itens afetados pelas tarifas, gerando, moderação global dos preços. Além disso, esse efeito das tarifas levará, invariavelmente, a uma perda de força na economia norte-americana, ainda que, por ora, os números de emprego e renda nos Estados Unidos sigam fortes.

Para o JPMorgan, as tarifas impostas por Trump para 1º de agosto são apenas o "primeiro capítulo" das grandes medidas que o governo deve tomar nos próximos anos. A média global das tarifas do republicano devem ficar em 15%, ante os 30% previstos no "Dia da Libertação", em 2 a de abril. Os maiores choques com o mercado parecem já ter passado, agora o que se tem é uma 'dor crônica' com Trump. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano deve desacelerar 1,5% este ano e, mesmo com cortes de gastos e tarifas implementadas, as contas do déficit dos Estados Unidos não fecham, pressionando cada vez as finanças públicas.

Para a Franklin Templeton, o ruído político causado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, reduziu a credibilidade dos Estados Unidos e que há séria falta de compromisso do governo norte-americano em relação à trajetória fiscal. A credibilidade não vai acabar, mas está minada. Os fundamentos da economia chinesa estão passando por desafios estruturais. O mundo ainda visa os Estados Unidos para investimentos. A tendência será de continuação da desvalorização do dólar, enquanto a incerteza alterou o funcionamento semelhante dos Treasuries e da moeda norte-americana ante catalisadores, especialmente após o anúncio inicial do republicano das tarifas de 2 de abril. Antes de cortar juros, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deverá sinalizar piora dos dados econômicos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.