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25/Jul/2025

Redirecionamento de produtos do Agro por tarifas

O governo federal mapeia mercados para o redirecionamento de produtos agropecuários que deixarão de ser exportados para os Estados Unidos, caso a tarifa de 50% entre em vigor em 1º de agosto. São duas frentes: a abertura de novos mercados e a ampliação de fluxos comerciais para destinos para os quais os produtos já são exportados. O diagnóstico de destinos alvos está sendo feito pelo Ministério da Agricultura juntamente com o Ministério das Relações Exteriores e Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O Oriente Médio e a Ásia estão na mira das ações. O foco inicial está nos setores mais atingidos pela tarifa de 50% e mais expostos ao mercado norte-americano, caso do suco de laranja, do café, da carne bovina, das frutas e dos pescados. O governo alinha a estratégia conjuntamente com o setor privado, sobretudo quanto a quais mercados devem ser priorizados nas negociações bilaterais.

Em outra ponta, adidos agrícolas que atuam nas embaixadas no exterior foram orientados a procurar importadores para colocar o País à disposição e identificar oportunidades no exterior. Em paralelo, câmaras de comércio já acionam o governo para apresentar seus países como possível destino para o redirecionamento dos produtos brasileiros, caso dos países árabes. Um raio X inicial apresentado ao setor produtivo pelo Ministério da Agricultura a entidades que representam os exportadores do setor inclui a conclusão de tratativas de aberturas de mercado, a habilitação de frigoríficos e a negociação para redução tarifária de alguns produtos. Todas as alternativas estão à mesa para minimizar o máximo possível os impactos do fluxo comercial afetado com os Estados Unidos. O primeiro passo é olhar os setores que terão vendas inviabilizadas aos Estados Unidos com a taxa de 50% e realizar busca ativa de oportunidades.

No Ministério da Agricultura, há recomendação de reforçar agendas do ministro com seus pares de outros países para acelerar as conversas com países importadores em alto nível e destravar negociações em curso. Entre as possibilidades citadas estão a abertura do Japão, da Turquia e da Coreia do Sul para a carne bovina brasileira, tratativas que estão em andamento. O processo mais avançado é com o Japão, que já fez auditoria no sistema sanitário nacional e deve dar o aval à proteína brasileira em novembro deste ano. Ainda em carne bovina, o Brasil negocia a ampliação de frigoríficos habilitados a exportar o produto para Indonésia, Vietnã e México. Há pedido de habilitação de pelo menos 50 plantas somando os três destinos. O aval depende da autoridade sanitária de cada país importador. No caso do suco de laranja, uma das negociações no pipeline envolve o pedido de redução de alíquota cobrada pela China para importação do produto brasileiro, que chega lá com imposto de 7,5% ou 20%, o que hoje limita os embarques ao País.

A Arábia Saudita também é citada como um destino para ampliar as vendas externas de suco de laranja. Também a China está no centro de intenções de aberturas para frutas brasileiras, como lima ácida, e de aumentar o comércio para itens como manga e uva. Com o México, já há uma negociação do governo brasileiro com o governo mexicano para manutenção de isenção de alíquota para produtos agropecuários provenientes do Brasil, que termina em 31 de dezembro, e até mesmo a ampliação do Acordo de Complementação Econômica nº 53 (ACE 53). Há ainda uma frente para ampliar a promoção comercial para produtos agropecuários, como o café na China, que apresenta consumo crescente da bebida brasileira, e o café brasileiro na Austrália. Empresários do setor concordam com a estratégia de diversificação de mercados proposta pelo Executivo, mas em conversas reservadas com integrantes do governo, exportadores relataram ver efeito limitado das ações no curto prazo.

São negociações longas e, em alguns casos, com pontos técnicos ainda a serem dirimidos. A preocupação externada pelos exportadores é em especial com os volumes já produzidos para os Estados Unidos, que estão em portos ou em alto-mar ou na indústria aguardando distribuição. Não há espaço no mercado interno para absorver toda essa mercadoria de imediato, o que pode derrubar os preços. Mas, para longo prazo fica a lição da importância de desconcentrar a pauta exportadora. Exportadores pediram, inclusive, ao vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, um tratamento diferenciado para cargas embarcadas em portos ou já a caminho dos Estados Unidos. O pleito é que a aplicação da alíquota de 50% considere a data de embarques dos produtos após 1º de agosto. A data base seria a emitida na Bill of Landing, documento para o transporte marítimo de cargas. O próprio ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, vem reforçando publicamente que já foram abertos 397 novos mercados para produtos agropecuários brasileiros na atual gestão, desde janeiro de 2023. Ele defende que a Pasta seja proativa na intensificação de busca de mercados.

O ministro também já reconheceu publicamente que, apesar da estratégia de buscar novos mercados, não é possível dar vazão a todo o volume que é vendido aos Estados Unidos em dez a quinze dias. A preocupação do governo e dos exportadores é justificada pelos números da balança comercial. Os Estados Unidos foram o terceiro maior destino dos produtos agropecuários exportados em 2024, com embarques que somaram US$ 12,1 bilhões, posto que foi mantido no primeiro semestre deste ano. De janeiro a junho, as exportações do agronegócio brasileiro aos Estados Unidos somaram US$ 6,63 bilhões, 8% do total exportado pelo setor na primeira metade do ano. Produtos florestais (US$ 1,762 bilhão, 26,6%), café (US$ 1,063 bilhão, 19,54%), carnes (US$ 1,063 bilhão, 16%) e sucos (US$ 743 milhões, 11,21%) lideram a pauta de produtos do agronegócio comercializados ao mercado norte-americano. O agronegócio brasileiro pode deixar de exportar US$ 5,8 bilhões aos Estados Unidos, caso se concretize a tarifa de 50% anunciada pelo governo norte-americano sobre produtos brasileiros, estima a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

A projeção considera uma queda de 48% nos embarques de produtos do agronegócio ao mercado norte-americano ante os US$ 12,1 bilhões comercializados em 2024. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) afirmou que algumas medidas paliativas já estão sendo discutidas com o governo federal caso a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros seja aplicada a partir de 1º de agosto. Todo o esforço é para evitar a taxa proibitiva, embora neste momento é mais viável trabalhar pela postergação da medida prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto. As ações paliativas em discussão tratam de uma atenção maior para o mercado interno, visando compensar em parte a possível queda nas exportações para os Estados Unidos. O crédito é relevante, mas o que resolve o problema é mercado e há um importante mercado doméstico. É mais rápido você agir em cima do mercado brasileiro do que tomar mercado no exterior, que são negociações de longo prazo. As ações defendidas são no sentido de "proteger o mercado brasileiro" de produtos que estão entrando com preços inferiores ao custo de produção ou aos preços praticados no mercado interno.

Como exemplo, foi mencionado o aço. Os desequilíbrios comerciais após a onda de tarifas dos Estados Unidos têm gerado fluxos de exportações para outros mercados. O Brasil, com um grande mercado consumidor, é visto como uma das saídas para os países que não conseguirem mais exportar para os Estados Unidos. A Fiemg defendeu que o governo brasileiro adote um "tom mais brando" em relação ao Brics, grupo de países de mercado emergente e às discussões sobre o papel do dólar nas transações intrabloco. A preocupação é que alguns países do Brics já adotaram esse tom mais brando. Índia não está falando nada, China não está falando nada. O presidente norte-americano, Donald Trump, tem ameaçado o grupo de países emergentes. Ele reforçou a ameaça de taxar os países do Brics em 10%, afirmando que o bloco de emergentes buscaria derrubar a dominância do dólar. O grupo tem discutido aumentar as transações intrabloco em moedas locais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.