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25/Jul/2025

Mercosul-UE: entrevista com Bernd Lange - Inta

Em dezembro de 2024, depois de 25 anos de negociações, a União Europeia e o Mercosul assinaram um acordo comercial. Para entrar em vigor, no entanto, falta ainda a aprovação do Conselho da União Europeia e do Parlamento Europeu. Mas isso, apesar de algumas resistências, como a do presidente francês, Emmanuel Macron, pode acontecer ainda este ano, de acordo com o presidente da Comissão de Comércio Internacional (Inta) do Parlamento Europeu, o político alemão Bernd Lange. Ele acredita que o acordo pode ter entre 400 e 500 votos, entre os 720 membros dos 27 países da União Europeia. Lange esteve no Brasil nesta semana, com agenda em Brasília e em São Paulo.

Na capital federal, encontrou-se com ministros, incluindo o vice-presidente, Geraldo Alckmin, representando o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), além dos representantes do Ministério das Relações Exteriores e do Trabalho e Emprego. O político alemão, que está no terceiro mandato na casa e há 11 anos no posto mais alto de negociações comerciais do Parlamento Europeu, também destacou que a União Europeia tem um compromisso com a Organização Mundial do Comércio (MOC). "Queremos reformar essa organização e a estabilizar", afirmou Lange. Segue a entrevista:

No começo do ano, comentou-se que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia poderia ser acelerado diante das ameaças das tarifas de Trump. Isso está acontecendo?

Bernd Lange: Claro que havia um certo processo interno a se fazer na União Europeia, como se sabe. Em 2019, o Parlamento não estava satisfeito com o texto na mesa. E pedimos para a Comissão Europeia negociar alguns elementos. Mas, no contexto da negociação, estava bem claro, e houve algumas mudanças significativas no próprio texto. Isso, obviamente, trouxe alguns atrasos, porque nossos advogados precisavam ainda olhar o texto, e ele seria traduzido para as 24 línguas oficiais do bloco. Mas, agora, eu posso confirmar que o texto está pronto. Então, acredito que nós teremos um presente de Natal maravilhoso neste ano.

Mesmo as pendências relacionadas às compras governamentais e às questões ambientais, que o Brasil reclamava que poderiam ser usadas como uma barreira para seus produtos, foram solucionadas?

Bernd Lange: O texto agora está realmente bom. Colocamos elementos adicionais e mudamos um pouco as regras de compras governamentais, segundo o interesse do Brasil e de Portugal. As condições estão claras. Chegamos a uma abordagem comum em relação às mudanças climáticas e à implementação do Acordo de Paris. Também houve algumas mudanças nas linhas de tarifas. Acredito que é realmente um bom acordo para ambos os lados.

Até os negociadores franceses ficarão satisfeitos?

Bernd Lange: Existe uma situação doméstica na França, especificamente, no setor agrícola. Os fazendeiros têm pequenas propriedades, e precisamos encontrar uma solução dentro da União Europeia para isso. Talvez compensar alguns problemas que estão surgindo na França. Então, não é muito um problema com o acordo com o Mercosul. Se você vai a um supermercado aqui no Brasil, encontra queijo francês, vinhos e champanhe. No fim das contas, e os números são claros quanto a isso, a França vai se beneficiar do acordo.

A Dinamarca com a presidência rotativa do Conselho da UE, neste semestre, pode ajudar na finalização?

Bernd Lange: Certamente. Eles concordaram com o acordo, e eu conversei com o ministro de comércio dinamarquês, também responsável pelas relações exteriores, e ele está muito interessado em levar o acordo para a linha de chegada. Também é relevante nas conversas que as condições para os investimentos europeus aqui estão claras e dão oportunidades para pequenas empresas investirem, nessa abordagem de reindustrialização do Brasil.

A parte mais complexa do que falta para a aprovação final do acordo com o Mercosul está agora na aprovação do Parlamento Europeu, que reúne todos os países-membros. Como pode acontecer a aprovação?

Bernd Lange: Espero que a gente consiga encontrar uma solução para a França o mais rapidamente possível, e a ratificação para o Parlamento Europeu vai avançar. É claro que existem vozes contrárias. Somos 720 membros do Parlamento, e no passado os acordos de comércio passaram com cerca de 400 a uns 500 votos. Na extrema esquerda e na extrema direita, muitas pessoas votarão contra o acordo por questões de princípios e, no que podemos chamar de bloco democrático, há algumas discussões. Há lobistas do setor agrícola da França que provavelmente não vão votar a favor. Mas acredito que haverá uma maioria. Nessa situação geopolítica, um fracasso seria uma catástrofe.

A aliança do Brasil com o Brics pode ser um problema, por incluir China e Rússia?

Bernd Lange: Não. A minha avaliação do Brics é que o grupo é uma resposta à dominação global do Ocidente. Tive diversas discussões com representantes do Congresso Nacional da África, na África do Sul, em que eles dizem que a China, mesmo sendo um regime autoritário, é um modelo para uma forma de desenvolvimento independente. Eles conseguiram tirar 600 milhões de pessoas da pobreza e realmente se desenvolveram como uma força global. Também é uma oportunidade para a Europa deixar claro que somos um parceiro previsível e confiável, e que não punimos outros países, e que aprendemos com o nosso passado colonial. Agora, respeitamos os interesses do Brics, que talvez não estejam satisfeitos com o G20.

Fonte: Broadcast Agro.