24/Jul/2025
Segundo o diplomata e ex-embaixador do Brasil em Washington e em Londres, Rubens Barbosa, o governo brasileiro tem de enviar aos Estados Unidos imediatamente uma missão de alto nível para negociar diretamente com o governo norte-americano um alívio na tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Não dá tempo de rever a tarifa de 50% até 1º de agosto. Logo depois, o Brasil tem de enviar autoridade de alto nível ao país e estabelecer comunicação direta; não adianta enviar carta, afirmou Barbosa. É muito difícil alterar o quadro até 1º de agosto. Não há alternativa a não ser negociar e elaborar estratégia da proposta que será levada. Se isso não for feito, a tarifa vai continuar em 50%, defendeu ele, que também é presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice).
Para Barbosa, o Brasil deve buscar um acordo comercial com os Estados Unidos para reduzir a tarifa para o "mínimo possível", assim como outros países fizeram. O objetivo da negociação deve ser reduzir essa tarifa de 50% para 15% ou 10%. É muito difícil ter uma tarifa menor que 15%. Se conseguir 15% dentro desse cenário já será grande lucro, mas tem de haver pedido concreto nos Estados Unidos e feito pessoalmente. Barbosa também descarta uma eventual prorrogação da data, dados os posicionamentos públicos de autoridades norte-americanas que mostram que não há disposição para estender o prazo. Nesse cenário, ele considera que é "natural" a ida do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Geraldo Alckmin, aos Estados Unidos para conduzir as negociações do lado brasileiro, dados exemplos de demais países que alcançaram acordos com os Estados Unidos.
Barbosa também defende a organização do setor privado nacional para sensibilização dos pares e pressão interna ao governo norte-americano. “Não adianta enviar carta para algo que é decidido pelo Trump. Você tem uma pessoa lá que pode fazer o que bem entende. Se você não conversa com essa pessoa ou com os próximos a ela, você não está tendo diálogo", observou. Na análise do embaixador, o País tem de enfrentar duas questões principais na negociação com os Estados Unidos: a citação às big techs, mencionada na carta de Donald Trump, e a taxação propriamente de 50%. Os anúncios foram feitos em 9 de julho, e até o momento ainda não houve gesto do governo brasileiro no sentido de responder ao governo norte-americano sobre estes temas, não sobre Bolsonaro, sendo apenas enviada uma carta pedindo resposta de outra carta de 16 de maio, criticou o diplomata.
Segundo o embaixador, os questionamentos do governo dos Estados Unidos sobre o sistema judiciário ligados à soberania nacional já foram respondidos com a devolução da carta e o chamado do encarregado de negócios no país para explicações. A influência principal atrás da carta são as big techs, observou Barbosa. O embaixador também refuta a ideia de o governo brasileiro se antecipar com retaliações, como a aplicação da lei da reciprocidade ou medidas de respostas que vêm sendo estudadas pelo Palácio do Planalto, o que inclui quebra de patentes de medicamentos e maior controle de remessas de dividendos de empresas com sede nos Estados Unidos. O Brasil não deve falar em retaliação, porque virá a tréplica norte-americana. É preciso negociar. O diplomata não vê ainda risco de rompimento comercial entre os países e acredita na acomodação da crise atual.
Nesta sexta-feira (25/07), uma comitiva de oito senadores iniciará viagem para Washington (EUA) para debater com empresários e parlamentares as tarifas dos Estados Unidos a produtos brasileiros. A ideia é que estejam lá até o fim de domingo (27/07), para cumprirem agendas de segunda-feira (28/07) a quarta-feira (30/07). Segundo o presidente do grupo, Nelsinho Trad (PSD-MS), o foco será abrir diálogo com empresários norte-americanos que fazem comércio com o Brasil e com parlamentares norte-americanos. A agenda será fechada nos próximos dias. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), reafirmou que o objetivo da comitiva é "dialogar". Segundo o senador, o grupo espera ter sucesso nas conversas, mas sem abrir mão da soberania do Brasil. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.