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24/Jul/2025

Cúpula China-UE: fragmentação ou aproximação

A cúpula União Europeia-China começa nesta quinta-feira (23/07), em Pequim, e marca 50 anos de relações diplomáticas. Analistas veem o encontro como um divisor entre aproximação ou maior distanciamento, enquanto a Comissão Europeia e a China negociam acordos comerciais também com os Estados Unidos. Para a ESPM, a cúpula é uma reaproximação estratégica de parceiros "muito interdependentes" em um momento de turbulência do comércio internacional. Em 2024, o fluxo comercial bilateral entre a China e a União Europeia chegou a 732 bilhões de euros. É uma reunião para medir interesses, realocar esforços e convergir para um futuro de fortalecimento dos laços comerciais e políticos. Para o Eurasia Group, o encontro pode terminar num "diálogo para os surdos", sem qualquer evolução de fato, ou descambar para hostilidade aberta.

Europeus devem cobrar temas pendentes, enquanto a China quer apoio contra a agenda "America First" do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A prioridade para a União Europeia será evitar uma escalada nas tensões comerciais, em um nível mínimo, e resolver questões urgentes. Apesar da pressão do governo Trump, o bloco europeu não buscará um meio-termo com a China contra as tarifas norte-americanas. Pelo contrário, a União Europeia irá preferir assegurar uma trégua com os Estados Unidos e explorar a cooperação transatlântica contra práticas injustas da China. No início do mês, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, acusou a China de distorcer o comércio e restringir empresas europeias, mas mostrou esperança de avanços em pautas climáticas.

A China reagiu duramente e afirmou que o bloco precisa "reequilibrar sua própria mentalidade, não as relações econômicas e comerciais". Ambos trocam acusações de subsídios e capacidade industrial excessiva em desacordo com as regras internacionais da Organização Mundial do Comércio (OMC), que levaram a tarifas sobre veículos elétricos chineses e conhaque europeu. Outro foco é o domínio chinês sobre metais e ímãs de terras raras, cuja redução das exportações paralisou indústrias europeias temporariamente neste ano, sobretudo montadoras. Antes da cúpula, von der Leyen afirmou ao jornal Nikkei que quer ampliar cooperação em terras raras com o Japão, após reunião de dois dias com autoridades japonesas.

O Eurasia avalia que o melhor desfecho para a cúpula UE-China exigirá concessões chinesas, como pisos de preços para veículos elétricos em troca de alívio das punições europeias antisubsídios. A Comissão Europeia também espera o fim das investigações chinesas sobre conhaque, carne suína e laticínios. No clima, um comunicado conjunto dependerá de metas maiores de redução nas emissões de carbono pela China. O Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina) prevê avanços pontuais em sustentabilidade, comércio digital e facilitação de investimentos, mas a cautela em temas sensíveis. É improvável preços mínimos para elétricos já nesta cúpula, mas há espaço para soluções que reduzam tarifas e melhorem condições de competitividade.

Por outro lado, se a retórica protecionista prevalecer, pode resultar em fragmentação das cadeias produtivas e custos maiores, reforçando "a lógica de blocos e restrições recíprocas". O Eurasia acrescenta que o clima tenso amplia riscos: o superávit da China expõe desvantagens, mas empresas europeias também sofrem sem o mercado chinês. Um estudo do Atlantic Council mostra que os setores europeus mais expostos ao mercado da China são maquinário (169%), semicondutores (109%), equipamentos elétricos (84%) e automóveis (54%). Entre as empresas mais expostas, estão a fabricante de semicondutores ASML (36%) e as montadoras de automóveis alemãs BMW (22%) e Mercedes-Benz (16%).

A Mercedes-Benz espera que a cúpula sirva para promover um entendimento mútuo e fortalecer as relações econômicas positivas, enviando uma mensagem forte de comércio livre e justo, baseado em regras internacionais. Destaque para a importância de ambos os mercados para a empresa. Analistas concordam que as posições sobre Ucrânia e Taiwan também não mudarão, apesar das últimas sanções da União Europeia contra a Rússia, que atingiram dois bancos chineses, uma refinaria da Índia e a associação informal de jornalistas do Brics, mostrando intensificação nos esforços do bloco para cortar a receita de guerra russa. A questão da cúpula UE-China é um olhar de longo prazo sobre como esses dois players fundamentais no comércio vão se portar, para além de questões específicas de momento. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.