ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

23/Jul/2025

Caminhoneiros são convocados para greve política

Uma das estratégias que a oposição deve lançar na leva de articulações pró-Bolsonaro em meio ao recesso parlamentar é a articulação para que os caminhoneiros levantem uma bandeira 'fora Lula'. A ideia é capitalizar as insatisfações do grupo já existentes com relação a questões econômicas, somando a narrativa de que o presidente da República seria o responsável pelo tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump a produtos brasileiros. Mas, a categoria diverge quanto a uma adesão formal ao movimento 'pró-Bolsonaro' e representantes afirmam que os caminhoneiros não serão utilizados como "massa de manobra". A intenção da bancada da oposição é aventada nos bastidores de uma das comissões montadas pelo PL para desenvolver ações em reação às medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A principal intenção da oposição é verificar se os caminhoneiros estariam dispostos a encampar o discurso anti-Lula.

Desde que Bolsonaro foi alvo de operação da Polícia Federal, a oposição tenta descolar do ex-presidente responsabilidade acerca do tarifaço de Donald Trump. O foco é o de que os caminhoneiros levantem uma bandeira contra o atual presidente e não a favor de Bolsonaro. Interlocutores do deputado Zé Trovão (PL-SC) destacam que o deputado mantém diálogo constante com cerca de vinte líderes da categoria, que articulam as mobilizações nas estradas. A ideia seria levar a proposta justamente a esses 'cabeças de lança' para sondar se eles desejam abraçar tal discurso. Aliados de Zé Trovão, que já foi líder de manifestações da classe, chegam a sustentar que a eventual mobilização poderia ser maior que a greve de 2018. A leitura é a de que as pautas já existentes dentro da categoria, e que vinham causando insatisfação e ameaças de greve, são diferentes da mobilização que a oposição articula a partir do Congresso Nacional.

No entanto, apesar de serem "coisas diferentes", a ideia dos aliados de Bolsonaro é turbinar as já latentes reclamações da classe. Entre as insatisfações incubadas entre os caminhoneiros tem relação com a 'lei do descanso', que obriga caminhoneiros a cumprirem onze horas de descanso entre uma jornada e outra. A norma existe desde 2015, mas, em 2023, o Supremo Tribunal Federal declarou institucionais onze trechos da mesma, entre eles o que permitia que os caminhoneiros descansassem apenas oito horas. Apesar da articulação da oposição, os caminhoneiros resistem em aderir ao movimento, o qual classificam de cunho político. Uma adesão formal da categoria com entidades participando e chamando para uma paralisação geral é refutada por lideranças do setor. A avaliação dos líderes do setor é que pode haver participação pontual de caminhoneiros autônomos nos atos convocados pela oposição, assim como foi nos bloqueios de estradas após a eleição de 2022, mas sem adesão em massa da categoria. "Um ou outro é apaixonado pelo Bolsonaro, mas não podemos falar na categoria total", relatou um dos principais líderes da greve de 2018.

Na época, a insatisfação da categoria era em virtude dos aumentos expressivos do diesel e pela baixa remuneração, o que levou à criação da Lei do Piso Mínimo do Frete. Estima-se que há cerca de 690 mil caminhoneiros autônomos em atuação no País, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Os caminhoneiros são uma das categorias de trabalhadores mais pulverizadas, sem o comando de uma liderança nacional, o que dificulta as articulações e o controle de uma eventual escalada de potenciais manifestações. A Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), a Confederação Nacional dos Caminhoneiros e Transportadores Autônomos de Bens e Cargas (Conftac), a Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Carga em Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens-SP), o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam-Santos) negam indicativo de paralisação da categoria neste momento e afirmam que manifestações não estão no radar do segmento.

Foi ressaltado que a categoria não se envolve em questões políticas e partidárias e que não será usada para defender qualquer tipo de político ou partido, afirmou o presidente do Sindicam-Santos, Luciano Santos, que garante que não há manifestações no radar. O presidente da Abrava, Wallace Landim, conhecido como Chorão, também nega que os caminhoneiros tendem a liderar manifestações de cunho político ou partidário. Ele afirma que há uma preocupação crescente no segmento com os impactos do tarifaço dos Estados Unidos, que deve afetar os setores do agronegócio e indústria, e, consequentemente, o transporte de cargas. Qualquer movimento que se levante neste momento fica claro o tom político. É arriscado tentar usar o segmento de transporte em uma manifestação que pode piorar a situação da categoria. Uma movimentação precisaria sair por clamor popular e não pelo setor do transporte. A categoria não pode ser usada como uma massa de manobra.

Diretor-presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), Plínio Dias, também afirma que a entidade é contrária a qualquer movimentação política utilizando o nome da categoria. A situação não está boa, mas neste momento não se pode fazer paralisação que vão prejudicar ainda o País, afirmou. A CNTTL também não vai apoiar eventuais indicativos de greve com viés político, segundo seu diretor, Carlos Litti. A pauta defendida por quem faz esse movimento é partidária. Não é uma pauta econômica de avanços e melhorias das condições de trabalho e de dignidade dos caminhoneiros, como o retorno da aposentadoria especial, os pontos de parada e descanso, a jornada de trabalho e a fiscalização do piso mínimo. Segundo o presidente da Confederação Nacional dos Caminhoneiros e Transportadores Autônomos de Bens e Cargas (Conftac), André da Costa, uma eventual greve dos caminhoneiros não está no radar da categoria.

Não há qualquer indício ou mobilização concreta por parte da categoria de caminhoneiros para deflagrar uma paralisação neste momento. Ainda que alguns líderes pontuais tenham manifestado a possibilidade de greve em razão discordâncias políticas, essa posição não reflete a realidade da maioria dos caminhoneiros autônomos. A manifestação da entidade ocorre após a bancada da oposição na Câmara dos Deputados anunciar, no dia 21 de julho, que quer mobilizar os caminhoneiros e o agronegócio em movimentos a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro, com mobilização nacional prevista para 3 de agosto. A Conftac destaca que a grande maioria das entidades representativas não sinalizam intenção de paralisação. As negociações quanto às reivindicações da categoria ocorrem no âmbito do Fórum Nacional do Transporte, que reúne governo, entidades sindicais, cooperativas e agentes do transporte rodoviário. A Conftac mantém como prioridade a preservação dos direitos da categoria.

Para a entidade, movimentos de natureza político-eleitoral ou retórica ideológica não devem interferir nas pautas legítimas e técnicas que afetam diretamente a rotina dos profissionais na estrada. Portanto, enfatizou: não há indicativo de greve. As principais bases da categoria não demonstram apoio à paralisação por ora. A confederação tem compromisso com a categoria dos caminhoneiros autônomos "longe de ruídos políticos". Estima-se que há cerca de 470 mil caminhoneiros autônomos no País. As entidades reconhecem, contudo, que lideranças mais inflamadas da categoria podem mobilizar ações localizadas e regionais conforme as preferências políticas e partidárias individuais dos transportadores autônomos. A categoria foi um dos segmentos de maior apoio à eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.