23/Jul/2025
Era 12 de abril quando o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Peter Hegseth, afirmou, ao se referir à América Latina: “Vamos recuperar o nosso quintal”. Seu raciocínio era de que as administrações anteriores haviam sido omissas em relação à região, permitindo que a China estabelecesse contratos e relações que ameaçam os Estados Unidos. A frase não passou despercebida. Observadores das relações internacionais sentiram que o potencial da ventania, que nascia nos Estados Unidos, se dirigia ao sul. O Panamá foi o primeiro país a senti-la e, depois, a Colômbia. No Brasil, como sempre, as elites, o governo e a oposição se comportaram como se a história não lhes dissesse respeito. Mas, os indícios estavam à vista de todos: a irracionalidade da gestão norte-americana, a polarização política, os abalos na aliança atlântica, o rearmamento da Europa, a humilhação de Zelenski e as ameaças à soberania do Canadá e da Dinamarca. E o que dizer das taxas contra União Europeia, China, Japão, México, Canadá e África do Sul? Tudo dirigido para além dos muros do “quintal norte-americano”.
Em pouco mais de 15 dias, o governo Trump impôs sanções à economia brasileira em razão do destino da família Bolsonaro, chantageando Judiciário, empresários e trabalhadores, agindo como se buscasse o ‘pizzo’, a taxa de proteção cobrada pelas máfias. Um ponto chamou a atenção de observadores militares: o fato de Trump, que nunca tomou a pauta ambiental para si, ter usado como argumento para suas sanções o desmatamento ilegal da Amazônia. Por qual motivo um presidente que retirou seu país do Acordo de Paris, defensor dos combustíveis fósseis e cujos apoiadores não acreditam no aquecimento global resolveu defender a Amazônia? “Não é a bandeira dele (Trump)”, disse um general. O atual cenário caótico, causado pela ausência de racionalidade, seria como se as discussões estivessem “vedadas aos adultos da sala”. O general alertou: se a soberania da Amazônia for ameaçada, será “a morte da estratégia bolsonarista”. Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo são acusados de usar o governo norte-americano para obstruir a Justiça no Brasil.
Na visão deles, a estratégia serviria para arrancar a anistia ao chefe do clã. “Já está ruim para ele justificar as tarifas, imagina se o camarada investir contra algo tão precioso, que é a nossa soberania territorial na Amazônia?” Coronéis da ativa e da reserva do exército brasileiro avaliam com quais os cenários que o País deveria se preocupar. Se o Brasil ceder, seria possível pensar em um cenário em que, no futuro, Trump questionaria a soberania brasileira na região? Embora distante, esse seria um cenário com o qual as autoridades deveriam se preocupar? As perguntas foram endereçadas aos militares. Um deles não viu motivo de preocupação. O general disse que os países têm “laços históricos e de amizade”. Para ele, a questão é fundamentalmente “política e ideológica”. Os Estados Unidos não querem perder um aliado de 200 anos, com imenso potencial e riquezas das quais são beneficiários. O Brasil tem uma posição estratégica, controlando rotas comerciais “imprescindíveis aos norte-americanos”, e disse que o desejo de Trump é enfraquecer o Brics e a esquerda latino-americana, além de criar um contraste com a Justiça brasileira.
O general crê no pragmatismo norte-americano. É possível, como lembrou, que queiram enfraquecer a COP30, mas, se esse era o objetivo, por qual razão Trump pôs o desmatamento na Amazônia como um dos fatores pelos quais o Brasil será investigado com base na Seção 301 da Lei Abrangente de Comércio e Competitividade Americana? A disputa geopolítica com a China e as big techs podem estar no centro do raciocínio dos norte-americanos. Ainda assim, seria possível a países como o Brasil esquecer o papel do termo “quintal” nesse contexto? Ele estabelece uma dupla dimensão sobre as sanções à economia brasileira e aos ministros do STF e a Paulo Gonet. Os Estados Unidos buscam um parceiro idôneo no Brasil ou um caseiro para o “quintal”? Um dos entrevistados resumiu: “As grandes potências nunca deixaram ou deixarão de cobiçar a Amazônia brasileira”. Por isso, ele não se surpreenderia se, em um contexto de maior tensão com o Brasil, os Estados Unidos “partissem para tal pressão em prol da Amazônia”. Assim, há um consenso entre os militares: é preciso que o Brasil mantenha um “olhar cuidadoso sobre a região”.
Ou como resumiu outro general em sua contribuição. Ele lembrou que o Exército sempre se posicionou em favor do maior envolvimento da sociedade, sobretudo do poder público, com os temas da Amazônia. Trata-se de região cujas carências demandam mais atenção de governos e, principalmente, investimentos. Enfim, o que se pode fazer para superar a crise? A opinião majoritária é o a do que disse um general quatro estrelas. Para ele, “o Brasil não pode fazer ou deixar de fazer nada sob pressão do Trump”. Isso porque, quando se torna difícil dizer o que Trump pretende ou não fazer, a questão amazônica se transforma em algo “possível”. O general ensina que o governo dos Estados Unidos, e os norte-americanos em geral, acreditam que o “hemisfério ocidental” é sua “área de influência”. Esse sentimento estava adormecido porque os norte-americanos estavam ocupados no mundo todo. Para o militar, quando “pretendem deixar de ser a polícia do mundo, eles vão focar na sua ‘área de influência’”. E o “problema não é só a Amazônia, é o Brasil todo”. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.