21/Jul/2025
O Grupo de Líderes Empresariais (Lide) afirmou que o setor privado brasileiro está se mobilizando para apresentar ao governo brasileiro propostas concretas que possam embasar as negociações com os Estados Unidos e evitar o agravamento do chamado "tarifaço" anunciado pelo presidente norte-americano, Donald Trump. A intenção é construir uma "agenda positiva", reunindo representantes de diferentes setores produtivos para levar sugestões práticas e dialogar sobre os prejuízos já percebidos. Tanto o lado norte-americano como o lado brasileiro terão prejuízos bastante representativos por conta do tarifário, e terão mais ainda se houver uma retaliação. A estratégia do Lide é buscar "integração de cadeias produtivas" e um ambiente mais seguro para investimentos bilaterais, evitando uma escalada de medidas protecionistas.
Trazendo à mesa propostas concretas e efetivas, que tragam benefícios para os dois lados, pode-se criar uma justificativa econômica e política para que essas tarifas impostas pelo governo norte-americano sejam revistas. Milhares de empresas brasileiras e norte-americanas operam em ambos os mercados e um aumento de tarifas afetaria um relacionamento comercial construído ao longo de décadas. O setor privado quer previsibilidade, segurança e integração econômica com a maior economia do mundo. Esse tarifaço prejudicaria o trabalho que vem sendo construído há anos. O setor privado pretende contribuir para uma revisão construtiva e não para a retaliação. Para o LIDE, envolver questões políticas na discussão sobre tarifas entre Brasil e Estados Unidos é um erro que pode "custar caro" ao comércio bilateral.
O debate precisa se apoiar em critérios técnicos e econômicos, com propostas construtivas que evitem retaliações e preservem um relacionamento construído ao longo de décadas. O uso político da questão tarifária foi criticado. O acirramento das tensões tende a agravar ainda mais o cenário. Envolver a questão política nessa discussão foi um grande erro. A politização do debate enfraquece o diálogo bilateral e pode comprometer interesses estratégicos de ambos os países. O setor privado brasileiro busca previsibilidade nas relações com os Estados Unidos, segurança e uma integração econômica com a maior economia do mundo. Os empresários articulam a formação de um grupo representativo para acompanhar o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, em futuras rodadas de negociação em Washington (EUA). A proposta inclui reuniões com o Departamento de Comércio e o Departamento de Estado dos Estados Unidos, em busca de um acordo que reduza tarifas e dê perspectivas aos setores exportadores.
Embora governadores, como o de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tenham manifestado interesse em contribuir, os líderes empresariais destacaram que a competência formal é do governo federal. Quem capitania essa relação é o vice-presidente. O setor empresarial busca uma forma de sair da questão política e abordar a questão comercial industrial, afirmou o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Para ele, a operação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro não muda o cenário base de que o Brasil conseguirá negociar com os Estados Unidos, principalmente porque as empresas norte-americanas estão interessadas na negociação. Contudo, a questão política existe. O Lide considera que a condução do processo negocial será via o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Assim, por mais que considere pronunciamentos presidenciais importantes, a negociação empresarial é o canal mais importante de ação.
O membro do conselho de administração da BRF e da Telefônica Brasil, Luiz Fernando Furlan, afirmou que a imposição de tarifas dos Estados Unidos trará prejuízos bilaterais e que, se a retaliação se intensificar, há um risco de se romper cadeias produtivas integradas entre os dois países. Há cerca de 3,9 mil empresas norte-americanas com capital investido no País, além de cadeias produtivas integradas, como a da Embraer, que fabrica parte de seus aviões no Brasil e finaliza a montagem nos Estados Unidos. Somado a isso, o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, afirmou que a imprensa está "inoculada por essa briga de galos" na política, enquanto o setor empresarial busca contribuir com informações técnicas e pragmáticas. Os empresários elogiaram a condução da pauta por Alckmin e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, mas defendem ampliar a interlocução também pelo setor privado.
É muito comum nos Estados Unidos o setor produtivo fazer lobby. A ideia é abrir canais para mostrar que a tarifa prejudica tanto a indústria quanto o consumidor norte-americano. Ao fim do encontro, o grupo destacou que seguirá pressionando por um ambiente de negociação mais técnico e menos contaminado por disputas políticas internas. Ainda, o head de Comércio Exterior do Lide, Roberto Giannetti, afirmou que uma questão que preocupa o grupo de empresários é a interferência indevida do governo norte-americano em assuntos internos do Brasil. Se a razão a fundo da política tarifária de Donald Trump for política, não será possível realizar negociações entre os dois países, apesar não ser o cenário base do grupo empresariado. Se essa for a razão a fundo, então não tem jeito. É inegociável. Contudo, o tema político não foi abordado na reunião entre os empresários.
O acirramento da discussão política não colabora com uma solução econômica, que precisa ser feita com bases técnicas e racionais. A operação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro adicionou tensão ao ambiente político e pode comprometer a busca por soluções técnicas para a crise comercial com os Estados Unidos. O acirramento político vai esquentar o processo e influir em qualquer decisão técnica. O debate sobre tarifas precisa ser isolado das disputas partidárias. O atual embate tarifário pode ganhar contornos de mobilização popular e até reconfigurar discursos políticos no Brasil. Essa pauta comercial pode ultrapassar divisões partidárias e despertar um sentimento de defesa dos interesses nacionais diante das medidas adotadas pelo governo norte-americano.
Participaram da reunião na sexta-feira (18/07) empresários de diversos setores, como Henrique Meirelles (ex-ministro e ex-BC); Caio Megale (XP); Luiz Fernando Furlan (BRF); Nayana Rizzo (AWS); Fernando de Paula (McDonalds Rodrigo Simonato (Tereos); Guilherme Bastos (FGV); Haroldo Silva (Abit); José Velloso (Abimaq); Tirso Meirelles (Sebrae); Julio Serson (Grupo Vila Rica); Marcos Gouvêa de Soauza (Gouvea Ecosystem); Roberto Paranhos (Índia Chamber); Heleno Torres (ADV); João Doria (Lide); João Doria Neto (Lide); Juliana Villano (Embraer). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.