21/Jul/2025
Mesmo antes de Donald Trump deflagrar sua guerra tarifária, economistas já alertavam para o caráter inflacionário das medidas do presidente dos Estados Unidos. Como, de modo geral, inflação não se materializa de um dia para o outro, o entorno trumpista passou a propagar a ideia de que o Dia da Libertação (nome que o próprio Trump deu ao dia 2 de abril, quando anunciou suas tarifas retaliatórias) não estava pesando no bolso dos norte-americanos. Os dados de inflação de junho desmontam tal narrativa. No mês passado, o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,3% em relação a maio, o maior patamar mensal desde janeiro.
Na comparação com junho de 2024, o avanço foi de 2,7%. A meta de inflação do Fed, banco central dos Estados Unidos, é de 2%. Além da alta dos preços imobiliários e de energia, a inflação também subiu porque as empresas começam a repassar as tarifas de Trump para o consumidor. Os preços do café, por exemplo, aumentaram 2,2% em junho ante maio, enquanto os de frutas cítricas subiram 2,3% no mesmo período. Ressalte-se que essa elevação de preços ocorreu mesmo com a suspensão temporária de boa parte das tarifas e antes da ameaça do republicano de sobretaxar importações brasileiras destinadas aos Estados Unidos em 50%.
De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), 33% de todo o café consumido nos Estados Unidos é brasileiro. A expectativa agora é de piora do quadro inflacionário nos próximos meses, tendência negativa que pode ser ainda mais agravada se as novas tarifas de Trump (além dos 50% contra o Brasil, serão 30% para México e União Europeia) realmente vingarem. Ao iniciar a guerra comercial, Trump afirmou que estava protegendo os norte-americanos, que recuperariam empregos e pagariam menos pelo que consomem. Agora, porém, os próprios indicadores econômicos começam a desmentir o presidente. Não que Trump se importe.
Ao mesmo tempo em que ameaça países com tarifas que custam caro aos consumidores dos Estados Unidos, ele escala a retórica contra o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) Jerome Powell, que se mantém firme no compromisso de combater a inflação, como, aliás, é o que qualquer autoridade monetária séria e independente deve fazer. Se a inflação está distante da meta, ao Fed só resta manter ou até mesmo elevar os juros. Trump, porém, que já disparou diversos impropérios contra Powell, agora busca meios de livrar-se do atual presidente do Fed, cujo mandato termina apenas em maio de 2026.
Trump vem tentando convencer lideranças republicanas a ajudá-lo a demitir Powell, tarefa complexa e nada usual na história dos Estados Unidos, dada a autonomia de que goza o Fed. E tudo isso porque o presidente acha que os juros devem cair. Ocorre que a mão que alimenta a inflação, e impede a queda dos juros, é a do próprio Trump. Demitir Powell, além de temerário, em nada contribuiria para a queda da inflação e, consequentemente, dos juros. Pelo contrário: é muito provável que a subsequente turbulência torne ainda mais caro financiar a astronômica dívida norte-americana. O fato é que a conta do tarifaço chegou. E a julgar pelas ações do presidente dos Estados Unidos, seguirá subindo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.