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18/Jul/2025

Setores do Agro mais afetados por tarifas dos EUA

A possível imposição de uma tarifa adicional de até 50% sobre as importações de produtos brasileiros pelos Estados Unidos, com vigência prevista para 1º de agosto de 2025, acendeu um sinal de alerta no agronegócio nacional. Suco de laranja, café, carne bovina e frutas frescas estão entre os itens mais expostos à medida, que pode comprometer receitas, provocar desequilíbrios de mercado e, sobretudo, pressionar os valores pagos ao produtor.

- Suco de Laranja: o suco de laranja é o produto mais sensível à nova política tarifária. Isso porque já incide atualmente uma tarifa fixa de US$ 415,00 por tonelada sobre o produto, e a aplicação de uma sobretaxa de até 50% elevaria significativamente o custo de entrada nos Estados Unidos, comprometendo sua competitividade no segundo maior destino dos embarques brasileiros. Atualmente, os Estados Unidos importam cerca de 90% do suco que consomem, sendo o Brasil responsável por aproximadamente 80% desse total. Com a sinalização da tarifa, as indústrias brasileiras já passaram a suspender novos contratos, limitando-se ao mercado spot, com valores entre R$ 40,00 e R$ 45,00 por caixa de 40,8 Kg, diante do elevado grau de incerteza. Essa instabilidade ocorre justamente em um momento de boa safra no estado de São Paulo e Triângulo Mineiro (MG): 314,6 milhões de caixas de 40,8 Kg projetadas para 2025/2026, crescimento de 36,2% frente ao ciclo anterior. Com o canal norte-americano sob risco, o acúmulo de estoques e a pressão sobre as cotações internas tornam-se prováveis.

- Café: os Estados Unidos são o maior mercado consumidor global e respondem por cerca de 25% das importações de café brasileiro (principal mercado), especialmente da variedade arábica, insumo essencial para a indústria local de torrefação. O impacto é estrutural: como os Estados Unidos não produzem café, a elevação do custo de importação compromete diretamente a viabilidade econômica da cadeia interna, que envolve torrefadoras, cafeterias, indústrias de bebidas e redes de varejo. A exclusão do café do pacote tarifário é não apenas desejável, mas estratégica, tanto para a sustentabilidade da cafeicultura brasileira quanto para a estabilidade da cadeia de abastecimento norte-americana. No curto prazo, apesar de a safra 2024/2025 ter assegurado boa capitalização aos produtores, a comercialização da safra 2025/2026 avança lentamente. Com a queda nas cotações e a instabilidade externa, os produtores têm vendido volumes mínimos para manter o fluxo de caixa, postergando negociações maiores à espera de definições sobre o cenário tarifário.

- Carne Bovina: os Estados Unidos são o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, respondendo por 12% das exportações, atrás apenas da China, que concentra 49% do total embarcado pelo Brasil. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, em junho, o volume adquirido pelos norte-americanos já foi o menor desde dezembro do ano passado, mas as exportações totais de carne bovina brasileira tiveram o segundo melhor resultado do ano, beirando as 270 mil toneladas. Em março e abril, empresas dos Estados Unidos adquiriram volumes recordes, acima de 40 mil toneladas em cada mês, num possível movimento de formação de estoque diante do receio de que o presidente Donald Trump viesse a aumentar as tarifas para o comércio internacional. Em abril, foram importadas 47.836 toneladas (in natura e processada); já no mês seguinte, o volume se reduziu quase à metade e, em junho, baixou mais 33% sobre o volume de maio. Em termos absolutos, as compras norte-americanas foram de 18.232 toneladas no último mês. Apesar da redução para os Estados Unidos, o volume total exportado pelo Brasil em junho foi bem próximo ao de abril, diferença de 2.705 toneladas, equivalentes a 1%. Boa parte da compensação de abril para junho ocorreu com o aumento dos embarques principalmente à China, que tem ampliado mensalmente suas compras desde fevereiro. De abril para junho, os Estados Unidos diminuíram o volume em 29.603 toneladas, enquanto a China aumentou em 27.782 toneladas. Em junho, especificamente, vários outros parceiros comerciais também aumentaram suas compras frente a maio. Esse fluxo sinaliza que frigoríficos brasileiros têm possibilidade de ampliar suas vendas em outros mercados, ainda que haja dificuldade quanto ao ajuste de cortes demandados. São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul são os Estados, nesta ordem, que mais têm escoado carne aos Estados Unidos. A redução de Goiás foi a maior de abril para junho, cerca de 9.283 toneladas a menos de carne. O volume do último mês representou apenas 37% do que foi enviado em abril. Em Mato Grosso do Sul, junho equivaleu a apenas 44%, com diminuição de 3.962 toneladas. Reduções significativas ocorreram também nos demais estados relevantes da pecuária. São Paulo é o que teve a menor diminuição de volume, de 1.802 toneladas, com junho ainda representando 73% dos embarques de abril.

- Frutas Frescas: o impacto imediato recai sobre a manga, cuja janela crítica de exportação aos Estados Unidos inicia-se em agosto. Já há relatos de postergação de embarques frente à indefinição tarifária. A uva brasileira, cuja safra tem calendário relevante para os Estados Unidos a partir da segunda quinzena de setembro, também passa a integrar o grupo de culturas em alerta. Até o anúncio da medida, a expectativa era de crescimento das exportações de frutas frescas em 2025, sustentada pela valorização cambial e pela recomposição produtiva de diversas culturas. Contudo, o cenário tornou-se incerto. A projeção otimista foi substituída por dúvidas. Além da retração esperada nas vendas aos Estados Unidos, há o risco de desequilíbrio entre oferta e demanda nos principais destinos, pressionando as cotações ao produtor. A medida tende ainda a desorganizar os fluxos comerciais internacionais. Com a retração das exportações aos Estados Unidos, frutas que seriam destinadas ao mercado norte-americano podem ser redirecionadas à União Europeia ou absorvidas pelo mercado brasileiro, gerando um cenário de acúmulo de frutas nos canais tradicionais de comercialização e pressionando os preços ao produtor. Persistem também incertezas quanto às importações brasileiras de frutas frescas, tanto em volume quanto em origem, frente à nova conjuntura global.

Diante deste contexto, é urgente uma articulação diplomática coordenada, com vistas à revisão ou exclusão das tarifas sobre produtos agroalimentares brasileiros. Tal medida é estratégica não apenas para o Brasil, mas também para os próprios Estados Unidos, cuja segurança alimentar e competitividade da agroindústria dependem de forma substancial do fornecimento brasileiro. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.