18/Jul/2025
Setores que se encontraram com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, nesta semana, apontaram dificuldades na abertura de novos mercados, ante o aumento das tarifas sobre produtos brasileiros anunciado pelos Estados Unidos. No dia seguinte ao anúncio do presidente norte-americano, Donald Trump, na semana passada, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva falou da intenção de conversar com empresários para procurar novos mercados para os produtos brasileiros hoje exportados ao mercado norte-americano. A Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) afirmou que é difícil transferir a produção para outros mercados, ainda que siga necessário tornar a indústria brasileira mais competitiva. Abrir novos mercados sempre é importante, mas não é algo que vai solucionar o problema mais imediato e, no caso do setor, é pouco provável conseguir novos mercados para absorver todo o volume de manteiga de cacau que vai para os Estados Unidos.
Os Estados Unidos são o segundo mercado importador do produto. O Brasil vai perder mercado e, se inundar essa oferta no mercado local, haverá um problema de colapso da cadeia como um todo. É um produto difícil de ser colocado em outro mercado, porque é um produto mais caro e, em geral, são países mais ricos que compram volumes maiores de manteiga de cacau. Na mesma linha, a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) afirmou que a busca por novos mercados é "muito difícil" de se fazer a curto prazo. A intenção é boa, mas difícil de executar. Há produtos que não tem como desviar o destino. O setor, indiretamente, fornece produtos que servem de insumo para outros produtos, como, por exemplo, compensado de madeira. Esse produto é usado para montar a estrutura de casas de madeira, muito produzidas pelos norte-americanos. A indústria química exporta atualmente US$ 2,4 bilhões em produtos químicos para os Estados Unidos, 80% concentrados em 50 categorias de produtos.
O país norte-americano é o segundo maior mercado da associação. A sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros é insustentável. Há pressão das próprias empresas dos Estados Unidos que operam no Brasil e lá. Segundo relatos, os participantes das reuniões no MDIC foram unânimes na defesa da continuidade das negociações com o governo norte-americano, a princípio sem retaliação. As centrais sindicais levaram ao governo a preocupação com os empregos, já que as tarifas vão impactar fortemente o setor industrial brasileiro. Elas defenderam que o governo já pense em medidas para contornar esse impacto. As preocupações são as mesmas, de retração da atividade econômica. Já há relatos de setores que paralisaram plantas industriais, uma vez que os importadores pediram para segurar a importação, e outros segmentos decidiram adiantar as férias coletivas. Empresários e trabalhadores manifestaram o que consideram "irracionalidade" da carta de Donald Trump, que citou questões políticas e do Judiciário brasileiro, relativas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, para embasar a decisão de aumento de tarifas.
Diante desse cenário, os setores defendem uma prorrogação do prazo, o que foi admitido pelo próprio vice-presidente da República. Há expectativa de avanço na mesa de negociação em torno da proposta apresentada pelo governo brasileiro em maio. Na quarta-feira (15/07), Alckmin e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, enviaram uma carta ao Secretário de Comércio dos Estados Unidos Howard Lutnick e ao Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer. No documento, as autoridades brasileiras manifestaram a "indignação" com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto, e cobraram resposta à minuta de proposta enviada em 16 de maio: “O Governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos Estados Unidos à sua proposta". Os termos dessa proposta, que contém as áreas de negociação nas quais soluções mutuamente acordadas entre os dois países poderiam ser negociadas, ainda são confidenciais.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, afirmou nesta quinta-feira (17/07), que não foi o governo brasileiro que criou problema com os Estados Unidos, em referência à aplicação de uma sobretaxa de 50% a produtos brasileiros. "Nós não criamos o problema, mas vamos trabalhar para resolver!", escreveu Alckmin no X. No post, acompanhado por um vídeo, o vice-presidente reforçou que o Brasil tem déficit com os Estados Unidos e chamou a tarifa de "absurda", dizendo que ela "não tem a menor lógica". "O Brasil não abre mão da sua soberania nem da separação dos Poderes, que é pedra basilar do Estado de Direito. E caminha para negociação", prosseguiu Alckmin. Ele ainda afirmou que o Brasil "se dá bem com todos os países do mundo" e possui uma relação de mais de 200 anos com os Estados Unidos. "Não há nenhuma razão para ter esse aumento de tarifa exatamente com o Brasil, que é um país com que os Estados Unidos têm superávit na balança comercial", completou. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.