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18/Jul/2025

Contribuição dos Polinizadores na produção agrícola

De acordo com estudo “Contribuição dos Polinizadores para as produções agrícola e extrativista do Brasil - 1981 a 2023” divulgado nesta quinta-feira (17/07) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a polinização feita por abelhas, morcegos, borboletas e outros animais movimenta silenciosamente a agricultura brasileira há cinco décadas. Entre 1975 e 2023, quase metade dos 89 produtos avaliados (32 culturas temporárias, 35 permanentes e 28 itens extrativistas) dependeu em algum grau desse serviço ecológico, que contribuiu substancialmente para a economia, incrementando a produção de diversas culturas, com destaques para o açaí e castanha na Região Norte, fruticultura nas Regiões Nordeste e no Sul, café e laranja na Região Sudeste, e soja e algodão na Região Centro-Oeste. O estudo toma como base as informações das pesquisas Produção Agrícola Municipal (PAM) e Produção da Extração Vegetal e Silvicultura (PEVS). A pesquisa informa que o IBGE criou o Indicador de Contribuição dos Polinizadores no Valor da Produção, que ajusta a receita de cada produto ao seu nível de dependência.

Em 2023, o índice variou de 5% a 25% do faturamento total no campo, com média de 16,14%, leve alta frente a 1996 (14,4%). O avanço também se reflete no mapa municipal: hoje, 19% das cidades brasileiras têm mais de um quarto de seu valor agrícola atrelado à polinização, ante 15% em 1996. O efeito é mais pronunciado em culturas permanentes e na extração vegetal, base de cadeias como a do açaí e da castanha. Além do aporte financeiro, a prática sustenta ecossistemas inteiros. As abelhas são os principais polinizadores, mas há outros insetos e alguns mamíferos que prestam esse serviço de transportar o pólen de uma flor a outra e o que possibilita a reprodução das plantas. O processo é fundamental para a produção agrícola, a manutenção da biodiversidade, a reprodução das plantas silvestres, a manutenção das áreas de vegetação nativas, e dos ecossistemas naturais. Entre os cultivos permanentes, 71,4% se beneficiam da polinização animal. Dos seis principais produtos em quantidade produzida, quatro dependem desse serviço: laranja e café arábica, com dependência Modesta, e cacau e castanha-de-caju, com dependência Essencial. Os produtos são classificados conforme o grau de dependência: Essencial, Alta, Modesta, Pouca e Sem Dependência.

Os enquadrados como Essencial, isto é, impossíveis de produzir sem a ação de polinizadores, são mais frequentes entre cultivos permanentes do que temporários. Embora a área ocupada por cultivos permanentes tenha oscilado em torno de 6 milhões de hectares ao longo do período analisado, a produção triplicou: de 15 milhões de toneladas em 1975 para 45 milhões em 2023. Ainda assim, são as lavouras temporárias que definem a curva geral de dependência, pois concentram a maior área, quantidade produzida e valor da produção nacional. Em 2023, na área colhida dos cultivos permanentes, a classe de dependência Modesta ocupou cerca de 41%, com café arábica, laranja e coco-da-baía como destaques. Produtos da classe Essencial responderam por 20%, puxados por cacau e caju. A comparação entre temporários e permanentes indica maior diversidade de taxas de dependência entre as culturas permanentes. A iniciativa do IBGE acompanha o movimento de instituições de vários países que adotam mecanismos para mensurar serviços ecossistêmicos na economia, como o Sistema de Contas Econômicas Ambientais (SCEA, ou SEEA) desenvolvido pela Divisão de Estatísticas da Organização das Nações Unidas (UNSD/ONU).

Em 2023, produtos oriundos da produção extrativista que tinham algum grau de dependência da polinização feita por espécies como abelhas, morcegos e borboletas corresponderam a 44,4% do total coletado (843 mil toneladas). A produção extrativista foi a modalidade em que a contribuição de animais para a polinização mais aumentou proporcionalmente, ao passar de 21,8% em 1996 para 47,2% em 2023. Foram investigados dados de 28 produtos do extrativismo e concluiu-se que 39,3% se beneficiaram diretamente da polinização animal entre 1996 e 2023. O índice é superior ao encontrado entre cultivos agrícolas temporários (31,8%) mas inferior ao dos produtos de cultivos permanentes, de 71,4%. Além do açaí, cuja dependência é considerada Alta, produtos como buriti, caju (castanha ou fruto), castanha-do-Pará, cumaru (amêndoa) e licuri (coquilho) aparecem com nível de dependência Essencial. Pequi e umbu também se destacaram nessa categoria nos últimos anos. Segundo o estudo, 32% dos itens analisados dependem essencialmente de seres vivos para a transferência de pólen entre as partes masculinas e femininas das flores.

Só em 2023, as classes Essencial e Alta somadas responderam por 41,2% da quantidade total. O estudo analisa como esses polinizadores influenciam a formação de frutos e sementes vendidos ao consumidor e fornece estimativa da contribuição da ação animal na receita obtida com a produção agrícola/extrativista. Esse é um tema já explorado pela comunidade acadêmica global e está sendo ampliada essa base de conhecimento apresentando o Indicador de contribuição dos polinizadores no Valor da Produção. É importante lembrar da importância da polinização para a diversidade alimentar a partir de espécies nativas e para os modos de vida tradicionais de comunidades extrativista. Foram analisadas a quantidade produzida, a área colhida e o valor da produção (resultado da multiplicação da produção obtida pelo preço médio pago ao produtor) nos diferentes níveis de dependência do trabalho dos animais. Em 2023, o valor médio do Indicador de Contribuição dos Polinizadores no Valor da Produção ficou em 16,14%.

Pela forma de cultivo, o índice foi de 12% para lavouras temporárias, 38,7% para permanentes e 47,2% para o extrativismo. O indicador foi calculado para a produção total do Brasil e para as grandes regiões e municípios em que agricultura e extração vegetal figuram entre as três principais atividades econômicas do PIB local. Apesar de os produtos do extrativismo apresentarem distribuição geográfica mais restrita, o estudo mostra que, em 2023, a participação das Regiões Norte e do Nordeste foi ampliada e houve avanço na Região Centro-Oeste, especialmente no Cerrado de Goiás e Tocantins. Existem municípios em que toda a produção agrícola extrativista é baseada em espécies que dependem essencialmente da polinização, o que reforça a importância de políticas públicas adequadas de conservação, de aperfeiçoamento do manejo agrícola e de restauração das paisagens, porque a maior parte desse serviço está sendo fornecida por ecossistemas naturais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.