16/Jul/2025
O governo Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom contra o governo Donald Trump e afirmou nesta terça-feira (15/07), deplorar o que chamou de "manifestações indevidas" de autoridades dos Estados Unidos. Em paralelo à tentativa de negociar um recuo de Trump no tarifaço de 50% contra exportações brasileiras, anunciado com viés político, o Ministério das Relações Exteriores voltou a rebater declarações disseminadas pelo Departamento de Estado, desde Washington, e reproduzidas em âmbito doméstico pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. "O governo brasileiro deplora e rechaça, mais uma vez, manifestações do Departamento de Estado norte-americano e da embaixada daquele país em Brasília que caracterizam nova intromissão indevida e inaceitável em assuntos de responsabilidade do Poder Judiciário brasileiro. Tais manifestações não condizem com os 200 anos da relação de respeito e amizade entre os dois países", disse o Itamaraty.
Mais cedo, o próprio Trump voltou que considera o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro uma "caça às bruxas" e que seu aliado político não é "desonesto". O perfil oficial no X da embaixada norte-americana em Brasília republicou na noite de segunda-feira (14/07), um posicionamento do Departamento de Estado, com reiteradas críticas ao processo penal contra Bolsonaro, no Supremo Tribunal Federal (STF). A publicação ocorreu na mesma noite em que a Procuradoria-Geral da República pediu a condenação de Bolsonaro por golpe de Estado. Horas antes, o subsecretário para Diplomacia Pública dos Estados Unidos, Darren Beattie, se referiu ao STF como a "Suprema Corte de Moraes" (uma referência ao ministro-relator Alexandre de Moraes).
Beattie afirmou que Bolsonaro sofria "ataques" da Corte e do governo petista e os chamou de uma "vergonha", termo já usado antes pelo próprio Trump. "O presidente Trump enviou uma carta impondo consequências há muito esperadas à Suprema Corte de Moraes e ao governo Lula por seus ataques a Jair Bolsonaro, à liberdade de expressão e ao comércio norte-americano. Tais ataques são uma vergonha e estão muito abaixo da dignidade das tradições democráticas do Brasil. As declarações do presidente Trump são claras. Estaremos observando atentamente", escreveu Beattie, um ex-assessor da Casa Branca, empresário e estrategista político que exerce agora função na chancelaria e se define como um "apaixonado por promover afirmativamente a liberdade de expressão como uma ferramenta diplomática".
Em paralelo o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) e o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), tentam retomar rodadas de negociação técnica para evitar o tarifaço. Eles rascunharam uma carta que poderá ser entregue a suas contrapartes pela Embaixada do Brasil em Washington. "No que se refere ao comércio, o Brasil vem negociando com autoridades norte-americanas, desde março, questões relativas a tarifas, de interesse mútuo, e está disposto a dar sequência a esse diálogo, em benefício das economias, dos setores produtivos e das populações de ambos os países.
A equivocada politização do assunto não é de responsabilidade do Brasil, país democrático cuja soberania não está e nem estará jamais na mesa de qualquer negociação", afirmou a chancelaria brasileira. Este é o terceiro caso, em menos de uma semana, de embate direto e protesto diplomático de parte de Lula contra ingerências de autoridades do governo Trump no Brasil. Na semana passada, o encarregado de negócios dos Estados Unidos em Brasília, Gabriel Escobar, foi convocado duas vezes para ouvir reprimendas no Itamaraty. Escobar chefia interinamente a representação norte-americana enquanto Trump não indica um embaixador, um sinal de relações políticas esvaziadas.
A primeira chamada ocorreu porque a embaixada norte-americana havia remetido em resposta à imprensa nacional uma crítica direta à ação penal contra Bolsonaro, com teor similar ao distribuído antes em Washington. Ele ouviu que a atitude era uma "intromissão indevida e inaceitável". Também na quarta-feira (09/07), o diplomata teve de retornar ao Itamaraty para confirmar a autenticidade e "receber de volta" a carta em que Trump anunciou o tarifaço de 50% contra o País. O governo brasileiro também publicou notas, por meio do Palácio do Planalto, com a resposta oficial de Lula, que ameaça aplicar a Lei de Reciprocidade Econômica. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.