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16/Jul/2025

Europa-América Latina buscam ampliar cooperação

Mesmo antes do retorno de Donald Trump ao governo dos Estados Unidos, Europa e América Latina já buscavam estreitar a cooperação em temas como meio ambiente, economia, tecnologia e segurança. A política isolacionista do republicano, no entanto, somada à retomada global dos investimentos em Defesa, têm feito europeus e latino-americanos acelerarem os laços, com o objetivo de proteger a ordem multilateral. Segundo a Serviço Europeu de Ação Externa, o braço diplomático da União Europeia, raras vezes a política dos dois lados do Atlântico estiveram tão alinhadas, principalmente nas relações União Europeia e Brasil. Isso não vai durar porque assim são os ciclos políticos e há uma possibilidade para essa cúpula de ter a União Europeia e o Brasil unidos num pacto para a democracia, para o Estado de Direito e para a ação contra a mudança climática. A cúpula é uma reunião que vem sendo planejada entre o bloco europeu e o Brasil, a primeira em 11 anos.

Essa busca por aprofundamento na amizade ficou explícita na XXII Conferência de Segurança Internacional do Forte, realizada no dia 10 de junho no Rio de Janeiro, organizada pela Fundação Konrad Adenauer (KAS) em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e a Delegação da União Europeia no Brasil. Com os preparativos para a COP30 em Belém (PA), a conferência deste ano teve como tema "Para Além do Não Retorno", sobre a conexão entre clima e segurança, dois assuntos que conectam os latino-americanos e os europeus. 2025 é realmente um bom ano nas relações, não somente União Europeia e Brasil, mas para América Latina e Caribe e como um todo. E tem um certo efeito Trump, porque todos os países do mundo agora estão examinando se os acordos que têm dão a possibilidade de fazerem mais coisas juntos, e isso não é nada ruim. As duas regiões já possuem um longo histórico de cooperação em matéria climática, sendo o Euroclima um dos principais programas de diálogo entre União Europeia e América Latina.

Mas, ambos os lados reconhecem que ainda há um longo caminho a ser traçado, especialmente com os Estados Unidos novamente fora do Acordo de Paris. Segundo a Fundação Helênica para Política Europeia e Externa, é uma cooperação histórica. O problema é que há uma relativa falta de conhecimento entre as sociedades das regiões sobre seus interesses clássicos da política externa dos países latino-americanos e dos países europeus, que foram sempre um pouco distantes um do outro. O estreitamento dos laços começou muito antes de Trump retornar à Casa Branca, mas ele tem servido como um fator para as duas regiões valorizarem sua amizade, especialmente ao concordarem em temas como regulação do espaço digital, liberdade de expressão e desinformação, assuntos nos quais o republicano tem posições opostas à de europeus e latino-americanos. Um exemplo disso é o acordo Mercosul-UE, que ficou travado por mais de 20 anos e finalmente avançou ano passado na iminência de Trump voltar ao poder. Onde essa cooperação ainda caminha lentamente, segundo especialistas e autoridades, é em segurança, um tema cada vez mais caro à Europa.

Em 2023, União Europeia e América Latina estabeleceram as metas para uma cooperação em segurança. No 3º encontro Celac-UE daquele ano se expandiu a parceria dos blocos em Justiça e segurança por meio do El Paccto 2.0 com o objetivo de combater o crime organizado transnacional, a corrupção e a lavagem de dinheiro. As ações, porém, se chocam com o próprio conceito de segurança segundo cada região. Enquanto na América Latina e Caribe a definição parece conectada com crime organizado, tráfico de drogas e segurança pública, na Europa as ameaças da Rússia fazem a palavra segurança carregar um sentido mais militar. O mundo está mudando e a definição de segurança também está mudando. Em 2023, houve conversas sobre segurança, mas a meta principal da reunião foi de reanudar os votos do matrimônio e aceitar que a meta principal seria essa transição digital justa. Mas a partir de 2023, nos contatos bilaterais, os países da região e na Europa passaram a pedir mais ênfase sobre a segurança.

Além disso, a geografia não joga a favor. A Europa está enfrentando uma ameaça existencial, especialmente para alguns Estados que estão no Leste Europeu por causa da intervenção da Rússia, e isso é algo que não se sente tanto na América Latina. Ao mesmo tempo, existe uma falta de conhecimento na Europa das crises locais, como a questão da Venezuela e da Guiana. Com a invasão russa da Ucrânia e a pressão crescente que vem exercendo Donald Trump para que a Europa amplie seus gastos em defesa, a União Europeia adotou uma nova política de defesa que visa injetar 800 bilhões de euros em proteção militar. Mas, esse novo foco não fará com que a Europa retire seus fundos de outras áreas e países, apontando, na realidade, uma oportunidade. O Brasil tradicionalmente tem a indústria aérea, com a Embraer, e vários outros materiais que são utilizados na área de defesa. Então, tem oportunidades para países como o Brasil. A expectativa europeia é avançar algum tipo de acordo ou ao menos rubricar as conversas sobre segurança na próxima cúpula da União Europeia com a Celac em novembro na Colômbia.

O Serviço Europeu de Ação Externa planeja anunciar na cúpula uma nova política bi-regional nessa área de segurança dos cidadãos, mas ainda tem que entrar em acordo com a Celac e buscar o orçamento necessário. Já existem canais de cooperação via Interpol que estão sendo fortalecidos, mas a ideia é fazer algo principalmente no nível político. Reconhecer que esse é um problema birregional e que se deve buscar uma solução birregional. Na Conferência do Forte, autoridades também defenderam uma maior interação entre os próprios países da América Latina a fim de fazer frente ao isolacionismo norte-americano, especialmente na área criminal, que é onde as preocupações de segurança da região residem. A ex-ministra do Interior da Colômbia, Nancy Patricia Gutiérrez, afirmou que o crime é transnacional, mas infelizmente as ações conjuntas dos países estão diminuindo. A mesma coisa acontece na América Latina e, definitivamente, há ações individuais e, como o regime político dos diferentes países também está mudando, isso causa isolamento do resto do mundo.

A ex-ministra do governo de Iván Duque ressalta que as maiores preocupações de segurança estão justamente na Amazônia, uma floresta compartilhada entre Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. Essa conexão exige que as soluções sejam buscadas em conjunto. A deputada e ex-secretária de Meio Ambiente do estado de Guanajuato, no México, Maria Isabel Ortiz Mantilla, lembra que políticas contra o multilateralismo, como as de Trump, já ocorreram em seu país sob Andrés Manuel López Obrador e no Brasil sob Jair Bolsonaro. A saída foi recorrer aos governos locais. Os acordos multilaterais não podem depender apenas do governo no poder. Se não é a prioridade do presidente, são os Estados ou os governos locais e os congressos que continuam a promover isso. Este é um dos momentos mais críticos em questões multilaterais, sem dúvida. Mas, ter acordos como o Acordo de Paris permite que se tenha clareza sobre para onde estamos indo e, mesmo que os líderes dos países mudem, é mais complexo para eles modificarem o que seu país já assinou, conclui. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.