14/Jul/2025
Um grupo de parlamentares democratas criticou a ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifa de 50% sobre importações do Brasil, como um sinal de "abuso de poder". A oposição, porém, não delineou medidas concretas de reação, após o republicano demandar o fim do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro na Justiça ao justificar a sobretaxa. Em comunicado, o senador Ron Wyden, membro do Comitê Financeiro, acusou Trump de "sacrificar a economia" para ganhos pessoais. "Trump vai fazer os americanos pagarem mais por café, hambúrgueres e moradia, não para conseguir um acordo melhor para os trabalhadores ou famílias dos Estados Unidos, mas para pressionar o Brasil a deixar seu ex-presidente corrupto escapar impune", afirmou.
Wyden disse ainda que a ofensiva tarifária do presidente americano é "ilegal". Ele afirmou trabalhar com procuradores estaduais para questionar a autoridade de Trump no comércio, além de atuar com outros senadores para "recuperar nosso papel constitucional" no tema. A senadora Jeanne Shaheen, do Comitê de Relações Exteriores, argumentou que a tarifa ao Brasil "faz pouco sentido", uma vez que os norte-americanos mantém superávit comercial com o País. Para ela, a decisão apenas eleva as incertezas para empresas e exportadores.
"Os norte-americanos merecem um presidente que coloque as finanças das suas famílias em primeiro lugar, e não a sorte política de cúmplices estrangeiros corruptos", afirmou. O senador Tim Kaine, que concorreu à vice-presidência na chapa da candidata Hillary Clinton em 2016, traçou paralelos entre o caso de Bolsonaro e o processo contra Trump pela invasão do Capitólio em 2016. Para ele, a taxação indica que "lamentos políticos perturbados" do republicano. Ele prometeu usar "todos os meios disponíveis" para bloquear as tarifas, mas não detalhou o que pretende fazer. "Usar tarifas para interferir em processos judiciais estrangeiros leva o abuso de poder a um nível totalmente novo", criticou.
Na Câmara dos Representantes, a deputada Linda Sánchez chamou a sobretaxa aos brasileiros de "abuso de poder". Segundo ela, Trump deflagra uma guerra comercial para apoiar um aliado. "Isto não é apenas antidemocrático, mas também corrupto", disse. Entre os republicanos, o senador Rand Paul, conhecido por posições mais libertárias, disse que simpatiza com a situação de Bolsonaro, mas que a política comercial não é o fórum adequado para lidar com questões políticos. "Se isto for feito para os acontecimentos atuais de todos os países, levará ao caos", ressaltou.
O economista norte-americano Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia de 2008, voltou a criticar a taxação de 50% aos produtos brasileiros que entrarem nos Estados Unidos a partir de agosto. Depois de defender o impeachment do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pelo que fez, ele afirma que o republicano 'infringiu a lei'. "Outro dia escrevi sobre a tarifa de Trump sobre o Brasil, que é, como eu disse, maligna e megalomaníaca. Mas esqueci de apontar que é flagrantemente ilegal", escreveu Krugman, em texto publicado na sexta-feira (11/07). De acordo com ele, a lei norte-americana permite ao presidente impor tarifas a outros países sem legislação adicional. No entanto, esse poder não é ilimitado.
"As tarifas só podem ser impostas por razões específicas", explica o Nobel. Dentre possíveis motivadores para taxações, Krugman menciona a Seção 201, em caso de disrupções de mercado, a Seção 232, que trata da questão de segurança nacional, e a Seção 301, que endereça práticas desleais. Ele cita ainda razões como direitos antidumping e emergência econômica internacional, ou seja, em momentos de crise. "Trump abusou enormemente de todas essas justificativas, especialmente a última. Não há emergência econômica. Segundo o próprio Trump, as coisas estão ótimas".
O vencedor do prêmio Nobel reforça ainda que a tarifa sobre o Brasil não está relacionada com questões econômicas, mas é uma tentativa de interferir na política de outro país. Para Krugman, a carta de Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma 'confissão' de que o republicano está impondo uma tarifa por razões não econômicas. Ele também critica análises publicadas na imprensa de que Trump estaria "testando os limites de sua autoridade". "Não, Trump não está 'testando os limites de sua autoridade' ou algum outro eufemismo. Ele está infringindo a lei. Ponto final. E deve ser noticiado dessa forma", conclui Krugman. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.