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14/Jul/2025

Possíveis impactos das tarifas dos EUA na inflação

Economistas de instituições do mercado financeiro divergem sobre quais serão os principais efeitos da nova tarifa de 50% dos Estados Unidos para o Brasil sobre a inflação doméstica. Há, por um lado, temor de que a diminuição das compras de produtos brasileiros pelos Estados Unidos provoque enfraquecimento do Real, justamente em um momento em que o câmbio jogava a favor do combate à inflação. Fontes da área econômica do governo já relataram que, se aplicadas, a tarifa de 50% jogaria um "balde de água" fria na desaceleração da inflação. Ao mesmo tempo, o virtual fechamento do mercado dos Estados Unidos cria a possibilidade de itens que originalmente seriam exportados, como café, aço e carne bovina, permanecerem no mercado interno, o que aumenta a oferta e, em tese, diminui os preços domésticos. Há ainda um terceiro efeito previsto, de aumento na pressão inflacionária, caso o governo brasileiro decida retaliar os Estados Unidos elevando tarifas de bens importados dos Estados Unidos.

O Bradesco calcula que, se a tarifa de 50% for confirmada, haveria acréscimo de 0,35% à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025. O tarifaço levaria a uma redução de US$ 15 bilhões nas exportações do Brasil, o equivalente a 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Assim, para manter a conta corrente estável, o câmbio poderia ter uma depreciação da ordem de 6%, o que acarretaria uma inflação mais alta. Os impactos seriam percebidos ainda neste ano, com IPCA pouco abaixo de 5,5%. A Porto Asset reconhece que o anúncio das tarifas traz o risco de Real mais depreciado frente ao dólar, mas ressalta que até o momento a moeda nacional acumula valorização de aproximadamente 10% em relação à norte-americana em 2025. O efeito principal até agora é de apreciação do Real em relação ao início do ano. Evidentemente, o episódio das tarifas adicionou um risco, mas se o ambiente continuar a ser de dólar majoritariamente fraco, isso atenua o impacto de desvalorização do Real.

A previsão para o IPCA é de 5,4% e dólar a R$ 5,70 no fim deste ano. Para a Warren Investimentos, as tarifas, a princípio, trazem viés de baixa à projeção de inflação, de 5% no final de 2025, dada a possibilidade de crescimento da oferta no mercado doméstico. Parte expressiva da produção de carne bovina é exportada para os Estados Unidos, haveria mais oferta de carne internamente, contribuindo para reduzir os preços. O cenário traçado pela casa contempla câmbio de R$ 5,50 no final do ano, estimativa que também ganhou grau de incerteza por conta do tarifaço. O Santander Brasil acrescenta que, além da carne bovina, o aço e o café são outros itens que podem ter oferta aumentada no País com o fechamento do mercado dos Estados Unidos. Porém, o impacto de alívio sobre o IPCA será pouco relevante. Primeiro porque, no caso do café e da carne bovina, não deve haver dificuldade para que o Brasil encontre novos mercados consumidores, redirecionando essas exportações.

Em relação ao aço, se trata de um item que afeta a cadeia produtiva de diversos setores da indústria, mas cujo impacto no preço tende a demorar a ser repassado para os bens. Por isso é difícil imaginar algum efeito desinflacionário que vá além de 0,1% no IPCA. No cenário de hoje, o repasse do aumento da oferta tende a ser zero. A Quantitas considera que com as novas tarifas, o câmbio se estabilizaria em uma faixa de R$ 5,60 a R$ 5,80, o que mais do que compensaria qualquer efeito de melhora nos preços internos por aumento da oferta. O efeito líquido seria um IPCA 0,40% mais alto. O cenário pode se agravar ainda mais em caso de retaliações por parte do Brasil, já que aproximadamente 50% das importações provenientes dos Estados Unidos são máquinas e equipamentos, cujos preços afetam bastante o custo de produção local. Esse efeito, contudo, seria mais difuso no tempo. No pior dos cenários, as tarifas podem aumentar o IPCA entre 0,60% e 0,70% em um horizonte de 12 meses.

O Ministério da Fazenda afirmou que é muito precoce fazer qualquer análise sobre um possível impacto inflacionário decorrente do aumento das tarifas de 10% para 50% anunciado pelos Estados Unidos. No entanto, dois fatores principais devem ser observados nesta análise: o comportamento da taxa de câmbio e possíveis efeitos deflacionários resultantes dessa inesperada e inexplicável tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras. Há uma incerteza e uma fricção no curto prazo em relação ao câmbio, mas existem muitos fatores a serem considerados. O Real tem tido uma pequena desvalorização nos últimos dias, mas nada, por enquanto, que altere de maneira significativa as projeções. É preciso observar o que vai acontecer ao longo dos próximos dias e semanas. A moeda brasileira foi a que apresentou o melhor desempenho entre os países da América Latina, quando comparada à média da região. Por outro lado, o aumento de tarifas pode dificultar a exportação de alguns produtos brasileiros, como carne e café, o que também pode significar uma maior oferta no mercado doméstico e, consequentemente, gerar efeitos deflacionários. São produtos que, nos últimos meses, desde o final do ano passado, tem pressionado, por exemplo, a inflação em alimentação, em particular, o café. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.