11/Jul/2025
Após a resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira (09/07), quando os Estados Unidos anunciaram uma tarifa de 50% para os produtos importados do Brasil, a definição dos pontos que serão apresentados pelo País como uma forma de retaliação será feita com "calma", de acordo com fontes diplomáticas. Há a avaliação de que o posicionamento político, que era visto como "necessário e urgente", já foi feito pelo chefe do Executivo. A ordem agora é aproveitar ao máximo os próximos 20 dias para que os termos a serem colocados pelo Brasil não soem como afobados. Pelo anúncio feito pelo presidente Donald Trump, as novas tarifas começam a valer em 1º de agosto e algumas frentes serão tomadas. Neste momento, o governo recolhe pela Esplanada dos Ministérios nomes considerados chave e que poderão contribuir em discussões que serão feitas em grupo para saídas a serem adotadas pelo Brasil.
Desde quando Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos ameaçando ampliar as alíquotas, técnicos de alguns ministérios começaram a estudar possíveis alternativas para retaliação. O trabalho não parou, mas perdeu parte da força quando a taxa inicial para o País era de 10%, entre as mais baixas anunciadas no Liberation Day, em 2 de abril. Agora deve ser retomado com "toda a força" e com a recuperação de pontos que já estavam mais avançados, como a relacionados a patentes de medicamentos, por exemplo. O Brasil quer continuar a manter o "selo" de ser o único integrante da Organização das Nações Unidas (ONU) a não ter inimizade com nenhuma nação. Por isso, a ordem é a de que um passo seja dado a cada vez. A diplomacia doméstica, reconhecida no exterior, tenta novas articulações com os Estados Unidos.
Até o momento não se sabe se o país está disposto a negociar de alguma forma tendo por base princípios econômicos, e não políticos. A resposta que o Brasil quer dar é madura perante não só os norte-americanos, mas em relação ao restante do mundo. Não haverá uma resposta açodada ou infantil por parte do País. O governo brasileiro está criando um grupo para avaliar de que forma o Brasil atuará reciprocamente em relação aos Estados Unidos. O grupo ainda está em formação, mas é provável que a propriedade intelectual entre na lista, em especial para o caso de medicamentos. Há a avaliação de que o Brasil possa antecipar, por exemplo, o fim do período em que há direito de patentes dos fabricantes. No caso dos remédios, muitas vezes há direitos exclusivos concedidos a empresas que desenvolvem algumas substâncias e protegem seus produtos por algum tempo determinado, impedindo que terceiros façam a fabricação, a venda ou a distribuição da fórmula sem autorização.
O grupo formado pelo governo prestará especial atenção, no entanto, aos produtos que são comprados nos Estados Unidos e que podem servir como insumos para a indústria doméstica. O intuito é o de não aumentar os custos de alguns itens que são fundamentais para serem transformados em outros produtos no Brasil. Seria um ‘tiro no pé’ para a indústria doméstica colocar respostas automáticas sem avaliar as consequências de produtos que têm características próprias. Por isso, haverá especial atenção sobre esses produtos. Uma forma de atuação poderia ser via itens que hoje entram na lista de drawback, uma ferramenta que restitui ao exportador impostos alfandegários cobrados pela importação da matéria-prima utilizada na fabricação do produto exportado. Ainda se verá se essa restituição tem condições de ser mantida ou se pode ser retirada, sem prejudicar a manufatura nacional.
O governo brasileiro pretende reagir apenas após agosto à imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros. O governo Lula ganhou tempo e trabalha com o prazo de cerca de 20 dias para responder a Trump, mas considera que seria um “erro” reagir antes do prazo dado na carta. Donald Trump deu um “ultimato” pedindo uma espécie de “rendição” e não indicou na carta nenhuma opção de negociação. O que Trump exigiu “não está na mesa”. Para estrategistas do governo, o abandono de ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Jair Bolsonaro, sobre a tentativa de golpe, seria uma “capitulação inaceitável”. A primeira reação de Lula, por meio de nota pública, foi pensada não somente como a resposta a Trump, mas também ao bolsonarismo.
A avaliação do governo é que a oposição perdeu o controle da narrativa. A avaliação corrente na Presidência da República é que a carta de Trump repercutiu mal para a oposição bolsonarista, que ficou na “defensiva”. O governo Lula enxerga sinais de que a única saída seria o presidente norte-americano anunciar dizendo que “negociou” com Bolsonaro, o que daria a ele um discurso de volta. Um estrategista do governo citou o termo ‘weaponization’ para resumir que Trump transformou a política tarifária em “arma” para tentar mudar assuntos internos do País. Para um observador do governo, claramente era uma forma de usar a tarifa para provocar a mudança de regime.
Em entrevista ao Jornal da Record, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que vai cobrar 50% em tarifas dos Estados Unidos caso o presidente Donald Trump cumpra a promessa de tarifar os produtos brasileiros. Além da reciprocidade, o presidente também disse que avalia recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) e propor investigações internacionais. Lula também sinalizou que manterá o diálogo aberto, e disse que o Brasil é um país onde tudo se resolve “na conversa”. “Temos vários caminhos. Podemos recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio), propor investigações internacionais, cobrar explicações. Mas o principal é a Lei da Reciprocidade, aprovada no Congresso. Se ele cobrar 50% da gente, a gente vai cobrar 50% dele”, disse Lula. Lula afirmou que deve criar um comitê de emergência com empresários que terá atuação diária, e focará em repensar a política comercial com os Estados Unidos.
O presidente destacou que a alegação de Trump de que os norte-americanos têm déficit comercial é falsa. “Ele alega que os Estados Unidos têm déficit com o Brasil, mas isso não é verdade. Em 2023, exportamos US$ 40 bilhões e importamos US$ 47 bilhões dos Estados Unidos. Tivemos um déficit de US$ 7 bilhões. E se somarmos os últimos 15 anos, o Brasil acumulou um déficit de US$ 410 bilhões com os norte-americanos. Será que ninguém do Tesouro explicou isso para ele antes de escrever aquela carta absurda?”, afirmou Lula. O presidente também exigiu respeito por parte dos Estados Unidos. Lula ressaltou que o Brasil tem 201 anos de relação diplomática com os Estados Unidos, uma relação virtuosa, de benefício mútuo. Lula classificou a carta enviada por Trump como “absurda” e disse que não é costume enviar recados, por redes sociais, para chefes de Estado.
O presidente também endossou que cabe ao Legislativo e ao Judiciário brasileiro estabelecer e cumprir leis. “A primeira coisa que o povo brasileiro precisa saber é que quem tem que respeitar o Brasil e gostar do Brasil são os brasileiros. E, ao mesmo tempo, exigir que os outros nos respeitem”, declarou o presidente. Ele atacou o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e disse que ele está nos Estados Unidos para influenciar Trump a intervir no processo do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira (10/07) que o governo estuda um "rol enorme" de medidas que podem ser adotadas caso as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros anunciadas pelo presidente americano, Donald Trump, não sejam revertidas.
"Há muitas medidas não tarifárias, há medidas tarifárias que não impactam a inflação, há uma série de alternativas que vão ser consideradas. Isso não significa que vão ser acionadas, porque o nosso desejo é que até lá isso tenha sido superado. Teremos tempo para superar", disse Haddad. A fala ocorreu após o ministro ser indagado sobre um possível impacto inflacionário de retaliações do governo brasileiro contra os Estados Unidos. O ministro classificou as tarifas norte-americanas contra o Brasil como "um grande mal-entendido", e afirmou que, independentemente do impacto, o País quer manter uma boa relação com os Estados Unidos e cooperar com o mundo inteiro. Ele afirmou que as tarifas são fruto de uma ação ideológica e não têm sentido econômico. "O Brasil não pode ser apêndice de um bloco econômico. Nós queremos o acordo União Europeia-Mercosul, queremos manter as nossas exportações para a Ásia, que é um grande parceiro comercial, queremos investimentos norte-americanos no Brasil, que detém o maior estoque de capital no País. Tudo isso nós queremos continuar fazendo com normalidade, com tranquilidade", disse.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, culpabilizou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos. Alckmin voltou a falar que o Brasil não é um problema para os norte-americanos, pois tem superávit comercial em bens e serviços. "O clã Bolsonaro trabalhou contra o interesse do País e do povo brasileiro. Agora a gente vê que esse clã, mesmo fora do governo, continua trabalhando contra o interesse brasileiro. Antes, era um atentado contra a democracia, mas agora é um atentado contra a economia", disse Alckmin. Segundo Alckmin, a atitude de Trump foi um "equívoco" e deve ser "corrigida" e a tarifa norte-americana prejudica a geração de empregos. O vice-presidente declarou que Lula está criando um grupo de trabalho emergencial para cuidar das reações contra a tarifa anunciada por Trump. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.