11/Jul/2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que "qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica". A declaração foi uma resposta ao anúncio do presidente do Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% aos produtos importados do Brasil pelo país. "A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo", afirmou o presidente brasileiro em nota oficial distribuída à imprensa e publicada na rede social X. A resposta de Lula foi divulgada após o presidente realizar uma reunião de emergência com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro da Indústria, Comércio e Serviços, e os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Na nota oficial, Lula afirmou que o "Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém".
"O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais", ressaltou. Em carta enviada ao governo brasileiro e publicada na rede social Truth Social, Trump disse que a tarifa aos produtos brasileiros seria imposta por causa do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e de decisões do Supremo Tribunal Federal envolvendo big techs de redes sociais. O presidente Lula afirmou que "a sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a liberdade democrática" e que, "no Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas". "Para operar em nosso País, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira", completou.
O presidente também rejeitou a narrativa levantada por Trump em sua carta ao governo brasileiro de que haveria um desequilíbrio na balança comercial entre Brasil e Estados Unidos. Essa informação é falsa e as estatísticas do próprio governo dos Estados Unidos comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de US$ 410 bilhões ao longo dos últimos 15 anos. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, considerou “equivocada” a declaração do presidente norte-americano, Donald Trump, sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Isso é uma coisa totalmente equivocada. Acho que ele (Trump) está mal-informado”, afirmou o vice. Em seguida, citou o caso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O presidente ficou preso quase dois anos, ninguém questionou o Poder Judiciário, ninguém questionou a questão do País. É assunto do Judiciário, é assunto interno do Judiciário. Não tem sentido uma interferência dessa, ela não é adequada, talvez até por desconhecimento”, completou.
Segundo o ex-embaixador do Brasil na Itália e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros não tem precedentes e é o ato mais grave das relações entre Brasil e Estados Unidos. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faz uma "intervenção inaceitável" contra a soberania nacional e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve agir de forma recíproca. Trata-se de fato extremamente grave, o mais grave nas relações entre os dois países pelas seguintes razões: partiu do próprio presidente Trump, a mais alta autoridade dos Estados Unidos. Não foi mera declaração na mídia social, mas foi feita numa carta dirigida diretamente ao presidente Lula. “Começa por uma intervenção inaceitável contra a soberania nacional, o que justifica, a meu ver, devolver a mensagem", afirmou Ricupero. A tarifa anunciada por Trump configura uma agressão econômica seríssima para defender o ex-presidente Jair Bolsonaro, e inviabiliza qualquer exportação brasileira aos Estados Unidos.
O ex-embaixador avalia que a medida obriga o Brasil a reagir "no mesmo nível". Além da agressão política e da tomada de posição em favor de um condenado pela justiça brasileira, também configura uma agressão econômica. Embaixadores também defendem que o Brasil adote uma posição pragmática para solucionar o impasse com os Estados Unidos. O ex-embaixador do Brasil na Coreia do Sul Sergio Barbosa Serra disse que o governo não pode "politizar" as tarifas, mas deve adotar um tom de prudência. Entre as medidas para contornar a situação, o ex-embaixador afirmou ser importante a ida da cúpula econômica do governo e do vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, para os Estados Unidos. As tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos brasileiros representam uma “agressão ao Brasil” e “misturam temas que não deveriam ser misturados, avalia o embaixador aposentado Sérgio Moreira Lima.
“Nunca vi na minha carreira diplomática uma comunicação dentro desse padrão. É sem precedência. É surpreendente o que está acontecendo”. Sérgio Moreira Lima já serviu em países como Israel, Estados Unidos, Portugal e Reino Unido. A justificativa de Trump de aumentar as tarifas é lamentável. Trump criticou o Judiciário e o sistema eleitoral do Brasil, afirmando que há uma perseguição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A carta começa com uma questão que não é da alçada do Executivo, mas do Judiciário. E depois, associa isso a uma questão tarifária. O que caracteriza a democracia é um sistema de freios e contrapesos. Misturar essas questões demonstra falta de compreensão sobre o sistema. Segundo Moreira Lima, a tarifa imposta pelos Estados Unidos representa uma violação das normas internacionais e vai na contramão da história de cooperação entre os dois países. Em um momento como esse, em que se enfrenta questões existenciais, e com aproximação da COP30, era o momento para os Estados Unidos e o Brasil estarem trabalhando juntos, e não voltados a questões que os afastam das grandes causas que os dois países sempre defenderam.
Moreira Lima também fez críticas à política externa norte-americana nos últimos anos. Trump se afastou completamente da Organização Mundial do Comércio (OMC). Se o sistema multilateral estivesse funcionando plenamente, o caminho seria um recurso à OMC. Mas, o que se vê é uma arbitrariedade praticada pelo lado norte-americano. As ações dos Estados Unidos representam interferência em assuntos internos do Brasil, violando princípios consagrados do direito internacional. Isso não deveria estar acontecendo de acordo com o direito internacional. Isso já é uma agressão. As declarações do presidente americano, Donald Trump, em defesa do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro escalaram para uma crise diplomática, com reflexo na relação comercial entre os dois países. A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil chancelou as falas de Trump e afirmou, em nota, que “a perseguição política” contra Bolsonaro, sua família e seus apoiadores “é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil”.
Em reação, o Itamaraty convocou o representante da embaixada para prestar esclarecimentos e declarou que a manifestação é “inaceitável”. Logo depois da movimentação, Trump anunciou a imposição de tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto. O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro está desde março nos Estados Unidos, onde tem buscado uma pressão de parte de autoridades norte-americanas em favor do pai. O filho do ex-presidente é investigado no Brasil por suposta tentativa de embaraçar a ação penal do golpe de Estado em curso no STF. Após a primeira declaração de Donald Trump, na segunda-feira (07/07), Eduardo afirmou nas redes sociais que aquela “não seria a única vez nesta semana” que o governo dos Estados Unidos falaria sobre “o tema da perseguição no Brasil”. Ainda na segunda-feira (07/07), a justiça da Flórida mandou notificar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, a pedido da Trump Media & Technology Group, ligada ao presidente norte-americano, e da plataforma de vídeos Rumble.
Na ação movida pelas empresas, o ministro é acusado de promover “censura” nas redes sociais no Brasil. Recebido na quarta-feira (09/07), o encarregado de Negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, ouviu do Itamaraty que o governo brasileiro considera o apoio norte-americano a Bolsonaro “indevido” e “inaceitável” por representar uma intromissão em assuntos internos do País. O recado foi passado pela embaixadora Maria Luisa Escorel, secretária de América do Norte e Europa da pasta das Relações Exteriores brasileiro. O encontro durou cerca de 40 minutos. A embaixadora foi orientada pelo chanceler Mauro Vieira, que havia despachado antes com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Maria Luisa transmitiu ao encarregado norte-americano que o governo brasileiro ficou muito surpreso com o fato de os Estados Unidos “tomarem partido” em questão interna do País, uma nação amiga e democrática.
A embaixadora também ressaltou que o Brasil considera o episódio mais grave pelo fato de os Estados Unidos serem uma democracia tradicional e, no entanto, estarem se alinhando a quem “tentou dar um golpe no País e subverter o resultado da vontade popular”. Além de protestar contra a “intromissão”, Maria Luisa lembrou que a embaixada tem “informações suficientes” sobre a natureza das condenações de Bolsonaro na Justiça Eleitoral e da ação penal por tentativa de golpe. Portanto, segundo ela, não caberia usar a escusa da “desinformação”. Maria Luisa alertou ainda para consequências negativas na relação entre os dois países, caso episódios como esse continuem, e destacou que, embora o Brasil tenha atuado para evitar embates desde a posse de Donald Trump, reagirá na proporção que julgar adequada a “agressões despropositadas”. Para diplomatas, o Brasil não é o único alvo de Trump e atitudes semelhantes devem ser vistas como “o novo normal”. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.