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11/Jul/2025

Impacto limitado da tarifa dos EUA no PIB do Brasil

Do alívio à perplexidade, a tarifa dos Estados Unidos contra o Brasil subiu do piso (10%) para o teto (50%), numa medida que, se não for revertida, ameaça riscar a maior economia do mundo do mapa de muitos exportadores. Os efeitos da taxação devem pesar, sobretudo, no câmbio, com o dólar futuro já sendo atingido, e agrava ainda mais a situação de processos de fusões e aquisições (M&A) entre empresas brasileiras e norte-americanas. Menos mal que, mesmo sendo o segundo maior destino dos embarques brasileiros, os Estados Unidos não têm peso suficiente para levar sozinho a economia brasileira à recessão, de modo que o impacto no Produto Interno Bruto (PIB), ainda que não desprezível, deve passar longe de ser uma tragédia. Nas contas do Goldman Sachs, se forem duradouras e sem grandes retaliações, as novas tarifas dos Estados Unidos podem ter impacto negativo de 0,3% a 0,4% no PIB brasileiro. O cenário-base do banco norte-americano já contempla efeito de 0,1%.

É a vantagem de ter, nesses momentos, uma economia fechada. O ambiente de crescente incerteza tem feito as próprias companhias norte-americanas postergarem negociações de fusão e aquisição e já há relatos de operações de brasileiras que foram paralisadas nos últimos dias. Depois de ameaças, Donald Trump anunciou no dia 9 de julho uma tarifa de 50% a produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto, muito acima dos 10% anunciados em abril. No primeiro anúncio do tarifaço, em 2 de abril, o sentimento entre exportadores brasileiros era de "dos males, o menor". Havia até mesmo uma leitura de que o Brasil poderia tirar vantagem por ter ficado com a menor tarifa. Só que o cenário mudou radicalmente. O Brasil vai pagar a maior alíquota, o que impõe ao País o desafio de buscar novos clientes quando o resto do mundo também procura destinos alternativos aos Estados Unidos.

Segundo a gestora VanEck, a imprevisibilidade já é a principal marca da política comercial dos Estados Unidos, mas ainda assim o anúncio não deixou de surpreender, já que as apostas eram, em geral, de que Trump não elevaria a taxa de entrada dos produtos brasileiros para mais de 20%. É um grande aumento, porque a tarifa efetiva sobre o Brasil agora é de cerca de 8%. Então, aumentar de 8% para 50% parece assustador. Para o consultor Welber Barral, a tarifa de 50% deixa o Brasil praticamente de fora do mercado norte-americano, já que os consumidores dificilmente aceitarão o repasse da elevação tarifária, exceção a produtos específicos e insubstituíveis. Para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a tarifa de 50% a produtos brasileiros anunciada pelos Estados Unidos carece de fundamento econômico e terá um impacto significativo sobre empresas exportadoras. É uma medida que não tem fundamento econômico e, pela própria forma como foi veiculada, é um exercício de geopolítica imperial.

A medida cita questões políticas, diz que o Supremo Tribunal Federal censura empresas, o que absolutamente não é verdade. Entre os setores mais prejudicados por uma tarifa desta magnitude estão o siderúrgico e a indústria de aviação: a Embraer e seus fornecedores. O setor do aço tem um grande problema, pois é um produto que já vinha perdendo competitividade. O agronegócio também deve ser prejudicado pela tarifa de 50%, especialmente a venda de café e carnes. O Goldman Sachs afirma que a retaliação geraria um impacto negativo maior na atividade brasileira e na inflação, mas esse movimento ainda não está claro. A inclinação política pode ser para fazê-lo, mas os exportadores locais instarão o governo a desescalar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que "qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica". A motivação política da taxação de Donald Trump aos produtos brasileiros também repercutiu nos Estados Unidos, da política à economia.

A consultoria Eurasia afirmou que o governo norte-americano está interferindo na política interna do Brasil com a justificativa de que a alíquota responde aos ataques ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Na carta direcionada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump afirmou que a taxação é uma resposta ao tratamento dado pelo País ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas americanas de tecnologia. Seria intolerável para os líderes políticos norte-americanos (republicanos e democratas) se outro país tentasse isso nos Estados Unidos. Paul Krugman, economista norte-americano, vencedor do Nobel de Economia de 2008, disse que a nova tacada de Donald Trump é motivo para o impeachment do atual chefe da Casa Branca. “Se ainda tivéssemos uma democracia que funcionasse, essa jogada contra o Brasil seria, por si só, motivo para impeachment", diz Krugman. A medida é "tanto maligna quanto megalomaníaca" e não deve ser ignorada.

A Capital Economics avalia que o Brasil enfrenta desafios maiores nas negociações tarifárias com os Estados Unidos do que outros países devido às razões mais políticas do que comerciais para a taxação de 50%. A consultoria estima impacto de 0,3% a 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB) do País. Enquanto as cartas tarifárias recíprocas que Trump entregou esta semana foram amplamente ignoradas pelos mercados, o tratamento do Brasil causou um choque. Antes, a tarifa destinada ao Brasil era de 10%. Ao contrário de outros países que receberam cartas tarifárias recíprocas, no caso do Brasil não foi apenas sobre comércio, uma vez que é o único desses países que tem um déficit comercial de bens com os Estados Unidos. A carta destaca disputas sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e 'ataques' a empresas de tecnologia dos Estados Unidos. Trump também anunciou uma investigação da Seção 301 sobre as políticas de comércio digital do Brasil.

Porém, o Brasil não é dependente da demanda dos Estados Unidos, sendo a China o seu principal parceiro comercial. Pouco mais de 10% das exportações brasileiras vão para os Estados Unidos, o que representa cerca de 2% do PIB do País. O modelo de impacto tarifário da Capital Economics indica que uma tarifa de importação dos Estados Unidos de 50% poderia retirar 0,6% do crescimento do PIB do Brasil em um período de três anos. Tal efeito seria mitigado por uma desvalorização do Real (a previsão é de mais depreciação este ano) e algum redirecionamento de exportações para outros mercados. Isso poderia deixar o impacto na ordem de 0,3% a 0,5% do PIB. Portanto, não é um impacto enorme, mas também não é útil em um momento em que a economia parece estar desacelerando. O Brasil pode oferecer algumas concessões para negociar com os Estados Unidos, baixando tarifas ou barreiras não tarifárias em setores como automóveis, produtos agrícolas e etanol.

Mas, o forte elemento político na ameaça tarifária dos Estados Unidos torna mais difícil ver uma maneira de o Brasil apaziguar as relações com os Estados Unidos em comparação com outros países. Como a maioria das preocupações dos Estados Unidos se concentra nas ações do Supremo Tribunal Federal (STF), em vez de políticas governamentais, a administração Lula tem capacidade limitada para abordar o tema. Além disso, o presidente Lula não vai dar o braço a torcer para Trump porque está determinado a disputar a eleição do próximo ano e sua popularidade está em baixa. A reação inicial de Lula, ameaçando medidas comerciais retaliatórias, não sugere que ele esteja prestes a recuar. O maior risco seria o governo buscar afrouxar a política fiscal para compensar o impacto das tarifas no PIB. A Oxford Economics avalia que a taxação de 50% dos Estados Unidos a produtos importados do Brasil teria "efeitos limitados" para o País, pesando mais na confiança empresarial e investimentos.

Mesmo sob retaliação total, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve ficar cerca de 0,1% abaixo do seu cenário base para 2026. Isso reflete o fato de que o Brasil é uma economia relativamente fechada e ainda bem diversificada no comércio internacional, apenas cerca de 10% do total das exportações brasileiras, ou 2% do PIB, vão para os Estados Unidos. O impacto na economia real provavelmente viria mais da erosão da confiança empresarial e do aumento da incerteza econômica sobre o investimento fixo. A consultoria espera uma depreciação do Real, o que ajudaria a compensar o arrasto nas exportações até 2026. Um risco chave, no entanto, é que as tensões entre os Estados Unidos e o Brasil possam aumentar ainda mais. Destaque para o contra-ataque do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçando retaliar usando a Lei de Reciprocidade Econômica. Isso poderia levar a uma guerra comercial generalizada. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.