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11/Jul/2025

Tarifa dos EUA sobre Brasil inviabiliza o comércio

Ex-secretário de Comércio Exterior, o consultor Welber Barral entende que a tarifa de 50% anunciada pelo governo dos Estados Unidos deixa o Brasil praticamente de fora do mercado norte-americano. Os exportadores dificilmente conseguirão repassar a elevação tarifária aos consumidores norte-americanos, exceção a produtos específicos e insubstituíveis. A maioria dos setores vai ter um impacto grande na exportação. A tarifa deve se somar a outras específicas contra aço e alumínio, cujos produtores brasileiros têm nos Estados Unidos um dos principais destinos. O Brasil poderá desviar boa parte das commodities vendidas aos Estados Unidos a outros mercados. No caso de aço e alumínio, porém, é mais difícil encontrar novos compradores, dado o excesso de oferta desses produtos no mundo. A Nomad afirma que o anúncio de tarifas de 50% a produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve elevar as incertezas sobre o cenário econômico local, com a volta de cenários de alta de inflação ao radar dos investidores.

Além disso, deve provocar um aumento de volatilidade nos mercados domésticos. No Brasil, dólar e juros futuros dispararam, enquanto as bolsas reagiram negativamente. Dado o histórico, analistas e agentes econômicos deverão especular sobre a credibilidade dessas novas medidas, pois se observa um ‘vaivém’ na imposição de tarifas comerciais que marca a administração Trump. Há dúvidas se dessa vez será para valer ou é mais uma cartada para incentivar negociações que até o momento ficaram restritas a poucos países. Donald Trump iniciou nesta semana a publicação de cartas endereçadas a diversos países informando o aumento de tarifas e chegou a vez do Brasil. Foi anunciada a instalação de tarifas de 50% sobre os nossos produtos (com a possibilidade de mais 50% no caso de retaliações). Cenários com aumento de inflação e perda de atividade devem voltar ao radar. Para a MB Associados, a sobretaxa de 50% informada dos Estados Unidos a produtos brasileiros é mais do que proibitiva e inviabiliza os negócios com a economia norte-americana.

Como a resposta que Trump deseja do Brasil não vai se concretizar, ou seja, o ex-presidente Jair Bolsonaro seguirá impedido de concorrer às eleições de 2026, o risco é que as tarifas fiquem no patamar atual, ou em algum outro tão elevado. A tarifa comercial para o Brasil entrará em vigor a partir de 1º de agosto. O mercado estava tranquilo, achando que o pior momento já havia passado, mas Donald Trump será um choque consistente de quatro anos para a economia global. Ele vai ficar brincando de tarifas o tempo todo. O argumento de Trump para a tarifa é político, e não tem solução. A possibilidade dessa tarifa ficar elevada durante algum tempo não pode ser descartada. Não vai acontecer nada sobre Bolsonaro. A ofensiva tarifária dos Estados Unidos contra o Brasil tem como pano de fundo a cúpula do Brics, e tende a afastar ainda mais o Brasil dos norte-americanos, ao mesmo tempo em que deve reforçar a ligação entre os países que integram o grupo.

Nesse contexto, a tendência é que o comércio bilateral com a China ganhe ainda mais espaço na balança comercial brasileira, enquanto os Estados Unidos devem perder representatividade. A corrente de comércio entre Brasil e China está hoje em US$ 160 bilhões, mais do que o dobro da corrente com os Estados Unidos, que não chega a US$ 70 bilhões. Esse 'gap' entre Brasil e Estados Unidos só deve aumentar nos próximos anos e reforça a posição de que o caminho para o Brasil é se aproximar da China. Considerando o cenário de que a tarifa seja de fato imposta pelos Estados Unidos ao Brasil, haveria um impacto negativo na balança comercial no curto prazo, mas ao longo do tempo, as empresas brasileiras procurariam outros compradores e vendedores. Além da economia chinesa, a União Europeia é outro destino que pode absorver as exportações brasileiras, tendo em vista que o acordo do Mercosul com o bloco está perto de ser finalizado.

Um choque dessa magnitude causa um estrago no curto prazo, mas as empresas vão repensar suas decisões de exportação e importação no futuro. Dado que o Mercosul está se aproximando de um acordo com a União Europeia, há a possibilidade de ampliar ainda mais o comércio com os europeus. Para a Next Shipping, a taxação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos a partir de 1º de agosto pode inviabilizar as exportações brasileiras de muitos produtos, que já são de baixo valor agregado e competem com produtos asiáticos. A notícia pegou os exportadores de surpresa. O setor já esperava que o Brasil fosse tarifado, dado que ontem o governo norte-americano já começou a tarifar outros países, mas não nessa magnitude. Além disso, o presidente dos Estados Unidos não deixou exceções e tarifou todos os produtos de origem brasileira, ressaltando ainda que a tarifa valerá na origem do produto, não deixando espaço para que embarques sejam feitos de outros países.

Os exportadores estão preocupados é com o teor político da decisão de Donald Trump e, portanto, o tempo que podem levar as prováveis negociações entre o governo brasileiro e dos Estados Unidos para revê-la. Neste momento, o empresário está sem saber para onde correr e quando isso vai acabar. A opção seria desenvolver outros mercados, mas isso leva tempo, especialmente considerando que os Estados Unidos são o segundo maior importador de produtos brasileiros. Considerando a data de 1º de agosto para a vigência da tarifa de 50%, somente produtos que já estejam previstos para serem embarcados por transporte marítimo até este final de semana conseguirão escapar da nova alíquota. As cargas embarcadas por via marítima a partir do Porto de Santos (SP) levam em média 21 dias para chegarem em Miami (EUA). Pode haver cancelamentos. Em contrapartida, é possível que haja aumento na procura pelo transporte aéreo de cargas nos próximos dias, embora esse meio de transporte não seja a melhor opção para vários produtos, como madeira e pedras.

Os Estados Unidos importaram cerca de US$ 20 bilhões entre janeiro e junho do Brasil, considerando o valor da mercadoria no local de embarque, e as importações da Argentina, o terceiro maior importador brasileiro, somam apenas US$ 9 bilhões. A China importou US$ 47,6 bilhões no mesmo período do Brasil. A tarifa de exportação tem impacto também nas importações, à medida que desestimula os empresários a comprarem matérias-primas diante da falta de previsibilidade de embarques para o segundo maior mercado brasileiro. A Next Shipping está entre os 15 maiores operadores de logística de carga internacional do Brasil e tem como maior destino a Ásia. Entre as empresas que utilizam seus serviços estão Coca-Cola, BRF, Americanas, Magalu e Havan. Para a Porto Asset, o impacto majoritário da tarifa de 50% dos Estados Unidos contra o Brasil a partir de 1º de agosto será em torno do câmbio e do prêmio de risco. Em efeito cascata, as expectativas de inflação devem ficar um pouco mais pressionadas.

A taxação para produtos importados do Brasil pelos Estados Unidos tende a reduzir um pouco do impacto positivo do câmbio visto em 2025, que antes deveria contribuir para uma desinflação dos itens comercializáveis que dependem da cotação em dólar. Então, na medida em que o câmbio desvaloriza, acaba puxando também uma reversão parcial da desinflação que era esperada em torno dos itens associados ao dólar. Em termos de Produto Interno Bruto (PIB) o impacto deve ser "moderadamente negativo", levando em conta a pauta de exportações brasileiras. O impacto setorial, sobre empresas específicas, pode ser relevante. Mas, o impacto agregado tende a ser mais moderado. Ainda assim, é preciso mais informações sobre como as tarifas serão implementadas e quais serão as posições de retaliação por parte do governo brasileiro.

Para a LCA 4intelligence, houve elevação da incerteza no cenário macroeconômico por conta do anúncio de tarifas de 50% a produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. Está claro que o Brasil não pretendia entrar em guerra comercial com os Estados Unidos e que as autoridades brasileiras foram surpreendidas pelo anúncio. Os efeitos da política ainda são incertos, mas experiências recentes em países que foram mais visados pela guerra tarifária de Trump, houve o fortalecimento das correntes políticas que não são alinhadas ao presidente norte-americano. Isso ocorreu, por exemplo, na Austrália e no Canadá. A ARX Investimentos avalia que a implementação de uma tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, embora preocupante à primeira vista, teria um impacto marginal e gerenciável na economia brasileira. As exportações do Brasil para os Estados Unidos representam apenas 2% do Produto Interno Bruto (PIB) e cerca de 10% das exportações do País.

As exportações brasileiras para os Estados Unidos são fortemente concentradas em commodities, como petróleo, minério de ferro, aço, carne bovina e equipamentos de geração de energia. Portanto, o impacto direto de tais tarifas tende a ser limitado pela forte demanda global por commodities e pela capacidade de redirecionar parcialmente esses produtos para outros mercados. Em caso de uma tarifa de 40% dos Estados Unidos, sem retaliação brasileira, o PIB teria uma redução de menos de 0,2%. Se o Brasil retaliar, no entanto, o impacto do PIB seria mais negativo, de aproximadamente 0,3%, além de trazer pressão adicional à inflação e volatilidade ao câmbio. Isso poderia levar o Banco Central a aumentar a taxa de juros em até 0,3%. Nesse contexto, a estratégia mais eficaz para o Brasil reduzir o impacto negativo das tarifas no curto prazo seria implementar medidas de estímulo fiscal, parafiscal e de crédito, sem necessariamente recorrer a uma retaliação tarifária. Além disso, os esforços diplomáticos e comerciais para diversificar os mercados de exportação poderiam reduzir ainda mais a dependência de parceiros específicos, como os Estados Unidos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a tarifa de 50% contra produtos brasileiros é uma decisão eminentemente política e sem fundamento econômico. A medida é insustentável tanto do ponto de vista econômico quanto do político, de modo que não deve ser mantida. A balança de comércio e serviços bilateral é superavitária do lado norte-americano. O déficit do Brasil nas trocas de bens e serviços com os Estados Unidos somou US$ 400 bilhões nos últimos 15 anos. Então, não há racionalidade econômica na medida que foi tomada. Segundo Haddad, o próprio secretário do Tesouro, Scott Bessent, já havia reconhecido, em reunião, que havia espaço para negociar até mesmo a tarifa de 10%, inicialmente anunciada no tarifaço de Trump, dada a posição deficitária do Brasil. Ao dizer que não acredita na manutenção da tarifa de 50%, Haddad salientou que a diplomacia brasileira é reconhecida no mundo inteiro como uma das mais profissionais.

Fernando Haddad criticou a atuação da família Bolsonaro que provocou a tarifa de 50% dos Estados Unidos contra produtos brasileiros. Para Haddad, a única explicação plausível para o que foi feito é porque a família Bolsonaro urdiu esse ataque ao Brasil, com um objetivo específico, que é escapar do processo judicial que está em curso. "A única explicação é de caráter político envolvendo a família Bolsonaro. Isso não é uma acusação infundada que eu estou fazendo", acrescentou o ministro, citando declarações do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de que as coisas podem piorar se o pai não tiver o perdão. Segundo Haddad, Eduardo está nos Estados Unidos "conspirando contra o Brasil". Conforme Haddad, o anúncio de Donald Trump representa um golpe contra a soberania nacional, articulado por "forças extremistas" de dentro do País.

Porém, segundo o ministro, a extrema direita vai ter que reconhecer mais cedo ou mais tarde que deu um "enorme tiro no pé", uma vez que a medida prejudica em especial as exportações de empresas e produtores do estado de São Paulo, governado por Tarcísio de Freitas, um aliado de Bolsonaro. Ao comentar as declarações de Tarcísio, que responsabilizou o governo brasileiro pela tarifa anunciada por Trump, Haddad disse que o governador "errou muito". "Ou uma pessoa é candidata a presidente ou é candidata a vassalo, e não há espaço no Brasil para vassalagem." Segundo o ministro, agora é preciso encontrar um caminho para reconstruir a boa relação com os Estados Unidos. É uma relação histórica. Há divergências de governos, muitas vezes, um governo que adota uma determinada postura, que adota outra. Isso é normal da democracia, ter governos com orientações diferentes.

Mas, isso não pode comprometer uma relação entre Estados em função de eventuais divergências, que podem e devem ser superadas pela diplomacia brasileira. Ele frisou que é também o momento de todos, setor produtivo e agronegócio, estarem unidos. Setores afetados pelo tarifaço norte-americano já estão procurando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em busca de solução por um problema que, conforme Haddad, foi "criado por uma família". Haddad salientou que, apesar das divergências, o governo não mudou a atitude em relação aos Estados Unidos e respeitou o resultado das eleições no país, buscando cooperação econômica em diversas áreas. “Agora, quando se tem uma força interna trabalhando contra o interesse nacional, em proveito do interesse individual, aí tem problemas, disse o ministro, referindo-se novamente à família Bolsonaro.” Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.