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11/Jul/2025

Agronegócio entra em choque com bolsonarismo

O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com a imposição de sobretaxa adicional de 50% sobre os produtos brasileiros, coloca o agronegócio em choque com o bolsonarismo. O setor é historicamente aliado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao movimento de direita do seu entorno. Agora, contudo, empresários e políticos do ramo se veem numa encruzilhada: precisam contestar a medida unilateral de Trump, mas sem reconhecer as digitais do bolsonarismo no movimento que vai afetar fortemente a economia do campo. Esse dilema vai testar a solidez da relação do setor com o ex-presidente e até mesmo com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontaram, sob reserva, lideranças empresariais e políticas do agronegócio. Na carta em que anunciou o tarifaço ao governo brasileiro, Trump apontou expressamente a perseguição do Brasil a Bolsonaro.

O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, usou a taxação para cobrar do Congresso a aprovação de uma anistia ao pai, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) na ação penal do golpe. "Um tiro no pé que a família Bolsonaro deu no seu principal reduto eleitoral", afirmou o representante de uma entidade do agronegócio. Na eleição de 2022, Bolsonaro derrotou Lula em 77 dos 100 municípios mais ricos do agronegócio do País. Naquele pleito, o agronegócio foi um dos principais financiadores da campanha à reeleição do ex-presidente. Parte do empresariado esperava mais pragmatismo dos políticos de direita na relação com os Estados Unidos, tendo ciência que o setor seria um dos mais afetados pelas medidas protecionistas do líder norte-americano. O momento exigia cautela e afastamento. O próprio Trump coloca o setor agrícola e privado dos Estados Unidos em primeiro lugar, ante questões políticas, observou uma liderança dos exportadores.

Um empresário do agronegócio de São Paulo ressaltou que o governador paulista admitiu que o tarifaço de Trump terá impactos negativos para o Estado. "Esse reflexo para São Paulo deveria ter sido pensado lá atrás, quando Tarcísio colocou o boné na cabeça", afirmou, em referência ao adereço "Make America Great Again", usado pelo governador paulista para emular Trump. O Estado é polo produtor de suco de laranja, café e carne bovina, setores citados entre os mais expostos às tarifas pelo elevado grau de exportação ao mercado norte-americano. Longe do microfone, integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a maior bancada do Congresso, fizeram críticas à atuação da família Bolsonaro no tarifaço. Um dos lances mais comentados do episódio tem sido o vídeo de Eduardo Bolsonaro cobrando o Congresso a anistiar o ex-presidente, além de estimular aliados a agradecer Trump pela medida protecionista agressiva.

Um deputado da bancada mostrou irritação com a cobrança do filho de Bolsonaro, afirmando que não cabe ao deputado licenciado que deixou o País fazer qualquer exigência aos parlamentares. Outro integrante da FPA classificou o tarifaço como "duro golpe" para a direita, por centrar a pauta do grupo na figura da família Bolsonaro, seja pela anistia ao ex-presidente, seja pela citação direta na carta de Trump. Isso dificulta ainda mais a direita se organizar para 2026. Deputados bolsonaristas dizem nas redes sociais que a culpa é do Lula, mas no fundo sabem que o presidente dos Estados Unidos taxar o Brasil e praticamente exigir a absolvição do Bolsonaro é muito grave, avaliou interlocutor do agro no Congresso. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.