09/Jul/2025
A Cúpula dos Brics se encerrou com holofotes ainda maiores do que em seu início, após a declaração do bloco, crítica à imposição de tarifas unilaterais e aumento do protecionismo global, chamar a atenção do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Os países-membros também consolidaram uma mensagem unificada em defesa da reforma de instituições multilaterais criadas após a Segunda Guerra Mundial, incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização das Nações Unidas (ONU), e pregou avanço no sistema de pagamentos transfronteiriços bilateral, mas deixando de lado a menção à criação de uma moeda do Brics. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brics “está incomodando” por não ser um clube fechado de países privilegiados, mas sim um conjunto de países interessados em criar “outra forma de organizar o mundo”.
O presidente brasileiro foi enfático ao criticar a postura de Donald Trump, afirmando que o norte-americano não deveria ameaçar outros países e sua soberania pela internet. “Se ele (Trump) achar que pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade”, disse, em referência à publicação do republicano sobre intenção de tarifar em 10% países que adotassem as políticas “antiamericanas” do Brics. Outros países do bloco, em especial China, Rússia, África do Sul e Irã, também minimizaram as críticas de Trump e classificaram a reação como “esperada”, mantendo sólida a postura do Brics como “defensor dos interesses do Sul Global”. A reação trouxe mais força à conclusão da Cúpula do Brics, depois que a ausência dos presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, além de desentendimentos iniciais entre os integrantes do bloco quanto à linguagem do comunicado colocaram em xeque a unidade dos membros.
Os impasses giraram principalmente em torno do apoio à candidatura permanente no Conselho de Segurança da ONU e de como tratar os ataques dos Estados Unidos e de Israel contra o Irã, novo membro do Brics e que exigia uma linguagem mais forte do bloco condenando as ações. Os impasses levaram mais uma vez à divulgação antecipada do comunicado final, o que geralmente ocorre em casos em que é difícil chegar a um consenso. Quando se chega a um ponto comum, o anfitrião corre para publicar o documento e evitar retrocessos. No fim, o Brics concordou em condenar “nos termos mais fortes” os ataques contra o Irã, mas sem mencionar qualquer país, e demonstrou apoio à candidatura da Índia e do Brasil ao Conselho de Segurança (CS), mas sem citar a África do Sul, que antes também pleiteava uma vaga permanente. Se houver uma reforma no Conselho de Segurança da ONU está claro para todos que, dentro do bloco, os dois países são a escolha “natural” para as vagas.
O grupo defendeu em conjunto a reforma de instituições multilaterais para ampliar a participação de países em desenvolvimento capazes de refletir as “necessidades do século XXI”, dando grande ênfase ao fato de os Brics representarem mais de 40% do PIB global, uma linha similar a já vista nas discussões do grupo das 20 maiores economias do globo (G20), no ano passado, também capitaneadas pelo Brasil. As críticas e propostas de reformulação concentraram-se especialmente sobre o FMI e a ONU, que ganharam declarações separadas. O Brics também publicou planos em defesa de maior financiamento climático, combate a doenças socialmente determinadas, como a pobreza, e a regulamentação da inteligência artificial (IA), incluindo parâmetros de pagamentos justos para criadores de conteúdo. Com uma população representativa do globo, o condomínio quer fazer valer monetariamente as bases de dados das quais dispõem.
Não houve menção clara à intenção de ‘desdolarizar’ a economia global, palavra que passou a ser “proibida” entre negociadores no Brics. Ainda que o alvo seja evitar a moeda norte-americana, o intuito do bloco é avançar em pagamentos transfronteiriços utilizando moedas locais. O Banco Central brasileiro ficou a cargo disso este ano e apresentou ao demais integrantes um relatório que dará o caminho dos próximos passos a serem seguidos a partir de agora. Ainda sobre a economia, a Cúpula defendeu que países desenvolvidos devem ampliar iniciativas de financiamento climático para países mais vulneráveis, elevando o valor de investimento a US$ 300 bilhões até 2035, e consolidou a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que pode ser lançado até a realização da COP30. Ainda houve crítica do Brics ao uso de leis ambientais como forma de protecionismo comercial, em aparente alfinetada a políticas da União Europeia (UE). A Cúpula marcou um cenário de “preparação” para a COP30, com os países do Brics firmando seu comprometimento com o evento.
Presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago foi acionado por Lula para garantir que o evento acontecerá em novembro, em Belém (PA), como previsto, apesar de situações que a organização ainda precisa “contornar”. “É para falar também sobre os hotéis?”, perguntou o diplomata, brincando com a dificuldade que o evento vem enfrentando de tarifas altíssimas de hospedagem. O encontro no Rio de Janeiro, no entanto, não trouxe novidades sobre a participação da Arábia Saudita, que se manifestou de forma favorável à entrada no grupo, mas não formalizou a última etapa de sua participação. Entre os países fundadores do Brics, criado há duas décadas, estão Brasil, Rússia, Índia e China, com a adesão da África do Sul alguns anos depois. Mais recentemente, o Brics foi ampliado, passando a contar com Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Indonésia e Irã. Pelo calendário acertado nesta edição, e que deve ser confirmado até o fim do ano, o Brasil voltará a presidir o grupo em 2029. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.