09/Jul/2025
O Brasil se viu ameaçado com maiores tarifas de importação de seus produtos, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump anunciar, no dia 6 de julho, que países alinhados às “políticas antiamericanas do Brics” vão pagar uma tarifa adicional de 10%. Os detalhes de como isso pode acontecer ainda não foram divulgados, nem como seria atingido o País. Segundo o especialista em comércio exterior Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio do Barral Parente Pinheiro Advogados, o alvo principal das ameaças de Trump não é o Brasil, apesar das falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre “desdolarizar” as transações comerciais internacionais. Segue a entrevista:
As ameaças de Donald Trump de taxar em mais 10% os países alinhados ao Brics significa um endurecimento da posição americana contra o Brasil?
Welber Barral: A grande questão do Trump, quando se olham todas as suas declarações, primeiro é com os países com superávit muito grande com os Estados Unidos, e depois é com países que têm proximidade com a China. O acordo que eles fizeram com o Vietnã, especificamente, tinha uma cláusula tributando mais se fosse algum produto com origem na China.
Então, o alvo não é o Brasil, e sim a China? Mas não pode haver uma reação às falas de Lula sobre ‘desdolarizar’ o comércio internacional?
Welber Barral: Não acho que é contra o Brasil. Mas o que Trump tem falado muito contra o Brics é sobre a tentativa de usar outra moeda além do dólar. E, apesar de haver um superávit grande dos EUA com relação ao Brasil, pode ser que venha alguma coisa contra o Brics desta vez.
O governo, empresários e associações empresariais brasileiras têm falado em seguir o caminho da negociação com os EUA. Isso evoluiu? A falta de anúncios, inclusive, de tentativas de estabelecer cotas do aço indica que desta vez a negociação está mais dura?
Welber Barral: O Brasil tem tentado negociar com os EUA. Houve algumas reuniões entre o secretário do Comércio, Howard Lutnick, e o (vice-presidente brasileiro e ministro, Geraldo) Alckmin. Parece que as negociações foram interessantes, mas não houve nenhuma negociação concreta, até porque os EUA não fizeram nenhuma demanda concreta.
Isso acontece pelo governo americano estar priorizando as negociações com outros parceiros comerciais, como China, União Europeia, Canadá e México?
Welber Barral: O Brasil, na verdade, não é prioridade. A grande prioridade neste momento é a UE. Depois, tem Japão, Coreia do Sul, Malásia e outros países com quem os EUA têm negociações mais complicadas. Claramente, eles colocaram o Brasil não como uma prioridade dentro dessas negociações todas. E a postura até agora do governo brasileiro é de esperar a demanda americana, que até agora não chegou.
O governo brasileiro está adotando a estratégia certa?
Welber Barral: Pode-se perguntar se o governo o brasileiro tem razão de postergar alguma negociação. Mas, como disse antes, o Brasil, até por ter um déficit comercial com os EUA, não tem sido uma prioridade de negociação. Mas, em algum momento, vai chegar uma demanda para o Brasil com relação a dar acesso para produtos norte-americanos.
Hoje também foram anunciadas tarifas para Japão e Coreia do Sul de 25%. Não são tarifas duras para aliados históricos dos EUA?
Welber Barral: Com relação ao Japão e à Coreia, são tarifas, de fato, muito altas, até porque são dois países que basicamente foram reconstruídos pelos EUA. No comércio, eles sempre historicamente tiveram superávit com os EUA, que vão jogar duro principalmente para abrir o mercado agrícola desses dois países. É bom lembrar que hoje também saiu uma notícia de que a própria Europa estaria aceitando os 10%, para evitar uma tarifa mais alta, a qual tem sido uma ameaça do Trump. Ele já ameaçou colocar uma tarifa de 17% ou de 25% contra produtos agrícolas europeus.
Fonte: Broadcast Agro.