07/Jul/2025
Assim que o Plano Safra da agricultura empresarial foi lançado no dia 1º de julho, uma enxurrada de críticas e lamentações quanto aos números foi disparada por entidades do agronegócio. A reação firme do setor ao anúncio do Plano Safra 2025/2026 vai muito além da cifra de R$ 516,2 bilhões ofertados pelo Executivo aos financiamentos agropecuários de médios e grandes produtores e do aumento de juros. Interlocutores do setor afirmam não haver surpresa com os números aquém do esperado, mas citam decepção generalizada com o governo Lula. Essa "decepção" passa por um tratamento considerado inferior ao dado à agricultura familiar, por uma cruzada sobre incentivos fiscais recebidos pelo agronegócio e frequentes acusações sobre preços "caros" de alimentos. É um descaso com o setor e isso ficou claro com o quanto a agricultura familiar foi preservada com taxas atrativas e o dobro do aumento de recursos, enquanto na empresarial não houve reforço nem em segurar juros, nem em ampliar volume.
Não bastasse isso, o seguro rural, tema sensível aos produtores, sequer foi mencionado, alertou uma liderança do setor. Nos bastidores, a priorização ou não do setor pelo Executivo voltou a ser questionada após números aquém do esperado. O tom do anúncio também foi cobrado pelos representantes do setor. Um avanço de 1,7% abaixo da inflação de 5,3% e ainda esperam ‘confetes’ do agro. Foi o possível, mas faltou moderação. Não é momento de ganhar louros com títulos de o maior Plano Safra da história, ponderou outra liderança do setor. Parte do setor alega ainda baixa participação nas discussões e conhecimento da política de crédito rural, com detalhamento de números importantes, apenas pela imprensa. As condicionantes sobre as quais o Plano Safra foi construído, contudo, eram de conhecimento do setor: Selic elevada, contenção orçamentária e pressão de renegociações sobre fontes tradicionais de recursos. Para um parlamentar, conhecido pelas posições equilibradas, faltou "mais tato" do governo ao conduzir a discussão, mostrar as dificuldades e chamar o setor "para dentro".
Algumas entidades poupam o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, das críticas. É uma decisão política que não depende apenas dele. Era a oportunidade de o governo mostrar que prioriza o fortalecimento do agro e que o vê como setor estratégico, pontuou outro representante do setor produtivo. Outras afirmam que a relação com o próprio Ministério da Agricultura ficou insustentável após a "briga pela paternidade" do reconhecimento do Brasil pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) de país livre de febre aftosa, cerimônia que deixou de fora algumas representações ligadas aos produtores. Presidente de uma entidade de classe reconhece que o valor do Plano Safra ficou dentro do esperado e que o setor já amargou juros elevados, chegando a 12,5%, também na gestão Bolsonaro. Talvez se fosse governo Bolsonaro a repercussão aos mesmos números teria sido diferente. Mas o tratamento dispensado ao setor também era outro e vai além do Plano Safra. O discurso do governo Lula é de que patrocina o agro e não de que a economia precisa do agro para crescer.
Parcela de representantes do setor foi além das queixas e críticas quanto às condições de financiamentos ofertadas pelo Executivo e passou a contestar as cifras anunciadas. Algumas lideranças, em especial da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), acusam o governo de maquiagem dos números do Plano Safra. "É um debate que está fugindo da razoabilidade e do pragmatismo com o qual a política de crédito sempre foi tratada", resumiu um ex-ministro. Do lado do governo, interlocutores apontam que a polarização já era esperada. Tudo está polarizado e o debate quanto à elevação do IOF contaminou o ambiente como um todo. Não seria o Plano Safra que ficaria ileso dessa animosidade, observa um experiente político que acompanha de perto as tratativas do agro com o Executivo. Também se soma à equação a cruzada recente do Ministério da Fazenda sobre renúncias fiscais do Executivo, apontando o agronegócio como um dos setores mais privilegiados e com um dos maiores subsídios de tributos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.