07/Jul/2025
Segundo a CEO da COP30, Ana Toni, “as coisas andaram”, ao fazer um balanço das negociações realizadas em Bonn, na Alemanha, uma espécie de evento técnico preparatório para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que ocorrerá em novembro, em Belém (PA). Essa escala inicial, realizada na cidade onde fica a sede da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, a UNFCCC, serve, ou pelo menos deveria servir, para negociar, ajustar e aperfeiçoar textos a serem enviados para mais debates ou para decisão final da COP. É, portanto, um bom prenúncio do que virá e, mais do que isso, o que exigirá de esforço entre os países participantes e a presidência da conferência até chegar a Belém.
O que se viu em Bonn deixa muito claro: não haverá vida fácil até novembro, uma previsão que, se não chega a ser sombria, mas distante do prognóstico positivos que o presidente Lula dá à COP-30. Reconhecendo o contexto internacional adverso, os negociadores brasileiros destacaram o avanço registrado em Bonn das discussões em temas que a presidência do Brasil na COP30 considera prioridade, como adaptação climática, a chamada transição justa (que prevê que esse processo seja feito de forma que os países pobres não sejam prejudicados) e o fim dos combustíveis fósseis. O “nó górdio ainda a ser desatado”, no entanto, tem nome certo: financiamento.
Mesmo fora das prioridades de Bonn, as negociações sobre o financiamento climático estiveram presentes em agendas paralelas, o que tornou possível a apresentação da proposta do chamado “Roteiro de Baku a Belém”, itinerário com o qual o Brasil trabalha para viabilizar US$ 1,3 trilhão em fluxos financeiros globais. Segundo a rede Latin American Climate Lawyers Initiative for Mobilizing Action (Laclima), formada por advogados que participaram das negociações, há frustração com a falta de clareza sobre os próximos passos (financiamento e desdobramentos do Roteiro de Baku a Belém).
Na COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, um intenso processo de negociação terminou com um acordo de apenas US$ 300 bilhões a serem financiados pelos países desenvolvidos para promover soluções climáticas nos países pobres. Trata-se de um valor, portanto, muito aquém do patamar considerado necessário para viabilizar ações de mitigação, adaptação e compensações por perdas e danos. O presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago costuma dizer que será “COP da implementação”. Mas, sem financiamento climático não há ambição, muito menos implementação. E é aí que mora o perigo, o ponto de alerta. É preciso mais realismo. A timidez da COP29 deixou sobre Belém tarefas gigantescas a cumprir.
Uma delas é resgatar a credibilidade das negociações climáticas, em parte desmoralizadas pela implementação lenta da UNFCCC e do Acordo de Paris. Outra é resolver o que a anterior não foi capaz, o que inclui aperfeiçoar os mecanismos de financiamento climático, dar um passo adiante para os indicadores que nortearão os planos nacionais de adaptação à mudança do clima e, claro, discutir se as metas, em seu conjunto, são compatíveis com o objetivo de conter o aquecimento global. São desafios nada triviais que, como tal, desabonam triunfalismos antecipados e exigirão até lá uma complexa combinação entre realismo e ambição. Desse equilíbrio pode resultar o sucesso ou o fracasso da COP no Brasil. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.