03/Jul/2025
Na avaliação do sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, o Plano Safra 2025/2026 representa um recuo em termos reais para o financiamento agropecuário, com queda no custo efetivo ao Tesouro e aumento generalizado das taxas de juros. Em relatório técnico, ele alerta que, embora o governo tenha anunciado R$ 516,2 bilhões em crédito para a agricultura empresarial, apenas R$ 400,59 bilhões serão efetivamente equalizados, e o custo fiscal será de R$ 13,5 bilhões, 17,5% menor que o da safra passada. "Os R$ 8 bilhões a mais no orçamento não compensam a inflação de 5,3%, gerando perda de poder real de financiamento", afirmou Cogo.
Segundo ele, do total anunciado, R$ 185 bilhões virão via CPRs lastreadas em LCAs, com taxas de mercado, o que eleva os custos ao produtor. O montante se divide em R$ 414,7 bilhões para custeio e R$ 101,5 bilhões para investimentos, estes últimos com retração de 5,4% ante o ciclo anterior. Na agricultura familiar, o consultor também apontou recuo real. "Ao descontar a inflação acumulada no período, de 5,3%, o Plano é menor que os R$ 76 bilhões anunciados para 2024/2025", disse. Apesar do valor recorde de R$ 78,2 bilhões no Pronaf, os recursos equalizados caíram de R$ 45,4 bilhões para R$ 43,4 bilhões. "Quem produz commodities, como soja e boi gordo, pagará 8% ao ano na linha de custeio."
Cogo classificou o aumento das taxas de juros como o principal entrave da nova edição do Plano. "Custeio geral chega a 14% ao ano, com alta de até 2%. O Pronamp passou de 8% para 10%. Os investimentos chegam a 13,5%. Mesmo programas sustentáveis, como o RenovAgro, sofreram aumento nas alíquotas", detalhou. Ele alertou que linhas estratégicas, como o Moderfrota e o Prodecoop, ficaram menos acessíveis. "Essas operações podem se tornar inviáveis, especialmente para produtores com menor margem ou cooperativas em expansão." O relatório também criticou a manutenção dos tetos de financiamento individual na maioria das linhas, à exceção do Inovagro e do PCA.
“Isso reduz a capacidade de investimento proporcional ao tamanho e à necessidade das propriedades”, disse. Segundo ele, a simplificação no acesso ao crédito com a unificação das linhas Moderagro e Inovagro é positiva, com limite dobrado de financiamento, de até R$ 4 milhões. Entre os aspectos operacionais, Cogo destacou possíveis entraves decorrentes da obrigatoriedade imediata do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) em operações acima de R$ 200 mil. "Apesar de técnica e necessária, essa exigência pode gerar dificuldades, especialmente em regiões com zoneamento ainda limitado ou defasado." No caso da agricultura familiar, o relatório reconheceu medidas relevantes.
"A linha de investimentos para compra de máquinas de pequeno porte seguirá com juros de 2,5%, e o limite foi ampliado de R$ 50 mil para R$ 100 mil para famílias com renda anual de até R$ 150 mil." Para equipamentos de maior porte, "colheitadeiras, tratores e implementos de até R$ 250 mil poderão ser adquiridos com juros de 5% ao ano". Cogo também destacou os incentivos mantidos para produções sustentáveis no Pronaf, com juros de 2% ao ano para orgânicos, agroecologia e bioeconomia, e de 3% para arroz, feijão, leite e ovos. Apesar dos avanços pontuais, o consultor avaliou que o Plano falha em ampliar o acesso à modernização tecnológica. "O plano avança pouco em mecanismos de financiamento para tecnologias digitais, conectividade, IoT ou adaptação climática além do Zarc e do RenovAgro", concluiu. Fonte: Broadcast Agro.