03/Jul/2025
Um dia após o lançamento do Plano Safra 2025/2026 pelo governo federal, o Sicredi anunciou que pretende liberar R$ 68 bilhões em crédito rural durante o ciclo, o que representa um aumento de 10% sobre os R$ 61,9 bilhões aplicados na temporada 2024/2025. Segundo o líder nacional de Agronegócio do Sicredi, Vitor Moraes, o resultado reflete a combinação entre perspectiva de safra cheia, diversificação das linhas de financiamento e maior aderência da base de cooperados a soluções como a Cédula do Produto Rural (CPR) e o crédito dolarizado. “O Sicredi encerra mais uma safra recorde e projeta nova expansão. Nosso objetivo é continuar fortalecendo o relacionamento com os associados e entregar soluções ajustadas às necessidades de cada perfil de produtor”, afirmou Moraes em apresentação interna a parceiros. A CPR, que é um título que permite ao produtor antecipar recursos mediante promessa de entrega futura de produtos agropecuários, respondeu por R$ 18,8 bilhões em 2024/2025 e deve atingir R$ 24,6 bilhões na safra atual, alta de 30%.
O diretor executivo de Negócios, Crédito e Produtos do Sicredi, Gustavo de Castro Freitas, destacou que o avanço das CPRs se deve à agilidade e flexibilidade da operação. “O produtor tem usado cada vez mais esse mecanismo de giro. A CPR oferece menos burocracia e maior aderência à dinâmica do campo, principalmente quando há necessidade rápida de liquidez”, afirmou. Outro instrumento que ganha força na carteira da cooperativa são as linhas de crédito atreladas ao dólar, voltadas exclusivamente a produtores com receita em moeda estrangeira. Em 2024/2025, o Sicredi desembolsou R$ 4 bilhões nessas linhas. Para 2025/2026, a expectativa é de crescimento de 21%, com liberação de R$ 4,9 bilhões. “A linha opera com taxa equivalente a 65% a 70% da taxa básica de juros, a Selic, o que a torna mais atrativa para produtores exportadores que têm um hedge natural, pois recebem e gastam em dólar”, explicou Freitas. Do total financiado na safra passada, R$ 12,2 bilhões foram direcionados à agricultura familiar, R$ 13,9 bilhões a médios produtores e R$ 13 bilhões a grandes.
Moraes explicou que o Sicredi busca atender todos os perfis com equilíbrio, mantendo proximidade com os mais de 9 milhões de associados. A carteira total de crédito agro do Sicredi soma R$ 102 bilhões, chegando a R$ 109 bilhões ao incluir as linhas dolarizadas, segundo critérios internos. A instituição, que é a maior cooperativa financeira privada do País em crédito rural, possui 103 cooperativas, 2,9 mil pontos de atendimento e presença em todos os estados e no Distrito Federal, com atuação exclusiva em mais de 200 municípios. Entre as fontes de repasse, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) permanece como o principal agente. Em 2024, foram liberados R$ 12,2 bilhões, dos quais R$ 8,4 bilhões foram destinados ao agronegócio. Para 2025/2026, o Sicredi prevê aplicar R$ 9,5 bilhões em crédito rural com recursos do BNDES. Também projeta R$ 1,73 bilhão de repasses de fundos constitucionais: o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) e o Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO).
Segundo o Sicredi, a cooperativa foi responsável por 82% do volume do FCO e 50% do FNO operado pelo sistema cooperativo nacional na última safra. O consórcio rural também tem ganhado espaço como alternativa de financiamento. Entre julho de 2024 e junho de 2025, o Sicredi registrou R$ 33,7 bilhões em vendas no agro por meio de consórcios, alta de 23% na comparação anual. Moraes destacou que o instrumento tem custo competitivo e aceitação crescente. “Trata-se de um produto que oferece taxa média de administração de cerca de 9% ao ano, com flexibilidade e potencial de planejamento de médio prazo”, disse. Na agenda de sustentabilidade, o Sicredi informou que a carteira de crédito verde alcança R$ 58,2 bilhões, sendo 61% em operações vinculadas ao setor agropecuário. Os maiores volumes estão relacionados à agricultura familiar (R$ 17,7 bilhões), agricultura de baixo carbono (R$ 8 bilhões) e crédito rural voltado a mulheres (R$ 6,6 bilhões). “Quase um quarto dos produtores associados ao Sicredi são mulheres, número acima da média nacional”, observou Moraes.
A instituição também investe em inovação digital para ampliar a capilaridade do crédito. A ferramenta DigiAgro, que funciona online e offline, permite a contratação de operações diretamente em feiras e propriedades. Segundo o Sicredi, o sistema foi utilizado em mais de 70 eventos agropecuários em 2024 e intermediou cerca de R$ 2 bilhões em propostas de crédito, com mais de 6 mil contratos iniciados. Com a expectativa de safra cheia e múltiplas fontes de financiamento, Moraes reforçou a estratégia da cooperativa. “Nossa meta é manter o ritmo de expansão, diversificar os canais e oferecer soluções que combinem agilidade com segurança. Seguimos colocando o associado no centro das decisões, com proximidade e flexibilidade”, concluiu. O Sicredi avaliou que houve amadurecimento na execução da política agrícola por parte do governo federal, mas alertou para a possibilidade de novos contingenciamentos ao longo do Plano Safra 2025/2026, diante das incertezas fiscais e do histórico recente de bloqueios.
O diretor executivo de Crédito do Sicredi, Gustavo Freitas, destacou que a atual gestão já compreende melhor os limites e impactos de suas intervenções, o que pode garantir maior fluidez na liberação dos recursos equalizados. "É a terceira safra sob a mesma gestão e já existe um entendimento maior de onde o governo deve ou não intervir", afirmou Freitas. Para ele, o plano atual tende a apresentar menos mudanças operacionais do que os anteriores, que impuseram ao setor adaptações constantes no modelo de execução orçamentária. "Antes era trimestral, agora temos um teto semestral. Isso ajuda a prever e organizar a atuação", acrescentou. Freitas ressaltou que o plano anunciado nesta semana já trouxe, pela primeira vez, uma noção mais clara sobre os juros que devem vigorar durante o ciclo. "No passado, a taxa era 10,5% com expectativa de queda, depois estava em 9% e ninguém sabia para onde ia. Agora, temos certeza de que os juros serão altos", disse. Apesar disso, ele avaliou como significativa a preocupação das entidades com a execução dos recursos.
"Não adianta só planejar bem. O setor quer ter certeza de que o que foi programado será cumprido ao longo do ano", afirmou. Segundo o executivo, o histórico de paralisações por contingenciamento ainda é recente e recorrente: "Tivemos isso nas últimas cinco ou seis safras. As entidades estão fazendo seu papel ao cobrar previsibilidade." Freitas disse, ainda, que o risco de novas paralisações não está afastado, especialmente em um ambiente político instável e com o governo enfrentando entraves no Congresso e no Supremo Tribunal Federal (STF). "A discussão sobre o IOF é só um exemplo. Ainda temos uma eleição em 2026 e um cenário fiscal complexo. A chance de ter contingenciamento existe, sim", afirmou. Segundo o executivo, a mudança no modelo de execução dos recursos, adotada a partir de 2023, gerou atritos e dificultou a fluidez do crédito. "Qualquer mudança na forma como o recurso é operado causa algum atrito na ponta.
Passamos a ter tetos trimestrais ou semestrais, redirecionamentos de recursos entre regiões e novas formas de leilão", explicou. Ele citou a paralisação ocorrida recentemente, quando o crédito foi suspenso durante semanas em virtude de remanejamentos orçamentários, o que trouxe instabilidade ao setor. "Não foi bom. Passamos um mês nessa discussão entre governo e Congresso, sem solução. Isso precisa ser evitado." Apesar dos alertas, o Sicredi considera o plano safra atual positivo. Freitas disse que a instituição está pronta para operar as linhas com agilidade, respeitando os limites e prazos estabelecidos. "Se houver contingência, que seja mínima e breve. O importante é retomar logo, discutir o que for necessário e seguir operando." Para ele, o setor já assimilou que eventuais interrupções são possíveis, mas espera que o diálogo prevaleça. "Estamos acostumados a lidar com isso, mas queremos o mínimo possível. O País atravessa um momento institucional delicado, e o crédito rural precisa ser tratado como política prioritária", concluiu.
Apenas 35% da carteira de custeio agrícola operada pelo Sicredi na safra 2024/2025 teve juros equalizados pelo Tesouro Nacional. A maior parte das operações foi financiada com funding próprio, como Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), poupança rural e depósitos à vista, segundo Gustavo Freitas. Para o ciclo 2025/2026, a tendência é de manutenção dessa estrutura, com predominância de recursos livres e repasses diretos, mesmo com as novas regras de exigibilidade para depósitos à vista. “A principal fonte é a LCA, depois poupança rural e, em seguida, o depósito à vista. A equalização responde por cerca de um terço do total em custeio. O resto é recurso nosso mesmo, sem subvenção”, afirmou Freitas durante coletiva com jornalistas, em São Paulo (SP). O Sicredi projeta liberar R$ 68 bilhões em crédito rural na nova safra, ante R$ 61,9 bilhões em 2024/2025. A divisão dos R$ 68 bilhões prevista para 2025/2026 inclui R$ 24,3 bilhões em custeio, R$ 12,5 bilhões em investimentos e R$ 1,7 bilhão em comercialização e industrialização.
Além disso, outros R$ 24,6 bilhões devem ser liberados via Cédulas de Produto Rural (CPR), que não dependem de recursos equalizados. Segundo Freitas, o uso de recursos próprios permite ao Sicredi continuar operando mesmo em cenários de contingenciamento ou suspensão temporária de repasses equalizados. “A carteira não depende só do Plano Safra (do governo). A gente consegue continuar operando mesmo quando há travas, porque temos base sólida de captação própria”, afirmou. No caso dos investimentos, como as linhas do BNDES (Moderfrota, Inovagro e outras), o peso da equalização é maior. “Essas operações têm prazos mais longos e exigem alguma compensação de taxa. A estimativa é de que até 80% do volume em investimentos venha com equalização”, disse. Sobre a nova exigência do Conselho Monetário Nacional (CMN) para direcionamento obrigatório dos depósitos à vista ao crédito rural, Freitas avaliou que a medida teve impacto marginal sobre a cooperativa.
“No nosso caso, já vínhamos aplicando praticamente 100% dos depósitos à vista no agro, especialmente no Pronaf. A regra apenas formalizou o que já fazíamos”, explicou. Ele acrescentou que o Sicredi foi, no último ciclo, o maior tomador do País em MCR 6.2 (recursos obrigatórios de bancos direcionados ao crédito rural). Com 103 cooperativas filiadas e presença em todos os Estados e no Distrito Federal, o Sicredi afirma ser a maior instituição financeira privada em crédito rural no Brasil. Segundo Freitas, cerca de 70% das operações da cooperativa são destinadas a pequenos e médios produtores, o que reforça a importância de funding com custo acessível e estabilidade de fluxo. O Sicredi vai liberar R$ 68 bilhões para o Plano Safra 2025/2026, um aumento de 10% em relação aos R$ 61,9 bilhões concedidos no ciclo anterior, 2024/2025. O crescimento reflete a expectativa de manutenção ou ampliação da área plantada e, principalmente, o aumento moderado dos custos de produção, puxado pela alta nos preços de insumos, sobretudo fertilizantes.
Gustavo Freitas, explica que a demanda por financiamento neste ciclo tem duas causas principais: "A gente vê tanto um produtor mais ávido por crédito, que busca financiamento para expandir ou manter a safra, quanto o impacto do aumento do custo do crédito, com juros mais altos e insumos mais caros. São fatores que andam juntos." Segundo Freitas, o custo total para plantar a mesma área de 2024/25 deve subir. No entanto, o aumento não será “dramático”, mas suficiente para motivar maior procura por recursos financeiros. "Os fertilizantes, especialmente a ureia, tiveram aumento recente e isso pesa no orçamento do produtor. Estamos projetando que a safra será cerca de 10% maior em termos de crédito contratado, o que já considera essa elevação nos custos". O diretor executivo afirma que o cenário climático mais favorável também deve contribuir para a demanda por crédito, com menor risco de eventos extremos como secas severas ou enchentes. "Isso gera um otimismo que se reflete na intenção do produtor de investir na safra e, consequentemente, buscar mais crédito para custeio e investimento". Fonte: Broadcast Agro.