03/Jul/2025
Após não conseguirem fechar um acordo comercial com o Japão depois de semanas de negociações, o Secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, decidiram aumentar a pressão. Quando representantes do Japão foram a Washington no final de maio, Lutnick e Greer os alertaram que se as duas partes não conseguissem chegar a um acordo em breve, as conversas poderiam começar a migrar de um alívio nas tarifas, que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia imposto recentemente, para medidas punitivas adicionais. Os norte-americanos poderiam exigir um limite no número de veículos que o Japão exportaria para os Estados Unidos, uma política conhecida como restrição voluntária de exportação. Mas, o Japão manteve sua posição. Desde o início, o Japão disse aos Estados Unidos que não concordaria com nenhum acordo que mantivesse a tarifa de 25% sobre automóveis. Esse impasse continua. Na segunda-feira (30/06), Trump pareceu encerrar as negociações com o Japão.
O Japão "não aceitará nosso arroz, e ainda assim eles têm uma enorme escassez de arroz", postou Trump em rede social, apesar de o Japão importar centenas de milhares de toneladas de arroz dos Estados Unidos anualmente sob um acordo da Organização Mundial do Comércio (OMC). Trump acrescentou que "nós apenas enviaremos uma carta a eles", uma referência às suas repetidas promessas de ditar aos parceiros comerciais o que eles teriam que pagar aos Estados Unidos. Em uma entrevista à Fox News no dia anterior, Trump sugeriu o que tal carta ao Japão poderia dizer: "Caro Sr. Japão, aqui está a história: você vai pagar uma tarifa de 25% sobre seus carros, sabe? Então, nós não damos carros ao Japão. Eles não aceitam nossos carros." Depois de impor o que chamou de "tarifas recíprocas" a dezenas de países, no que Trump chamou de "Dia da Libertação", e depois suspendê-las, o governo norte-americano prometeu fechar uma série de acordos comerciais antes de 9 de julho. O impasse com o Japão mostra o quão difícil isso está se tornando.
Representantes do governo que tentam negociar múltiplos acordos se contradizem sobre objetivos e prazos em certas ocasiões, e Trump complicou ainda mais a situação com ameaças de enviar cartas. Acrescenta-se à incerteza uma audiência de apelação na Justiça, marcada para o final de julho, sobre a legalidade da autoridade emergencial que Trump evocou para impor as chamadas tarifas recíprocas. Até mesmo o prazo das tarifas está em dúvida. No dia 27 de julho, após o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, indicar que alguns países poderiam obter uma extensão do prazo, Trump adicionou mais incerteza. "Podemos fazer o que quisermos", disse ele em entrevista coletiva. "Podemos estender, podemos encurtar. Eu gostaria de encurtar." Na terça-feira (1º/07), Trump disse que "não está pensando" em estender o prazo. A situação caótica deixou o Japão e outros países perplexos, sem saber o que o governo norte-americano quer ou quando. Até agora, o governo fechou apenas um acordo comercial limitado com o Reino Unido e firmou uma trégua tarifária com a China.
Pairando sobre todo o processo está a promessa anterior de Donald Trump de restaurar as tarifas do Dia da Libertação para países que não fecharem acordos, potencialmente desencadeando outra rodada de caos no mercado. Segundo o governo norte-americano, segue o trabalha com os parceiros comerciais para renegociar acordos desequilibrados que deixaram indústrias e trabalhadores dos Estados Unidos “para trás". O senador Kevin Cramer (Republicano), um aliado próximo de Trump que disse ter discutido as negociações com Greer, afirmou que os acordos podem levar mais tempo do que o governo deixou transparecer. "Talvez eles tenham estabelecido uma expectativa um pouco ambiciosa", afirmou. Em abril, Peter Navarro, conselheiro sênior de comércio e indústria de Trump, disse que o governo poderia fechar 90 acordos em 90 dias. Depois que os Estados Unidos fecharam o acordo limitado com o Reino Unido no início de maio, Trump disse acreditar que os acordos começariam a fluir rapidamente. Funcionários do governo se voltaram ao Japão para manter o ímpeto.
O Japão havia assinado um acordo comercial com os Estados Unidos durante o primeiro mandato de Donald Trump. Representantes dos Estados Unidos acreditavam que o Japão tinha um incentivo para chegar a um acordo: um acordo favorável poderia fortalecer o governo minoritário do primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba. Os Estados Unidos complicaram sua posição de negociação com o Japão e outros países ao aumentar as tarifas à medida que as negociações progrediam, como em junho, quando Donald Trump dobrou as tarifas globais de aço sem aviso prévio para os parceiros comerciais. Outras tarifas chamadas de "segurança nacional", sobre produtos como madeira, semicondutores e minerais críticos, permanecem em processo de planejamento, fazendo com que algumas nações hesitem em fechar acordos antes que sejam reveladas. A abordagem belicosa do governo também se tornou um tema político em alguns países com os quais estava negociando, encorajando a resistência aos Estados Unidos em vez da cooperação.
"Às vezes esquecemos que outros países também têm política, e o comércio tem uma maneira de estimular a política doméstica por causa dos efeitos diretos e indiretos que tem em eleitorados específicos", disse Michael Froman, representante de comércio dos Estados Unidos sob o ex-presidente Barack Obama e atual presidente do Conselho de Relações Exteriores. Desde que Trump pausou as tarifas recíprocas em 9 de abril, o líder da equipe de negociação do Japão, o Ministro da Revitalização Econômica, Ryosei Akazawa, visitou Washington sete vezes. Sua equipe tem estado em contato quase constante com assessores de Bessent e Greer, que estão liderando as negociações dos Estados Unidos junto com Lutnick. As tarifas recíprocas de Trump para o Japão haviam sido fixadas em 24% antes da pausa, bem acima das tarifas médias de aproximadamente 1,5% que estavam em vigor, de acordo com a distrital do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Richmond, na Virgínia.
Além de buscar uma redução dessas tarifas, os japoneses disseram repetidamente que não podem concordar com nenhum acordo que não reduza as tarifas específicas da indústria, particularmente depois que o Reino Unido recebeu algum alívio nas tarifas de aço e automóveis. Em junho, após outra rodada de negociações, Akazawa disse que todas as taxas dos Estados Unidos devem ser reduzidas em qualquer acordo. Privadamente, alguns representantes japoneses temem que um acordo que não reduza ou elimine tanto as tarifas recíprocas quanto as tarifas específicas da indústria possa ser recebido tão mal no Japão que possa derrubar o governo Ishiba, que enfrenta uma eleição de alto risco para a câmara alta do parlamento japonês em 20 de julho. Qualquer acordo que reduza as proteções japonesas para sua valiosa produção doméstica de arroz também poderia significar problemas eleitorais para o governo Ishiba. Em junho, o primeiro-ministro Ishiba foi ao Canadá para a cúpula de líderes do G7 na esperança de forçar um compromisso, mas uma reunião entre Trump e ele não resultou em avanços.
"Ainda há pontos onde nossas opiniões permanecem divididas", disse Ishiba. "Automóveis são um grande interesse nacional e continuaremos a fazer tudo o que pudermos para proteger tais interesses", concluiu. Um parlamentar sênior do Partido Liberal Democrático, que governa o Japão, disse que alguns dos colaboradores de Ishiba estão argumentando que ele deve manter sua demanda por alívio tarifário na esperança de que Donald Trump recue, talvez se os mercados financeiros ficarem instáveis à medida que o fim da pausa de 90 dias das tarifas se aproxima. Um alto funcionário do governo Trump afirmou que os conselheiros do presidente discutiram a possibilidade de implementar mais tarifas sobre o Japão se um acordo não puder ser alcançado. As duas partes parecem permanecer distantes em questões-chave como as tarifas automotivas. Até o final de junho, os dois países ainda não haviam decidido se algum acordo incluiria essas tarifas ou se focaria apenas nas tarifas recíprocas.
Um funcionário do gabinete de Greer disse ao The Wall Street Journal que o governo está priorizando negociações com parceiros comerciais que apresentaram ofertas mais sérias do que o Japão. O Canadá e os Estados Unidos ainda não chegaram a um acordo depois que Donald Trump dobrou as tarifas sobre a indústria de aço do país vizinho sem aviso prévio em junho. Um funcionário do governo dos Estados Unidos com conhecimento da reunião entre Trump e o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, durante o G7, disse que cada equipe tem mais trabalho a fazer para chegar perto de um acordo, com diferenças que vão desde o imposto sobre serviços digitais do Canadá até suas tarifas sobre produtos lácteos. No dia 27 de junho, Trump disse que cortou as negociações com o governo canadense e que notificaria a nação dentro de uma semana sobre as tarifas que imporia. Depois que os representantes canadenses descartaram no domingo (29/06), um plano para implementar o imposto sobre serviços digitais, os dois países anunciaram que reiniciariam as negociações.
Os Estados Unidos e a Coreia do Sul estão redobrando os esforços de negociação após um novo governo assumir o poder no país no mês passado. A Coreia do Sul quer alívio das tarifas sobre automóveis, aço e alumínio. Suas propostas de regras sobre empresas de comércio eletrônico dos Estados Unidos que fazem negócios na Coreia do Sul irritaram Greer e empresas norte-americanas como Google e Coupang, complicando ainda mais as negociações. Negociadores dos Estados Unidos levantaram a questão do comércio digital com o novo negociador comercial da Coreia do Sul, Yeo Han-koo, quando ele visitou Washington no final de junho, mas um acordo não é iminente. Em outras partes da Ásia, os Estados Unidos estão exigindo que as nações adotem uma linha dura contra a China. O governo batalha para finalizar pacto com o Camboja. Os Estados Unidos querem que as nações do Sudeste Asiático em particular impeçam a China de enviar mercadorias para os Estados Unidos através destes países, que impeçam as empresas chinesas de estabelecer operações de produção e exportação em seus países, e que estabeleçam suas próprias tarifas e restrições comerciais sobre produtos chineses.
Muitas dessas nações estão relutantes em serem forçadas a escolher entre os Estados Unidos e a China, tornando qualquer acordo sobre essas questões improvável no curto prazo. Uma autoridade asiática da área econômica disse que as demandas dos Estados Unidos seriam difíceis de atender, dado que as economias dependentes das exportações na região estão tão ligadas aos Estados Unidos como à China. O governo norte-americano parece ter feito progressos com a União Europeia, mas considerações políticas locais no continente europeu ameaçam prejudicar os objetivos de Donald Trump. Após o The Wall Street Journal relatar um rascunho de "acordo sobre comércio recíproco" estabelecendo possíveis concessões da União Europeia em uma série de questões, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reagiu dizendo que certos tópicos de leis da União Europeia são "absolutamente intocáveis".
Ela disse que os dois lados discutiram linhas tarifárias, barreiras não tarifárias, como padrões e normas, e compras que a União Europeia poderia fazer. "Mas no que afeta o processo de tomada de decisão soberana da União Europeia e de seus estados membros que é afetado, isso é ir longe demais", afirmou ela. Até mesmo alguns republicanos estão ficando frustrados com a estratégia de negociação dos governo norte-americano. Durante uma recente audiência do Comitê de Apropriações do Senado, o senador John Kennedy (Republicano) perguntou: "Você está ou não buscando reciprocidade?", quando Lutnick disse que não concordaria com um acordo hipotético com o Vietnã que cancelaria todas as tarifas e barreiras comerciais em ambos os países. Kennedy disse mais tarde: "Eu estava mais confuso após a audiência do que antes sobre a estratégia de negociação deles aqui." Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.